O relógio marca 19h no Centro do Recife. Em plena segunda-feira, a iluminada quadra, ao lado do Skate Park na Rua da Aurora, recebe um grupo de mulheres. Uma bola, algumas chuteiras, afinal nem existe a obrigação do uso do calçado, e muitas risadas. As peladeiras chegaram para mais uma noite de muito futebol.
Não há novidade alguma em dizer que este grupo, com idade média entre 18 e 25 anos, gosta de jogar futebol. Afinal essa é a rotina do Aurora F.C desde o dia 13 de janeiro de 2016. Porém, ter a coragem de ocupar o espaço público e aguentar certas situações erradas, mas corriqueiras, do cotidiano na cidade, é algo inspirador.
##RECOMENDA##Tudo começou com um grupo. Organizado entre amigas que buscavam bater bola na quadra de um prédio mas acabaram sendo barradas. Daí, era hora de procurar o equipamento da cidade. O local escolhido é costumeiramente ocupado por homens. Tanto que de início foi preciso encarar algumas situações chatas. Em conversa com os usuários, as meninas ouviram que não tinham preferência para jogar por serem mulheres.
"O conceito surgiu da prática. Só quando começamos a jogar foi que realizamos o fato de sermos o único grupo de mulheres jogando em quadra pública. No começo algumas pessoas passavam de bicicleta dentro da quadra, alguns meninos ficavam chutando bola para dentro também e a gente pedia para sair. Até que, com o tempo, fomos conquistando o espaço, e o respeito do entorno", destaca a advogada Andrielly Gutierrez.
Até por esse período já de estabilidade, e até certa tranquildade para as jogadoras do Aurora F.C, que um episódio no último dia 4 foi marcante. Por meio de uma postagem no Facebook, o grupo denunciou a atitude machista de um único homem para impedir a realização da pelada. Sozinho, o indivíduo alegou que não deixaria a quadra por ter chegado mais cedo e, quando acabou cedendo à inferioridade numérica, ameaçou trazer outros homens para expulsá-las.
"Foi até estranho para nós. Não o fato de um homem ser infantil com mulheres que jogam bola, mas um único cara, sozinho, não deixar a gente jogar, mesmo sabendo que estamos há quase dois anos com esse horário reservado. Dissemos que era possível ele jogar depois de terminarmos, ou até estabelecer um horário, porém não havia acordo", contou Andrielly.
Problema resolvido, ao menos por enquanto. A ameaça de voltar com outros para expulsar as jogadoras na base da força não foi cumprida. E mesmo que houvesse, a Guarda Municipal marcou presença para garantir a tranquilidade do grupo. O LeiaJá visitou a pelada e conversou com algumas integrantes para explicar mais sobre a iniciativa exemplar.
Conheça o Aurora F.C.:
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