Os médicos da prefeitura do Recife iniciaram na manhã de segunda-feira (8) uma paralisação. Um ato como "forma de protesto contra os descasos da gestão da prefeitura do Recife com a saúde pública", até a sexta-feira (12). As críticas são inúmeras e a falta de estrutura para se trabalhar dignamente é um dos pontos mais combatidos. Na comunidade do Alto Santa Terezinha, por exemplo, na Zona Norte do Recife, um posto de saúde está com a construção para ser finalizada há sete anos; seus atendimentos têm sido remanejados para uma casa de primeiro andar, que fica a alguns metros da obra.
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Segundo informado pela moradora local Ana Lúcia, 35 anos, que estava tentando marcar uma consulta para a sua filha, o espaço para onde o posto de saúde foi encaminhado, desde que desativaram o ‘Posto do Alto do Pascoal’, (comunidade que fica ao lado) é “uma casa improvisada. Por conta disso, são cerca de 30 fichas distribuídas por dia para atender tanto o Terezinha como o Pascoal. A gente, pra conseguir uma ficha, tem que chegar bem cedo”, afirmou. Ela, juntamente com outras pessoas que estavam no local, reclamam da demora para conseguir ser consultado pelos médicos. “Só para marcar a consulta é mais de 1 mês, dependendo do caso”, afirmou Ninha, como prefer ser chamada. Alguns dos moradores, que preferiram não se identificar, afirmam que se fosse no ‘Posto do Pascoal’, seria melhor.
Matos ao redor, construção caindo, lixos amontoados, barro, buracos e um segurança para cuidar de todo o espaço da construção que, segundo Veridiana Sizino, líder comunitária, vem se arrastando desde 2011, quando derrubaram a antiga Unidade de Saúde da Família, para construir uma Upinha. “Agora já vamos para a terceira empresa que será responsável pela construção desse espaço. A prefeitura diz que toda vez que a empresa responsável desiste, tem que se fazer uma nova licitação, e isso já dura 7 anos”, informa. Vera, como é conhecida, informou, também, que a última vez que o representante da prefeitura foi lá para se reunir com a comunidade, foi no dia 7 de novembro de 2017. “Falaram que iriam dar continuidade às obras e, agora no mês de março, (2018) a obra seria concluída. Só que a gente passa por lá e não vê ninguém trabalhando”, pondera.
Moradores denunciam que quando o espaço, a "casa de improviso", está cheio de gente, é insuportável, ficando difícil até para os profissionais. O "posto de improviso" conta hoje com três médicos que atendem gestantes, crianças, jovens e idosos.
Abandono Generalizado
Esse caso no bairro de Água Fria, segundo informado pelo presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Tadeu Calheiros, não é um caso isolado. Há Postos de Saúde da Família (PSFs) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) funcionando de forma “improvisada em toda região do Recife". Tadeu conta que na Várzea, Zona Oeste da capital, a Unidade de Saúde da Família Campo do Banco está funcionando num container. “Esse ato é uma forma de chamar a atenção da sociedade e do prefeito, para que ele possa dar prioridade para a saúde do município, porque os Pet Shops da cidade estão melhor do que as PSFs”, confirma.
Segundo o representante dos médicos em Pernambuco, o Sindicato já realizou várias reuniões com a secretaria de saúde do Recife, na tentativa de viabilizar um melhor tratamento para essa área e seus profissionais - mas tudo indica que até o momento não tiveram sucesso. Até a segurança nos Postos e Centros de saúde está, segundo o presidente, defasada. “Tiraram os seguranças das unidades e vão colocar câmeras de segurança. Tudo isso sem, se quer, um monitoramento online”, afirma.
O Simepe acentua que já pediu para conversar diretamente com o prefeito Geraldo Júlio, que nega o encontro e informa ser possível apenas com a Secretaria de Saúde do Recife. ”Na prática não é como se vê na televisão (na propaganda de gestão). Não está tendo uma priorização da saúde por parte da gestão do atual prefeito. Ano passado, os profissionais da área tiveram um reajuste de 0%; falta pessoal e condição humana para atendimento da população”, lamenta Tadeu Calheiros.
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O que diz a prefeitura?
Através de nota oficial, a Secretaria de Saúde do Recife informa que, "no período de 2013 até agora, foram investidos cerca de R$ 40 milhões na reforma de 170 unidades. Mais oito unidades de saúde estão em processo de requalificação". Em relação à Unidade de Saúde da Família Campo do Banco, situada na Várzea, a Gerência do Distrito Sanitário IV explica que o imóvel que abrigava a USF está com a estrutura comprometida.
"A Gerência esclarece que tem se reunido com a comunidade para tratar da situação, e ficou acordado que, enquanto procura outro imóvel na área, os moradores cadastrados, para não terem prejudicado seu acesso à Saúde, serão atendidos provisoriamente pelas duas Equipes de Saúde da Família em contêineres. Serviços de odontologia e curativos estão sendo feitos no Centro de Saúde Olinto de Oliveira, no mesmo bairro".
Já em relação à obra da Upinha Alto do Pascoal, cuja ordem de serviço foi assinada em 2015, a Prefeitura diz que "está em andamento com previsão de entrega ainda no primeiro semestre deste ano".
Em relação às fraldas geriátricas, a Secretaria de Saúde do Recife esclarece que a "distribuição de fraldas descartáveis não está prevista na lista da assistência farmacêutica do Ministério da Saúde, portanto não é financiada pelo Sistema Único de Saúde. O Recife, inclusive, é uma das poucas cidades do país que tem um programa de distribuição de fraldas. Com a atual escassez de recursos, gerada devido a crise econômica dos últimos 3 anos, o município tem sido obrigado a priorizar os compromissos obrigatórios previstos em lei. Entendendo a relevância social do tema, a Secretaria de Saúde do Recife estuda a viabilidade de novas aquisições em 2018".