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Neste mês de maio faz 100 anos que o longa-metragem de Charles Chaplin (1889 – 1977) “O Garoto” (1921) estreou nos cinemas. Mesmo depois de um século, a obra ainda é lembrada por críticos de cinema e amantes da 7ª Arte como um clássico.  A trama conta a história de uma mãe que abandona seu bebê por não ter condições de oferecer os cuidados necessários. O garoto é encontrado pelo icônico personagem a quem Chaplin deu vida,  Carlitos -  um homem pobre, que veste smoking e chapéu-coco - que precisa proteger a criança a todo custo. 

De acordo com o crítico de cinema e autor do livro “História do Cinema Mundial” (2020), Franthiesco Ballerini, o filme “O Garoto” é sem dúvidas uma das obras mais memoráveis de Chaplin. “O mérito [do filme] é trabalhar com aquilo que vai ser muito explorado no audiovisual no mundo inteiro: a relação de um adulto com uma criança”. Ballerini completa dizendo que a partir desta relação, existe uma química entre os dois lados e, portanto, uma força na atuação conjunta. "Isso faz esse filme ser magnífico”, afirma. 

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 “O Garoto” é um dos exemplos de como Chaplin conseguiu com Carlitos criar um personagem com elementos únicos no cinena, de acordo com Ballerini. “Ele utiliza comédia pastelão. Então o riso vem das trapalhadas físicas, com uma leve dose de ironia nos roteiros. Seus filmes mudos têm uma força no visual da interpretação corporal e facial”. Já quando os filmes são falados, a dose de ironia aumenta consideravelmente. 

Este é o caso do filme “O Grande Ditador” (1940), história que funciona como uma sátira ao governo totalitário de Adolf Hitler (1889 – 1945) durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). O crítico de cinema afirma que este é um dos filmes mais corajosos daquela época, muito por conta do talento de Chaplin. “Ele era um excelente ator, diretor e roteirista. Ele tinha expressão, era inteligente e sempre estava antenado com as coisas que estavam à frente de seu tempo”, aponta.

Segundo Ballerini, o trunfo da carreira de Chaplin se deu por ele ter sido um dos primeiros cineastas do ocidente a trazer um conceito rudimentar de franquia no cinema. “Ele controlava a produção, edição e a atuação. E assim pôde criar um personagem inserido nessa franquia, ou seja, explorar o mesmo personagem em produtos diferentes. Isso deu profundidade ao protagonista e gerou um aumento de público. Chaplin foi genial”, exalta. 

Por conta do trabalho do cineasta, seu legado  permanece até os dias de hoje e inúmeros longas-metragens utilizam os recursos popularizados por Chaplin, como a saga de filmes nacionais de Renato Aragão “Os Trapalhões” e “Debi & Loide – Dois Idiotas em Apuros” (1994), comédia protagonizada por Jim Carrey e Jeff Daniels. O crítico de cinema ressalta que apesar do mundo inteiro utilizar esses elementos, eles já eram existentes no teatro e na literatura, mas a aplicação bem feita dessas ferramentas de comédia junto ao sistema de franquia com o mesmo personagem de Chaplin, foram os responsáveis por garantir seu legado.

A empresa cinematográfica francesa MK2 Productions, em parceria com a distribuidora internacional Piece Of Magic, anunciou que vai restaurar obras de Charles Chaplin (1889-1977). A ação acontece como forma de comemorar alguns títulos do cineasta que completam 100 anos, como o longa-metragem "O Garoto" (1921).

A MK2 está responsável pela restauração 4K do filme, que será exibido em meados de setembro na França. "O Garoto" mostra o icônico personagem que Chaplin deu vida, o Carlitos, um homem pobre, que veste smoking e chapéu-coco, e que tenta proteger a todo custo um garoto que foi abandonado pela mãe quando ainda era um bebê.

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Já a Piece of Magic está responsável por trabalhar com uma rede de exibidores para lançar este e outros filmes em cerca de 50 países ao redor do mundo. Entre os filmes que serão restaurados, seja em 2K ou 4K, estão "Em Busca do Ouro" (1925), "O Circo" (1928), "Luzes da Cidade" (1931), "Tempos Modernos" (1936) e "O Grande Ditador" (1940).

Chaplin é considerado um dos pilares na história da sétima arte. Embora tenha dirigido e atuado em muitos filmes mudos, suas produções trazem mensagens atemporais sobre classes sociais, preconceito e cenários políticos. Em duas ocasiões, Chaplin recebeu o Oscar honorário. A primeira vez, em 1929, ano de estreia da premiação, que prestigiou o artista pela genialidade, e em 1972, quando a Academia reconheceu o trabalho dele como uma contribuição sem precedentes para o cinema.

Por Thaiza Mikaella

Mal reconhecemos o personagem neste que é tido como seu primeiro filme e que agora completa o centenário. Making a Living (Ganhando a Vida, 1914) é o primeiro trabalho de Chaplin na produtora Keystone, de Mack Sennett, e foi realizado por um ator de vaudeville que pouco ou nada conhecia de cinema. Tudo era novidade para Chaplin.

E nem sempre novidade bem-vinda. Charlie Chaplin, formado na comédia, tinha ido a Los Angeles com pretensões de se tornar ator dramático. Shakespeare era sua meta. E foi nessa ilusão que embarcou a convite de Sennett. Logo descobriu que se tornaria ator das comédias rasgadas do estúdio. Não tinha noção do que era o cinema. Para ele, um filme era como um teatro filmado e ficou surpreso que as cenas fossem filmadas fora de ordem para apenas na montagem tomarem a forma cronológica do enredo.

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Neste primeiro filme, cujo título em português é Carlitos Repórter, para aproveitar a fama do personagem surgido apenas depois, vemos Chaplin com um bigodinho caído entre os lábios e não aquele famoso "quadradinho" debaixo do nariz que, dizem, inspirou Hitler quando o ditador deixou crescer o seu. As roupas também são outras e até elegantes se comparadas aos andrajos posteriores do vagabundo.

Na história, Chaplin faz uma espécie de atravessador. Deseja ingressar no jornalismo e, para tal, segue um repórter e, quando este consegue um furo, Carlitos (vá lá, vamos chamá-lo assim) se apropria da notícia. Isso, além de tentar roubar-lhe a namorada. É, no fundo, um mau-caráter.

Aliás, a Keystone era conhecida por suas comédias pesadas. Talvez hoje elas não fossem aprovadas diante da dupla moral do politicamente correto vigente. Tanto assim que Richard Attenborough, em Chaplin, ao reproduzir a vida do artista, atenuou o conteúdo desses primeiros filmes de que ele participava. Não que fossem indecentes. Nada disso, mas eram mais diretos, digamos assim, até meio agressivos. Neles, seus personagens não eram exatamente o que se poderia chamar de tipos exemplares. Bêbado, inconveniente, lúbrico, desonesto com frequência, o personagem de Chaplin ainda estava muito distante daquele outro que nos habituamos a amar, uma mistura de lirismo e esperteza. Haveria ainda um longo percurso para chegar a ele.

Mas já no filme seguinte, também de 1914, já vemos outro Chaplin, rapidamente amadurecido para o trabalho com a câmera e vestido de maneira muito parecida ao personagem que o consagraria. Como isso se deu? Há versões.

Numa delas, Chaplin ficara muito deprimido com o resultado de Carlitos Repórter. Em seu livro de memórias faz autocrítica: "Eu era canhestro", escreve, sem meias-palavras. Confessa que estraga todas as gags ao antecipá-las, roubando ao público a surpresa que acompanha o riso. Mas, além disso, acusa o diretor Henry Lehrman de haver descartado suas melhores cenas na montagem. O próprio Sennett, teria lhe dito com franqueza que no próximo trabalho seria bom fazer melhor, "senão...".

Desse modo, era um Chaplin deprimido e pensando nos rumos de sua carreira que estava reunido com seus colegas de estúdio, preparando-se para o próximo projeto. Tinha ar tão desamparado que, mesmo no ambiente ultracompetitivo de Los Angeles, começavam a sentir pena do "inglesinho". Como sabemos, o "inglesinho" tinha algumas coisas a mostrar e começou a fazê-lo já em Mabel’s Strange Predicament, conhecido entre nós como Carlitos no Hotel. Aqui, ele é um bêbado incômodo, que estaciona no lobby de um hotel e importuna hóspedes, em especial as do sexo feminino. Mas o que chama atenção são seus trajes, desta vez bem parecidos ao Carlitos clássico.

Segundo um dos seus parceiros da época, o comediante Chester Conklin, o insight de Chaplin nasceu naquele momento de depressão em que duvidava da viabilidade de sua carreira no cinema. Segundo diz Conklin em seu depoimento ao livro de Sennett e Shipp, King of Comedy, Chaplin teria lhe confidenciado a intenção de abandonar a carreira no cinema, mal iniciada ainda. "É tudo muito rápido. Jamais farei sucesso nesse meio", disse.

Em meio a essa deprê, Chaplin pôs-se a andar pelo quarto do hotel, enquanto seus companheiros jogavam cartas. Numa súbita inspiração, pediu para provar um par de calças de um deles, que estavam penduradas num cabide e era muitos números acima do seu. Vestiu também uma casaca que, ao contrário, era apertada a ponto de não abotoar. Achou também um bigode postiço, recortou-o até que virasse um retângulo e o colou em cima do lábio. Encontrou um chapéu-coco e uma bengala engraçada. Vestiu um par de sapatos também muito grandes e ensaiou uns passos com os pés virados para fora. Nesse ponto, o jogo de cartas havia cessado e seus parceiros não paravam de rir. Nascia ali o personagem, ou alguém que muito se aproximava dele. Este, pelo menos, é o depoimento de Conklin.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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