Cirurgia de redução de estomago, de obesidade, metabólica ou bariátrica. Todos esses nomes se referem ao mesmo procedimento que tem se tornado cada vez mais popular. Entre as melhorias ocasionadas pela cirurgia está a modificação do funcionamento do pâncreas, do sistema de regulação das gorduras (colesterol, triglicerídios), respiração e articulação. Cada vez mais pessoas têm a vida completamente mudada com esta alternativa.
A empresária, do ramo de docerias, Zely Pimentel, de 47 anos, fez a operação de obesidade. Antes disso, Pimentel pesquisou e conversou com quem já tinha feito. “Tive que me preparar pois sabia que minha vida ia mudar radicalmente”, comenta. Na época do procedimento, em dezembro de 2011, ela pesava 108 kg e tinha problemas de diabetes. Pimentel mal podia andar. Não conseguia ir ao supermercado na esquina de sua casa sem se sentir exausta.
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Ela tentou todos os tipos de dieta e ginástica, até buscar a intervenção cirúrgica. “Eu decidi quando vi as fotos do baile de formatura da minha filha. Eu, minha filha e a madrinha na foto... eu era do tamanho das duas”, lembra. Hoje, pesando 62kg, com uma alimentação totalmente reeducada, Zely Pimentel comemora: “Eu faria tudo de novo, pois tive minha vida de volta”.
Outra pessoa que aprovou o procedimento médico que recebeu foi a jornalista Mariana Silveira , de 24 anos, operada no dia 3 de janeiro de 2011. Na época ela estava com obesidade mórbida nível 3, com 114 kg e 1,62m de altura. “Eu tentei academia, nutricionista e medicamentos, mas meu problema era emocional. Se eu estava muito feliz descontava na comida, se estava triste, também. Eu sofria muito preconceito na rua, as pessoas me olhavam diferente. Eu percebia os olhares numa entrevista de emprego, no ônibus... por ser gorda eu também não tinha oportunidades”, confessa a jornalista. Atualmente, com 60 kg, Silveira se sente cheia com ingestão de pouca comida e precisa tomar vitamina diariamente, mas não se queixa. “Valeu a pena, eu faria de novo e indico fazerem”, diz.
Mas toda cirurgia tem riscos, que podem se minimizados ou mesmo aumentados, dependendo da situação. No dia 2 de novembro de 2013, a empresária Fernanda Patrícia Nóbrega morreu de embolia pulmonar após fazer a cirurgia bariátrica. A vítima, de 26 anos, não possuía doença que necessitasse intervenção cirúrgica e, com 80kg, precisou engordar mais 10 para fazer a operação pelo plano de saúde, por questões de estética. O caso de Fernanda acabou trazendo esta discussão: a cirurgia bariátrica é também um procedimento estético?
Para o cirurgião do Hospital Universitário Oswaldo Cruz e Presidente da Sociedade de Cirurgia de Obesidade em Pernambuco, Dr. Pedro Cavalcanti, a resposta é “não”. O cirurgião já tem uma frase que costuma dizer para os pacientes que querem seu auxílio por estética: “Eu não digo que a pessoa não é gorda o suficiente para se operar, pois isso pode fazê-la comer compulsivamente. Eu digo: você não tem doença suficiente para se operar”.
Entretanto, Cavalcanti lembra outro viés da questão estética que seria operável. “Se a estética está correlacionada com a exclusão social, a pessoa está perdendo a vida”.
Quando indagado se o papel de trabalhar a aceitação física do individuo seria de um psicólogo e não de um cirurgião, ele comenta: “Tem que começar pelo psicólogo, mas o sujeito com 50 quilos a mais, não tem doença por ser jovem, mas também não consegue perder peso. As quatro linhas do tratamento clínico, dieta, atividade física, medicamento e psicoterapia, resolvem apenas 5% do problema. Ainda não dá para abrir mão da cirurgia”. O especialista destaca, entretanto, que pedir para a pessoa engordar para poder fazer a cirurgião também é contra a lei.
É proibido fazer a operação unicamente por estética. O médico explica que nos casos supracitados, apesar da presença da questão estética, a obesidade é o motivo pelo qual os pacientes são cirurgiados, pois quando o Índice de Massa Corportal (IMC) é maior que 40* significa que o paciente possui obesidade mórbida. O cirurgião destaca, porém, que há uma necessidade de uma melhor matemática para esses cálculos, pois dependendo da altura da pessoa, o resultado pode ficar impreciso.
O estudante de engenharia Guilherme França, de 19 anos, fez a cirurgia metabólica em abril de 2012. Ele não pensou muito. Sentindo-se obeso e com a data de início da faculdade próxima de começar, não tentou nenhuma das quatro linhas do tratamento clínico, decidindo fazer primeiramente a operação. Guilherme França perdeu mais de 62 quilos e hoje está pesando 58kg. O estudante ainda se sente muito fraco, não consegue correr sem se cansar rapidamente nem levantar muito peso.
Após o processo, ele adquiriu pressão e glicose baixas, tendo que andar com recipientes de sal e açúcar, e se fica muito tempo sem comer começa a passar mal. “Eu nunca imaginei que ia me sentir assim, mas com toda certeza eu faria de novo. As pessoas olham para mim diferente agora, antes eu sentia que me evitavam. Algumas pessoas falam que ser gordo é bom, mas não é, é mentira. Ser gordo é muito ruim. Hoje eu tenho outra vida e um corpo decente”, comenta.
O Dr. Gustavo Menelau, responsável pela cirurgia de Fernanda Patrícia Nóbrega, foi indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) por negligência. Uma sindicância foi aberta no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) para apurar o caso, e pode cancelar o registro médico de Menelau.
Para o Dr. Pedro Cavalcanti, faltou dedicação de Menelau. “Se algo semelhante ocorre comigo, cancelo minha vida e me interno com o paciente. Mesmo que a paciente morresse, não haveria toda essa repercussão se ele agisse assim. Isto é falta de vontade de querer parar a vida”, comenta. De acordo com o Dr. Pedro, mesmo que o colega de profissão seja inocentado, a carreira dele já está comprometida.
A jornalista Rosineide Oliveira, tia de Fernanda, usa o Facebook para explanar toda sua indignação com o caso. Em entrevista, ela esclareceu que a família era contra a cirurgia, a decisão da sobrinha foi precipitada e que conversas no aplicativo para smartphone WhatsApp registraram diálogos da vitima com um médico. Na conversa, Fernanda informava não haver conseguido um laudo de um endocrinologista. O médico, então, passou o contato de Menelau, além de confirmar que diria ao cirurgião ser o responsável pela indicação. “Até hoje esse o cirurgião não procurou a família, nem para explicar o que aconteceu, nem para dar uma satisfação”, lamenta Rosineide que conclui: “Eu espero a punição”.
Entre os riscos que a intervenção cirúrgica oferece está a embolia pulmonar, que é o mais temido, e a necessidade de reoperar por obstrução de vias e vazamento dos grampeamentos que emendam o instestino com o estomâgo, que é o mais frequente. A cirurgia bariátrica é hoje um objeto de pesquisa para o desenvolvimento de drogas contra a obesidade. 1% da população mundial está em situação de obesidade grave e não há condições deste procedimento resolver todos os casos.
*O Índice de Massa Corporal (IMC) é a principal forma de classificação do peso e é calculado pela formula: IMC=kg/m², onde “kg” é seu peso e “m” sua altura. Se o resultado do IMC for até 18,49 kg/m² é considerado abaixo do peso; entre 18,5 a 24,9, peso ideal; 25 a 29,9, sobrepeso; 30 a 34,9, obesidade moderada; 35 a 39,9, obesidade severa; 40 a 49,9, obesidade mórbida; e acima de 50, super obesidade.