Quem pode correr para pegar o ônibus que parou fora da parada, desviar dos obstáculos das calçadas, não sabe as dificuldades que os cadeirantes enfrentam para realizar esta mesma atividade. A pequena Ana Beatriz Pinheiro, de 5 anos, sofre de paralisia cerebral e há três anos é cadeirante. Ela não entende as dificuldades que ela mesma enfrenta para fazer seu tratamento na AACD, conta com a ajuda da sua mãe, a dona de casa Vera Lúcia da Silva, que depende exclusivamente do transporte público.
Dona Vera tem seis filhos e mora em Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. Toda quinta-feira enfrenta o mesmo percurso e dificuldades para levar Ana Beatriz para as revisões na AACD. O primeiro desafio já começa no momento que sai de casa. Calçadas quebradas, buracos e quase nenhuma rampa que facilite o acesso a todas as paradas de ônibus. Para chegar ao seu destino, ela utiliza a linha Tiuma-Tabatinga, em seguida, pega o metrô para a estação Joana Bezerra. Desde 2009 é esse mesmo percurso e muitos dilemas vividos.“Tem pessoas que são bem ser humanas, param, ajudam. Alguns motoristas descem para ajudar, mas não são todos, muitos cortam a parada, fingem que não estão nos vendo. É horrível,” comenta Vera.
##RECOMENDA##
Plataformas Elevatórias Veiculares (PEV) em manutenção ou quebradas, usuários que não querem esperar ou reclamam da demora para o cadeirante subir no ônibus, são dificuldades que os portadores de deficiência enfrentam diariamente para ter acesso a um direito que deve ser acessível para qualquer cidadão.
Desde o ano 2000 a Lei Nº 10.098 assegura que todo portador de deficiência ou com mobilidade reduzida tenha acesso ao transporte público e assegura normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade. Embora garantido por lei , na prática esse direito nem sempre funciona como deveria. Dona Vera sabe o quanto essa lei não é cumprida. “Já passei por situações que cheguei a chorar. Não existe respeito. Uma vez eu estava na estação Joana Bezerra, o motorista abriu a porta do meio e os passageiros começaram a subir na plataforma que é exclusiva do cadeirante, com o tumulto, minha filha começou a ter convulsões, o motorista ficou sentado, não fez nada. Fiquei desesperada”, lamentou a dona de casa.
Como mora em Camaragibe, a mãe de Ana Beatriz geralmente utiliza a mesma linha para chegar até a AACD, mas de acordo com a Grande Recife Consórcio de Transporte a Associação de Assistência à Criança Deficiente é atendida atualmente por 26 linhas com 93 ônibus com plataforma. Ainda de acordo com o Consórcio, atualmente 60% da frota da Região Metropolitana do Recife possui a PEV e desde agosto deste ano são realizadas fiscalizações dos veículos que oferecem esse serviço através da Portaria nº 205/2012. Atualmente três mil ônibus são cadastrados no Sistema Público de Passageiros da RMR.
Karla Caroline Barbosa, 24 anos, também é cadeirante e precisa ir para a AACD. Ainda quando criança também frequentava a instituição para fazer o tratamento. Hoje, ela vai a associação como assistente de marketing, trabalha de segunda a sexta, e utiliza ônibus e metrô diariamente. “Na minha rota, como vou sempre no mesmo horário, os motoristas já me conhecem, mas quando pego uma rota diferente enfrento dificuldades”, comentou a jovem.
Outro dilema que a jovem enfrenta é quando vai sair com seu namorado que também é cadeirante. “Os ônibus só tem lugar para um cadeirante”, lamenta. Para conseguir sair, o casal conta com ajudar de pessoas que se dispõem carregar a jovem nos braços e colocá-la em uma cadeira. Quando a PEV está quebrada ou em manutenção, ainda tem a espera. “Os ônibus que estão com problemas não deviam nem circular”, afirma.
Para ir ao trabalho, Karla enfrenta o horário de maior fluxo de pessoas. Ela mora na Boa Vista e utiliza a Linha Circular até a Estação Recife, de lá segue para a estação Joana Bezerra. Nesse percurso, as dificuldades são inúmeras, principalmente com as calçadas. “Já tive que fazer manobras para chegar até a parada de ônibus. Na Boa Vista, tem muitas rampas, mas estão desgastadas. É cansativo, muito desgastante”, comenta.
A manutenção das calçadas é um processo burocrático. De acordo com a prefeitura do Recife e o Grande Recife, a manutenção e reformas dependem muito de cada proprietário. Apenas imóveis que são da prefeitura, como praças e prédio públicos são cuidados pela gestão municipal.
Além de ônibus e metrô, o serviço de táxi também é uma opção para os cadeirantes. De acordo com a Tele Taxi, umas das maiores empresas do Recife, há carros exclusivos para atender cadeirantes em sua frota. Já a Servi Taxi, não possui carros específicos, mas atendem aos portadores de deficiência.
Confira todas as matérias do especial Sem Limites.