Tópicos | apreensivos

Associação dos Pescadores de Barra de Jangada é composta por mais de duzentos trabalhadores que atuam na área. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

##RECOMENDA##

De acordo com a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, o nome da segunda cidade mais populosa de Pernambuco é uma corruptela do termo indígena “Yapoatan”, referente a uma árvore comum na região, utilizada para confeccionar embarcações. Tendo a pesca como um dos componentes mais fortes de sua identidade, Jaboatão assiste à aproximação da mancha de óleo que já percorreu 2.1000 quilômetros nos litorais dos nove estados nordestinos, segundo o Ministério Público Federal (MPF). O LeiaJá visitou a Associação dos Pescadores de Barra de Jangada, bairro litorâneo da cidade, onde a apreensão já mudou a rotina dos trabalhadores que tiram o sustento do Rio Pirapama, que deságua no mar, com o qual compartilha algumas espécies de peixes.

“Eu estou até o momento acordado para que essa mancha não entre na margem do rio de Jaboatão, onde pescamos. Se o óleo chegar a gente vai lamentar e sentir o impacto, porque aqui é um berçário de camarão, tainha, marisco, dentre outros. É esperar a boa vontade dos governos de nos dar um apoio”, comenta Paulo José da Silva, tesoureiro da Associação e pescador desde criança, quando aprendeu o ofício com o pai. Paulo é um dos trabalhadores que mantém contato constante com a superintendência de Meio Ambiente de Jaboatão dos Guararapes, que montou um ponto de apoio a cerca de um quilômetro da Associação, onde agentes da Fiscalização Ambiental, do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil realizam monitoramento visual da praia. “Eu estou ali com um ‘mói’ de rede que eles (prefeitura) deixaram aqui para a gente ficar alerta. Desde ontem que estamos com jangada para lá e pra cá, já entramos no mar ‘pra mais’ de dez quilômetros. Precisam de apoio nosso, mas não tem promessa pra gente ainda”, acrescenta.

Paulo José mostra rede e oito pares de luvas disponibilizados pela prefeitura para eventual chegada do óleo. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Ednaldo garante que coleta de Tainha já está mais difícil. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

De acordo com a superintendente de Meio Ambiente de Jaboatão dos Guararapes, Edilene Rodrigues, o município já recebeu pelo menos duas notificações de que seria atingido pelo óleo. “Primeiro, fomos alertados de que seríamos atingidos no domingo e, posteriormente, de que as manchas estariam aqui na segunda-feira, mas até agora não apareceu nada. O Ibama está fazendo vôos e de helicóptero e passando as informações e estamos com biólogos, químicos acompanhando a situação, além de 300 homens da prefeitura prontos para limpar a orla. A ideia é fazer a contenção antes que o óleo bata nos arrecifes ou entre em contato com o mangue”, explica.

Queda da pescaria

Área próxima ao Rio Pirapama, à praia da Ilha do Amor e à praia de Barra de Jangada está sendo monitorada pela Prefeitura. (Google Earth/reprodução)

O pescador Ednaldo Januário garante que, há cerca de quinze dias, a coleta da Tainha, espécie mais comum na região, vem caindo vertiginosamente. “Tinha dias em que a gente pegava entre 25 kg e 30 kg de Tainha, cada um. Agora, para a gente trazer seis, sete quilos é um trabalho danado”, lamenta. Ednaldo teme que, caso as manchas de óleo realmente atinjam Barra de Jangada, os pescadores precisem de auxílio financeiro do estado. “A sensação é terrível, a gente tira nossa alimentação daqui. Eu só espero que as autoridades competentes descubram o responsável (pelo vazamento) e apoiem o pescador”, desabafa.

Atentos às novidades na televisão e com os olhos no mar, os trabalhadores alternam a pesca com a vigília incansável da costa. “Fui ao mar em busca do óleo e ainda não achei nada. Eu tenho 51 anos, sou nascido e criado aqui e nunca vi nada parecido com isso. A Associação tem mais de duzentos pescadores que sobrevivem exclusivamente dessa região e dependem dela para sustentar suas famílias”, lembra. Confira mais relatos no vídeo a seguir:

 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando