Servidores públicos, médicos, sindicatos, ONGs e sociedade civil se reuniram na manhã desta sexta-feira (11) para protestar contra o fechamento do Centro de Transplantes de Medula Óssea da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (CTMO/Hemope). O ato foi realizado em frente ao Hospital dos Servidores do Estado (HSE) de Pernambuco. O anúncio do encerramento das atividades Centro aconteceu no último domingo (6).
A categoria e os pacientes vêem com preocupação o fechamento do centro, que segundo eles, este pode ser o primeiro passo para se privatizar outras unidades de atendimento gratuito à população. “A equipe tem uma vinculação com o paciente que tem o número do celular do seu médico, que também costuma ligar para saber como está o paciente. Esse link é social e técnico, não é em todo lugar que isso existe”, disse o médico e coordenador da Frente Pernambuco Contra a Privatização do SUS, Antônio Jordão.
##RECOMENDA##Para Jordão, a saúde desses pacientes será tratada meramente como fator de rentabilidade, em um hospital particular. “A lógica de um empresário é ter lucro. Economizar de alguma forma para ganhar. Só que o lucro neste caso é a saúde, a vida das pessoas. A saúde das pessoas não funciona nessa lógica. Aliás, as áreas sociais, em geral, não podem ser tratadas como mercadoria”, observou.
Em meio às manifestações, o marido de uma paciente do CTMO, o vigilante, Severino Correa da Silva, 45 anos, expôs seu descontentamento. “Querem jogar as pessoas doentes a deriva? Será que a minha mulher receberá esse mesmo tratamento dos médicos do Português? Aqui os médicos têm nove anos de experiência nesse tipo de tratamento e os médicos de lá?", questionou. Inconformado, o vigilante critica o fato de o Imip ter sido um dos escolhidos para atender os pacientes do CTMO. “Querem levar os pacientes do CMTO, mas por quê? Porque o Imip é da família do secretário de Saúde do Estado, Antônio Figueira. Isso é vergonhoso. Eles querem ganhar dinheiro e não cuidar do povo”, ressalta.
A psicóloga do CTMO, Cristina Botelho, acusa a Secretaria de Saúde do Estado de não investir recursos na entidade. “A situação foi arbitrária. A Secretaria de Saúde diz que o Centro não está funcionando bem, mas por que não nos informaram disso antes? Por outro lado, nenhum investimento foi feito para salvaguardar a entidade, esperam falir e depois querem fechar”, assegura.
Nota
Em nota divulgada à imprensa, nesta sexta-feira (11), a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que nenhum paciente que se trata no CTMO terá seu tratamento interrompido. “Os transplantes continuarão sendo feitos no Hospital Português, que possui seis leitos (o dobro da estrutura atual) destinados ao SUS e realiza 90 procedimentos por ano, enquanto o CTMO faz sete no mesmo período. Já os pacientes transplantados (71 ao todo) continuarão sendo assistidos pela equipe do Hemope”, diz a nota.
A nota afirma que o CTMO vem apresentando problemas como baixíssima produtividade nos últimos 10 anos e impossibilidade de expansão de leitos na atual área de 245 metros quadrados. O centro, com 42 funcionários, vem realizando, nos últimos 10 anos, uma quantidade bem aquém da necessidade e o custo anual do serviço é R$ 5 milhões, o que significa R$ 700 mil por transplante. O Hospital Português, com reconhecida capacidade nessa especialidade, realizará cada procedimento a um custo de R$ 33 mil, ou seja, 21 vezes inferior.
A Secretaria também informou que, em 2013, será entregue à população o novo Centro de Transplante de Medula Óssea, que será construído dentro do Hospital do Câncer de Pernambuco, unidade com vocação e especialização para tratar todos os tipos de cânceres. “O local terá uma área de 790 metros quadrados (o triplo da atual) e contará com 10 leitos (sete a mais que no HSE). Além disso, o governo do Estado está incentivando a abertura de novos serviços em hospitais universitários, a exemplo de Hospital das Clínicas, Oswaldo Cruz e Imip, como preconiza a Política Nacional de Oncologia”, complementa a nota.