Depoimentos de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, reiteram o tratamento degrante que recebiam de seus empregadores. Nos relatos, cedidos ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), são reveladas diversas humilhações verbais que eram praticadas, bem como atos de tortura física, incluindo uso de spray de pimenta e de choques elétricos.
A RBS TV teve acesso aos depoimentos prestados às autoridades. Trabalhadores, a maioria de origem baiana, costumavam ser acordados aos gritos de "acorda, demônio, vai trabalhar", entre 4h30 e 5h, por funcionários da pousada em que ficavam alojados. O vocativo "demônio", aliás, era frequentemente utilizado por funcionários armados responsáveis por vigiá-los durante sua produção.
##RECOMENDA##Também eram proferidas ainda ofensas de cunho xenofóbico contra os trabalhadores, a exemplo de "baiano bom é baiano morto". As agressões físicas incluam choques elétricos, cadeiradas, socos e spray de pimenta.
Além disso, os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho de 15 horas diárias, com intervalo de uma hora para almoço. De acordo com os relatos, a comida era fria e azedava, por ser mantida por turnos inteiros fora de qualquer aparelho de refrigeração.
O caso
O caso veio a público depois que três trabalhadores conseguiram fugir do alojamento em que eram mantidos e denunciaram a atuação de seus empregadores para agentes da Polícia Rodoviária Federal, no dia 22 de fevereiro. Foram resgatados 207 trabalhadores contratados pela terceirizada Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA para atuar em três das principais vinícolas gaúchas: Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton.