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A Associação Brasileira de Documentaristas e Curtas-Metragistas de Pernambuco e Associação Pernambucana de Cineastas (ABD-PE/Apeci) assinaram uma carta de repúdio, publicada no Facebook, contra o festival de cinema Cine PE, que será realizado no período entre 2 e 8 de maio. Segundo as associações, o convite para participar do júri especial na edição deste ano do evento foi negado porque o evento de audiovisual não dialoga com os princípios básicos de ideias defendidas por elas.

“Ao longo dos últimos 20 anos, o diálogo entre o Cine PE e o cinema pernambucano tem sido bastante difícil. (...) Não há motivo para compactuar com um festival que fez repetidamente proselitismo político em seu palco”, justificam na carta.

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ABD-PE/Apeci também argumenta que os recursos provenientes do Estado para a realização do evento vêm da Empresa Pernambucana de Turismo (Empetur) e não do Fundo de Incentivo à Cultura (Funcultura) ou da Secretaria de Cultura. “A pasta é responsável por mega eventos calendarizados que pagam fortunas aos artistas midiatizados e migalhas aos artistas e às artistas pernambucanas”, escreveram.

Confira a nota completa publicada pela (ABD-PE/Apeci):

"CARTA ABERTA DA ABD-PE/APECI AO Cine Pe

A Associação Brasileira de Documentaristas e Curtas-Metragistas de PE / Associação Pernambucana de Cineastas - ABD/Apeci firmou um compromisso nas lutas pelo audiovisual independente desde sua formalização no estado em 1994. Se hoje o cinema feito aqui no estado é reconhecido mundo afora, não é graças, somente, à qualidade artística e técnica, mas também pela estruturação de políticas públicas construídas com a participação deste coletivo.

Há algumas semanas atrás, a BPE - Bertini Produções & Eventos, produtora do Cine PE Festival do Audiovisual enviou uma mensagem para a a diretoria colegiada da ABD-Apeci convidando a entidade a formar um júri especial na edição deste ano do evento. A nossa resposta, resultado de discussões entre os associados, é NÃO.

E o motivo é simples: ao longo dos últimos 20 anos, o diálogo entre o Cine PE e o cinema pernambucano tem sido bastante difícil. Acreditamos que duas décadas é tempo mais do que suficiente para um evento amadurecer. Portanto, não há motivo para corroborar com um festival que não dialoga com os princípios básicos daquilo que defendemos. Não há motivo para compactuar com um festival que fez repetidamente proselitismo político em seu palco. Houveram inúmeras iniciativas de diálogo entre a ABD/Apeci e a organização do festival ao longo dos últimos anos. Quem não lembra da faixa “Menos Glamour, Mais Cinema” em 2011? A partir daquela manifestação, construímos coletivamente um documento com diversas proposições ao evento que é financiado com recursos públicos e, portanto, deve atender a critérios como inclusão social e democratização do acesso à produção em sua diversidade.

Outra questão dissonante que gostaríamos de dar visibilidade é a fonte de recursos provenientes do Estado para realização do evento e sua falta de transparência. O Fundo de Incentivo à Cultura - o Funcultura - investe um terço de seus recursos em audiovisual e esse fundo é referência de política cultural no país. A comissão de seleção dos projetos culturais e a comissão deliberativa do Funcultura é formada, em sua maioria, por representantes da sociedade civil. Isso foi resultado de muita luta, não só da ABD/Apeci, mas de inúmeras entidades, coletivos, movimentos, articulações e frentes atuantes no estado. Antes, os projetos incentivados pelo Estado através da Fundarpe e Secretaria de Cultura eram incentivados por uma única via: o balcão. O produtor legítimo ou os atravessadores e lobistas negociavam diretamente com o governo e não havia transparência alguma sobre os critérios para seleção dos projetos. Infelizmente, esse tipo de procedimento ainda existe. O Cine PE recebe incentivos não da Fundarpe/Secretaria de Cultura ou mesmo do Funcultura, que têm seus orçamentos e equipamentos cada vez mais reduzidos e sucateados pelo Governo do Estado, mas da Empetur - Empresa Pernambucana de Turismo. A pasta é responsável por mega eventos calendarizados que pagam fortunas aos artistas midiatizados e migalhas aos artistas e às artistas pernambucanas.

Diante disso, reforçamos a importância do Funcultura como instrumento de incentivo com participação da sociedade, onde os projetos são julgados em editais públicos, e entendemos que todas as instâncias de incentivo do Estado devem seguir o princípio da transparência com critérios claros e democráticos, sem apadrinhamentos. Há muito a avançar na democratização e aprimoramento do Funcultura e do Sistema de Incentivo à Cultura do Estado? Sim! Há muito a fazer. E, a nosso ver, o caminho é o da participação social, com transparência e sem favorecimentos.

Recife, 26 de abril de 2016

Diretoria Colegiada da ABD-PE/APECI"

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