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Quem for ao MAMAM no Pátio, localizado no Pátio de São Pedro, nesta terça-feira (30), às 19h, provavelmente irá sentir-se mergulhado num mar de seres míticos e fantásticos, que ganham vida nas paredes do local, graças ao processo criativo que a artista plástica Maíra Ortins vem desenvolvendo. Em residência artística no local desde o dia 8 de outubro, Maíra mostra o resultado de seu projeto de pintura-processo intitulado Al revés.

Diferente de um trabalho de arte urbana como a grafitagem, Al revés, que tem curadoria da cearense Mariana Ratts, expressa, por meio de aquarela na parede, o desdobramento de uma pesquisa desenvolvida por Maíra há cincos, que tem como vertente o mar. "O mar é aquilo que traz as coisas.  É pelo mar que as coisas vêm, mas tambem é pelo mar que as coisas se vão definitivamente e não voltam mais", reflete a artista.

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Os personagens de Maíra transitam entre o real e o imaginário com grande influência da literatura do realismo fantástico latino-americano. Muitos são reproduções de fotografias da Biblioteca Nacional do Congresso Americano, manipuladas pela artista. As criaturas habitam uma civilização perdida, que Maíra denominou de Ilha de Pasárgada, uma referência clara a Manuel Bandeira, com quem ela nutre uma forte ligação refletida em suas obras. Segundo a artista, que é formada em Letras, a ideia de reconstruir uma Pasárgada inexistente é o que permeia seu trabalho.

Para Maíra, o mar tem uma possibilidade gigante de imaginação e criação. Não o mar da praia, mais o mar enquanto oceano, profundo. O desenho do mar em movimento veio ganhando contornos de uma maré que, simbolicamente, engole o espaço gradativamente, deixando-o todo azul, principalmente os olhos dos personagens. "Dentro desse trabalho é como se o mar repousasse sobre os olhos", ressalta.Segundo Maíra, o azul denota a solidão do ponto de vista psicológico. Seus personagens não tem nomes, mas cada um tem uma história , contada no blog onaufragosolitario.wordpress.com, que a artista vem alimentando durante o processo.

O Naufrágio solitário é a história por trás de seu personagem principal, um homem que ocupa uma parede inteira do Mamam. "Quando o personagem vê que a ilha vai se destruir e que só ele vai sobreviver, ele se mata e se mune de dois pacotes de mar, que pra ele significa o sonho. Nessa civilização, o mar pode ser empacotado, ele é quase uma geleia, tem vida própria. O personagem prefere morrer boiando, para fazer de seu corpo uma ilha", explica.

Maíra se debruça na filosofia de que todo corpo é uma ilha. "Por mais que nos cerquemos de pessoas, somos sempre seres solitários, o que temos é o nosso corpo. Mas ao mesmo tempo, eu penso por que guardamos o conceito de ilha como um lugar sagrado, inatingível, por que é que toda ilha tem que ser deserta e dar a ideia de solidão?", questiona. Al revés, que significa às avessas em castelhano, aquilo que ocorre de maneira contrária, ganha vida através do transcorrer do tempo, elemento fundamental para a ação do mar.

Com relação ao processo de residência, Maíra, que é pernambucana mas mora em Fortaleza, fala de como o Recife inspirou seu processo. "Como eu não moro aqui há 15 anos, eu estranho tudo. Nesse contexto do centro da cidade, eu estou vivendo o Recife cru, sem máscara, sem nenhum tipo de encantamento. É o Recife como ele é, e isso tem tudo a ver com meu trabalho".

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