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Em depoimento à Polícia Federal no dia 24 de fevereiro, o presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Júnior, preso na Operação Acarajé - 23ª fase da Lava Jato - disse que o dono do grupo, Marcelo Odebrecht ficou "indignado" com a fala de Dilma sobre o financiamento do Porto de Mariel, em Cuba, durante debate eleitoral em 2014.

Ainda segundo o executivo, Odebrecht cogitou acionar a irmã do então candidato tucano Aécio Neves para "prestar os devidos esclarecimentos". "Marcelo ficou indignado com afirmação feita pela Presidente sobre o fornecimento de garantias em obras internacionais e cogitou que fosse acionada a irmã de Aécio Neves para que fossem prestados os devidos esclarecimentos, a fim de mostras que a afirmativa da presidente no debate era falsa", afirmou o executivo aos investigadores.

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Benedicto decidiu citar o episódio ao final de seu depoimento, quando o delegado indagou se ele teria algo a acrescentar. O executivo, então, explicou algumas das trocas de mensagens de celular que manteve com Odebrecht e que foram interceptadas pela Polícia Federal e serviram de base para 23ª fase da Lava Jato.

Em um dos diálogos, durante o debate do segundo turno entre Dilma e Aécio no dia 24 de outubro, Marcelo Odebrecht manifesta a Benedicto sua indignação. "Ela (Dilma) está mentindo. Passe um torpedo para a irmã (do Aécio). O financiamento e as garantias são do governo de Cuba. Aliás melhor deixar quieto, vai que ela mostra seu torpedo para alguém lá!", disse o dono da Odebrecht. Até então, não se sabia que a "irmã" na mensagem seria uma parente do tucano

É a primeira vez que um executivo da empreiteira identifica políticos e parentes nos diálogos mantidos com Marcelo Odebrecht. À PF, contudo, Benedicto não deixa claro qual seria a irmã do tucano, já que Aécio tem duas. Para os investigadores da Lava Jato, o executivo seria o nome acionado por Marcelo Odebrecht "para a tratativa de assuntos escusos", diz a Polícia Federal no relatório que embasou a 23ª fase da Lava Jato.

Em sua delação premiada, o senador e ex-líder do governo no Senado Delcidio Amaral (sem partido-MS) afirmou que a irmã mais velha de Aécio, Andréa Neves e a "mentora intelectual" do tucano e que "estava por trás" do governo de Minas nas gestões do hoje senador mineiro. Ela ficou conhecida por coordenar a área de comunicação e assessoria de imprensa do governo do irmão em Minas.

Obra

Localizado a 45 quilômetros de Havana, capital de Cuba, o porto de Mariel é a grande aposta do país de regime comunista para mudar sua economia. Custou US$ 957 milhões e, deste total, US$ 682 milhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Da quantia financiada pelo BNDES para a construção de Mariel, pelo menos US$ 802 milhões serão gastos no Brasil na compra de bens e serviços comprovadamente brasileiros, de acordo com informações do governo. Por causa desse acordo, empresas brasileiras se dispuseram a participar do empreendimento, mediante a exportação dos serviços que prestam e dos bens fabricados no Brasil.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de Aécio, mas a irmã dele estava em viagem e não foi localizada ainda para comentar o caso.

Em depoimento à Polícia Federal no dia 24 de fevereiro, o presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa, explicou suas conversas com o dono da holding Marcelo Odebrecht interceptadas pela Lava Jato. Benedicto Barbosa afirmou que, em um dos diálogos de novembro de 2014, eles tratam de doações para o presidente nacional do PSDB Aécio Neves e da preocupação do tucano com o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), investigado na Lava Jato por suspeita de ter recebido propina de empreiteiras envolvidas nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). É a primeira vez que os nomes do tucano e do peemedebista são citados por executivos da Odebrecht aos investigadores da Lava Jato.

"Que deseja consignar que a interpretação dada pelo analista (da Polícia Federal) de que havia preocupação, por parte da Odebrecht, em relação a Sérgio Cabral no caso MF, é equivocada, uma vez que tal preocupação teria sido manifestada por Aécio Neves", afirmou o executivo aos investigadores, sem dar mais detalhes sobre como essa preocupação do tucano foi relatada a eles. Benedicto afirma ainda que a preocupação não envolve nenhuma "conduta criminosa". Em março de 2015 o Superior Tribunal de Justiça abriu inquérito para investigar o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o ex Sérgio Cabral por suspeita de terem recebido R$ 30 milhões em 2010 do esquema de corrupção na Petrobras.

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Em um dos diálogos Benedicto diz: "Preciso resolver R$ 100 mil (tarja preta). Vou aproveitar este momento PT/PSDB", e Marcelo Odebrecht responde: "Não entendi, depois vc me fala seguro". Eles estavam discutindo doações eleitorais para Aécio e "Piciani". As empresas do grupo Odebrecht doaram R$ 8 milhões à campanha do tucano e R$ 16,7 milhões ao comitê da presidente Dilma Rousseff. Nem o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB) nem o seu pai e presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, aparecem como destinatários de doações da Odebrecht. A empreiteira, contudo, doou R$ 13,9 milhões ao PMDB em 2014.

"Que sobre o diálogo da página 35 da representação, a qual refere um suposto canal seguro existente entre o declarante e Marcelo Odebrecht para conversas, deseja consignar que interpreta que o diálogo se refere a falar quando estivesse seguro, não por meio de um meio seguro", disse o executivo. Ele afirmou ainda que considera "seguro" para conversar com Marcelo Odebrecht o telefone de seu escritório na empreiteira.

Benedicto não explica nem é questionado pelos investigadores da Polícia Federal que, por se tratar de uma investigação em primeira instância, não envolve políticos, porque teriam sido tratadas as doações eleitorais com Marcelo em 7 de novembro, 12 dias após o fim do segundo turno das eleições de 2014 na qual Dilma foi reeleita. Pela legislação eleitoral até então, as campanhas presidenciais podiam receber doações mesmo depois de terminado o segundo turno, até um prazo limite. Atualmente, por determinação do STF, as doações empresariais para campanhas estão proibidas

Os diálogos entre os executivos foram um dos elementos utilizados pela Polícia Federal para a deflagração da 23ª fase da Lava Jato, que levou à prisão o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que trabalharam nas campanhas presidenciais de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014), e também à prisão temporária de Benedicto, solto no dia 26 de fevereiro. Nos diálogos apresentados ao juiz Sérgio Moro, a PF coloca tarja preta em alguns nomes e siglas para preservar a identidade de políticos e autoridades com prerrogativa de foro. Em seu depoimento, contudo, Benedicto cita os políticos relacionados aos diálogos, sempre inocentando eles de quaisquer condutas criminosas.

Para a Polícia Federal, contudo, os diálogos entre Marcelo Odebrecht e Benedicto indicam que eles tratavam "de assuntos escusos", "certamente não se limitando a obter recursos para financiamento oficial de campanhas eleitorais", diz a Polícia Federal no relatório que embasou a 23ª fase da operação.

TSE

As doações da Odebrecht a Aécio Neves foram uma das irregularidades apontadas pelo Tribunal Superior Eleitoral ao julgar a prestação de contas da campanha tucana em 2014. De acordo com a assessoria técnica do tribunal, Aécio repassou para o PSDB uma doação de R$ 2 milhões da Odebrecht, mas não registrou a transferência na prestação de contas. Questionada na época, a assessoria de imprensa do PSDB afirmou que todos os questionamentos foram respondidos e as doações, contabilizadas.

A Odebrecht ainda não comentou teor do depoimento do executivo.

A assessoria de Leonardo e Jorge Picciani disse que "como é sabido, todas as doações recebidas na eleição de 2014, mesmo quando recebidas via diretórios nacional ou estadual dos partidos, passaram a ter obrigatoriamente a identificação da origem, ou seja, da empresa que doou o dinheiro ao Diretório". Segundo a assessoria, basta conferir no site do TSE e "a única explicação que pode haver para o nome de Picciani ter sido citado neste contexto é o fato de ele, como é sabido, ter coordenado, no Rio, a campanha presidencial de Aécio Neves em 2014, tanto no primeiro quanto no segundo turno". Ainda de acordo com a assessoria, a atuação de Picciani, entretanto, era apenas política. "Ele nunca tratou de questões relativas ao financiamento da campanha de Aécio, cujas despesas eram de responsabilidade do comitê financeiro do candidato."

A assessoria de Aécio Neves explicou que "o depoimento mencionado pelo jornal apenas confirma as informações prestadas à Justiça Eleitoral. É de conhecimento público que a empresa Odebrecht, assim como diversas outras, fez doações à campanha do PSDB, inclusive, como prevê a lei, depois das eleições, para cobrir débitos existentes". Com relação aos diálogos, a assessoria diz que o "senador não é parte de nenhum deles, não tendo, portanto, nada o que acrescentar".

O juiz federal Sérgio Moro decretou a prisão temporária por cinco dias do vice-presidente da Odebrecht Engenharia e Construção no Brasil, Benedicto Barbosa da Silva Júnior (Infraestrutura), o 'BJ', no âmbito da Operação Acarajé, 23ª etapa da Lava Jato deflagrada nesta segunda-feira, em São Paulo, Rio e Bahia.

Moro acolheu representação da Polícia Federal, amparada também nos arquivos de mensagens recuperadas do celular do empreiteiro Marcelo Bahia Odebrecht, preso desde 19 de junho de 2015. Na avaliação da PF, 'BJ' desempenhava papel de contato político da companhia.

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"No curso das investigações relacionadas ao Grupo Odebrecht foi possível identificar outros executivos que se encontravam proximamente vinculados ao presidente Marcelo Bahia Odebrecht, e sob os quais pairam indícios de que tenham ativamente participado da organização criminosa formada no âmbito daquele conglomerado empresarial para a prática de ilícitos penais", destaca relatório da PF. "Um deles é Benedicto Barbosa da Silva Junior, presidente da Odebrecht Infraestrutura."

Segundo a PF, a partir da análise de diálogos mantidos entre 'BJ' e Odebrecht, identificados nos aparelhos Blackberry apreendidos na residência do empreiteiro, "é possível verificar que Benedicto é pessoa acionada por Marcelo para tratar de assuntos referentes ao meio político, inclusive a obtenção de apoio financeiro".

Na decisão em que mandou prender o vice da Odebrecht, o juiz assinala que o executivo participou de reuniões com Odebrecht e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu - preso desde 3 de agosto de 2015.

"Em vista da planilha e revendo as anotações constantes no celular de Marcelo Bahia Odebrecht, a autoridade policial identificou reuniões havidas em outubro de 2010 e abril de 2011, entre ele e José Dirceu de Oliveira e Silva, juntamente com pessoa identificada como 'FR', sigla correspondente a outro executivo da Odebrecht, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis", anotou o juiz da Lava Jato.

Na representação pela prisão do executivo, a PF destacou trocas de mensagens, durante o ano de 2014, de 'BJ' com Odebrecht. "Embora as mensagens ainda precisem ser completamente elucidadas há indícios da prática conjunta de ilícitos", assinala Sérgio Moro. "Há menção à 'conta Pós Itália', o que pode ser uma referência a pagamentos posteriores àqueles constantes na planilha acima referida (de título 'Posição Programa Especial Italiano')."

O juiz da Lava Jato ressalta que em outra troca de mensagens "há referência a aparente pagamento de valores (cem mil reais) a autoridade com foro privilegiado em condições subreptícias". "Foi colhida prova relevante no sentido de que os crimes investigados envolvem uma série de fraudes documentais."

A PF assinala que os rumos da Operação Lava Jato foram discutidos por 'BJ' e Odebrecht. "É pauta das conversas entre Marcelo e Benedicto, momento em que abordam o 'alinhamento' de empresas reconhecidamente vinculadas ao sistema de cartelização."

"Marcelo Bahia Odebrecht é o verdadeiro gestor de tais 'créditos'. Benedicto Junior, por sua vez, desempenha posição igualmente relevante na administração da conta sub-reptícia. Basta lembrar que na planilha 'Posição-italiano 31072012MO.xls', a sigla 'BJ' é a que apresenta as maiores cifras, sendo permitida a conclusão de que a maior parte de recursos espúrios eram originados da área dentro da Odebrecht controlada por Benedicto Junior."

Para a PF, "são suficientes as provas indiciárias colhidas em esfera policial a justificarem a decretação de medidas cautelares em face de Benedicto Barbosa da Silva Junior".

Procurada, a Odebrecht confirmou a operação da Polícia Federal em escritórios de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, para o cumprimento de mandados de busca e apreensão e disse estar à disposição das autoridades para colaborar com a operação em andamento.

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