Nesta quinta (26), começou a décima sexta edição do Cine PE Festival do Audiovisual. As atividades começaram cedo, às 9h, com as primeiras aulas das oficinas de direção, roteiro, e trilha sonora ministrada por Jorge Bodanzky, José Roberto Torero e David Tygel, respectivamente. Às 15h, o Festival deu início à mostra Um olhar para Moçambique, que acontece na Universidade Católica de Pernambuco.
A partir das 20h, no Teatro Guararapes, Centro de Convenções de Pernambuco, deu-se início à programação principal do Cine PE: as mostras competitivas de curtas e longas metragens. Quem veio ao evento viu a mostra "Angeli vê o cinema nacional", instalada no foyer do teatro, onde ainda ficam o Espaço Gourmet e stands variados. Como de praxe, o público também teve a oportunidade de encontrar atores, diretores, técnicos circulando, incluindo um dos homenageados do Festival este ano, o ator Ney Latorraca. "É um dos momentos mais felizes da minha vida receber essa homenagem, estou excitado igual uma criança", afirmou Ney para o LeiaJá.
##RECOMENDA##
A mostra competitiva se iniciou um pouco depois das 21h com o curta "Depois da queda", dirigido por Bruno Bini. O filme usa o recurso de tramas e personagens que se cruzam, com uma edição que pode confundir um espectador menos atento, por não ser cronológica nem linear. Um bom curta com momentos cômicos e outros emocionantes, como a cena final em que um pai coloca seu bebê - que está em uma incubadora após a morte da mãe, então ainda grávida - para ouvir a voz gravada da esposa que perdeu. A produção foi aplaudida com entusiasmo ao fim da exibição.
Segundo curta da noite, "O descarte" é uma animação narrada pelo personagem principal, que investe no suspense e na violência, utilizando-se de alguns clichês cinematográficos, como o "grupo misterioso" que guia as ações do personagem central e a descoberta de que ele foi usado em uma trama na qual caiu de paraquedas. "Qual queijo você quer" encerrou o primeiro dia da mostra de curtas e trouxe uma linguagem mais simples, com apenas duas locações (a sala e a cozinha de um apartamento). Toda a ação do filme se resume no diálogo de um casal de idosos em que ela está em crise por tudo o que não fez na vida, enquanto ele apenas quer mais queijo. De maneira simples e tocante, "Qual queijo" se resolve bem sem estripulias estéticas.
Dando início à mostra competitiva de longas metragens, "À beira do caminho", dirigido por Breno Silveira, foi exibido ao público pela primeira vez. Um problema no áudio durante toda a exibição atrapalhou um pouco a estreia, mas a história dramática, que não foge ao final feliz, parece ter conquistado o público. "À beira do caminho" tem como presença marcante as músicas de Roberto Carlos, que interagem o tempo todo com os personagens, até conduzindo a cena.
Um caminhoneiro solitário (João Miguel) dá carona a uma criança (Vinícius Nascimento) que perdeu a mãe e procura o pai, que a abandonou quando ela estava grávida. Depois de tentar deixá-lo em delegacias e postos da polícia, e até mesmo abandoná-lo em Petrolina, sertão pernambucano, acaba aceitando sua presença e se dá a missão de ajudá-lo a encontrar o pai. O encontro com o pequeno Duda e a história do abandono pelo pai faz o caminhoneiro João enfrentar seu próprio passado, quando também abandonou a filha. A história do solitário atormentado pelo passado, ríspido e intempestivo que encontra a possibilidade de candura no convívio "indesejado" com uma criança não é exatamente nova, mas é bem contada e funciona. Um recurso simples e direto, as frases de parachoque de caminhão aparecem regularmente no filme, sempre complementando e dialogando com a história vivida pelos personagens.
Uma grande qualidade do longa está certamente na boa atuação do elenco, com destaque para João Miguel, Dira Paes e o pequeno Vinícius, que tinha apenas 11 anos quando filmou. Ele conta ter sido escolhido entre mais de 800 crianças e, inspirado pela história do filme, ensina: "Nunca é tarde para se tentar", disse à reportagem do Leiajá. "O Vinícius é um presente para o filme", afirma o diretor Breno Silveira, que na apresentação do filme havia dito que "À beira do caminho" é "sobre um homem aprendendo a amar".
No fim da exibição, o organizador do Cine PE apreceu no palco e se desculpou publicamente pelo problema no áudio do longa, e avisou que haverá outra sessão a ser marcada "Com as condições de som que o filme merece".