Tópicos | 21ª fase

O empresário Salim Schahin, um dos donos do Grupo Schahin, afirmou em sua delação premiada que o pecuarista José Carlos Bumlai levou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a reunião na sede da empresa durante as tratativas para empréstimo de R$ 12 milhões, concedido em 2004, que teria como destino final os cofres do PT. Todo negócio estaria "abençoado" pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele nega.

A operação de empréstimo, um dos motivos que levaram Bumlai para a cadeia nesta terça-feira (24), foi revelada pelo delator Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras. Ele relatou em outubro aos procuradores da força-tarefa que Bumlai, juntamente com o operador de propinas do PMDB Fernando Baiano, teria dirigido um contrato da estatal de R$ 1,3 bilhão - para operação do navio-sonda Vitoria 10.000 - como compensação a uma dívida de "R$ 60 milhões" do PT com a Schahin.

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Telefonema. O empresário confirma a contratação como pagamento pelo empréstimo nunca pago feito pelo pecuarista amigo de Lula.

Alvo da Lava Jato, Salim contou o que sabia no início do mês e relatou que o então ministro José Dirceu ligou pessoalmente para ele. "Em meados de 2004, José Carlos Bumlai foi trazido ao Banco Schahin pelo então executivo do banco Sandro Tordin, buscando tomar um financiamento de R$ 12 milhões", disse Salim em depoimento.

"Na ocasião foi apresentado um pedido de empréstimo, alegando-se, inclusive, que se tratava de um pedido do Partido dos Trabalhadores e ele, José Carlos Bumlai, tomaria o empréstimo em nome do partido, pois havia uma necessidade do PT que precisava ser resolvida de maneira urgente", registra a força-tarefa.

Em 2004, o PT participaria das primeiras disputas eleitorais nos municípios, após a eleição de Lula como presidente, em 2002. "O empréstimo foi concedido porque abriria oportunidade de retorno em negócios para o grupo empresarial junto ao governo."

"Dias depois foi realizada uma nova reunião na sede do Banco Schahin", conta Salim. "Como novidade, Bumlai veio acompanhado de Delúbio Soares." A presença do ex-tesoureiro do PT - que foi condenado em 2012 no processo do mensalão - "trouxe um pouco de mais de conforto", disse Schahin. "Tendo em conta que ele, diferentemente de Bumlai, tinha relação direta com o PT." No novo encontro, o empresário afirmou que Bumlai e Delúbio insistiram na necessidade de urgência no empréstimo.

Schahin conta que, nesse segundo encontro, Bumlai e Delúbio informaram que como "evidência adicional", a Casa Civil procuraria um dos acionistas do Banco Schahin. "Dias depois o depoente (Salim Schahin) recebeu um telefonema de José Dirceu. A conversa tratou de amenidades não abordando a operação de Bumlai, mas a mensagem estava entendida." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma operação fictícia de dação de "embriões de gado de elite" para agropecuárias do Grupo Schahin foi a forma de simular a quitação formal do empréstimo de R$ 12 milhões concedido, em 2004, pelo banco do grupo ao pecuarista José Carlos Bumlai, alvo central da Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato deflagrada nesta terça-feira, 24. O dinheiro, que nunca foi devolvido para a Schahin, teria abastecido os cofres do PT e de campanhas do partido, entre elas a reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, suspeita a força-tarefa da Operação Lava Jato.

A delação de um dos donos da Grupo, Salim Schahin e de executivos foi decisiva para as descobertas da Lava Jato. "Em meados de 2004, José Carlos Bumlai foi trazido ao Banco Schahin por Sandro Tordin um executivo do Banco na época, buscando tomar um financiamento de R$ 12 milhões de reais", contou Salim, que disse que estavam presentes ele, Tordim, outros dois donos do grupo, Carlos Eduardo Schahin e Milton Schahin, além de Bumlai.

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"Lhe foi relatado posteriormente que na ocasião foi apresentado um pedido de empréstimo, alegando-se, inclusive, que se tratava de um pedido do Partido dos Trabalhadores e ele, José Carlos Bumlai, tomaria o empréstimo em nome do Partido, pois havia uma necessidade do PT que precisava ser resolvida de maneira urgente", registra a força-tarefa, em delação de Salim.

"O empréstimo foi concedido porque abriria oportunidade de retorno em negócios para o grupo empresarial junto ao governo. Em uma das reuniões participou Delúbio Soares de Castro, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Segundo ele, de maneira cifrada, foi sinalizado pelo então Ministro da Casa Civil José Dirceu de Oliveira e Silva que o empréstimo a José Carlos Bumlai seria destinado ao referido partido político. O empréstimo não foi pago no vencimento e foi sucessivamente renovado."

O dono da Schahin afirmou em sua delação que chegou a receber visita de Delúbio Soares e de Marcos Valério, o operador de propinas do caso mensalão, para tratarem da quitação do empréstimo de R$ 12 milhões, mas a questão não foi resolvida.

Gado falso

A solução encontrada foi a operação fictícia com os embriões de gado. "Para quitar o empréstimo, o Banco Schahin, em 27 de dezembro de 2005, concedeu três empréstimos à empresa Agro Caieiras Participações, outra empresa de José Carlos Bumlai."

Os valores destinaram-se à quitação do empréstimo anterior. Os novos empréstimos não foram pagos. O Banco Schahin transferiu o crédito para a Companhia Securitizadora do Grupo Schahin, no montante acumulado de R$ 21.267.675,99.

As revelações de Salim Schahin confirmaram aquilo que havia sido apontado por dois delatores da Lava Jato, o ex-gerente Eduardo Musa e o operador de propinas do PMDB Fernando Soares, o Fernando Baiano. O valor de R$ 12 milhões dado a Bumlai em 2004 foi pago com um contrato de operação do navio-sonda Vitoria 10.000, dirigido irregularmente para a Schahin.

"Para resolver o problema, o colaborador (Salim) procurou João Vaccari Neto (ex-tesoureiro do PT, preso pela Lava Jato) no ano de 2006 e solicitou auxílio político para que Schahin fosse contratada pela Petrobras para operar o navio-sonda Vitoria 10000. A negociação teria sido bem sucedida, sendo convencionado que a contratação da Schahin levaria à quitação do empréstimo", sustenta o MPF, em seu pedido de prisão.

"Para a quitação formal do empréstimo, foi simulada a sua quitação com a dação em pagamento de 'embriões de gado de elite' para Agropecuárias vinculadas ao Grupo Schahin no montante da dívida repactuada de doze milhões de reais. Os embriões não existiam de fato."

"Dessa forma, durante o ano de 2009, de forma vinculada à assinatura do contrato com a Petrobras, houve a quitação formal do débito de Bumlai junto ao Banco Schahin com uma simulação de dação de pagamento envolvendo notas promissórias relacionadas a um negócio de venda de embriões de José Carlos Bumlai às Fazendas de propriedade da família Schahin. Participaram da 'quitação' o filho de Bumlai, Mauricio, e sua esposa, Cristiane Dodero Bumlai. O fato é que, como 'quitação' pelo empréstimo, a Schahin foi contratada para operação da Sonda Vitória 10.000."

O MPF anexou ao pedido de prisão contratos de 27 de janeiro de 2009, através do qual José Carlos Costa Bumlai vendeu embriões às empresas Agropecuária Alto do Turiaçu Ltda. por R$ 7.680.000,00 e Agropecuária Maranhense S/A - Agromasa por R$ 4.320.000,00, juntamente com notas promissórias em favor de José Carlos Bumlai e endossadas para a Schahin Securitizadora. Na mesma ocasião, a Schahin Securitizadora aceita as notas promissórias para quitação da dívida.

Garantia precária

O juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, afirmou em sua decisão de prisão de Bumlai que "alguns fatos chamam a atenção". "O empréstimo inicial foi concedido com garantia precária, mera nota promissória do devedor, o que é incomum para contratos de vulto, de cerca de R$ 12 milhões de reais."

Outro ponto é que entre outubro de 2004 e janeiro de 2009 "não houve qualquer pagamento, ainda assim o Banco Schahin e seus sucessores não se dispuseram a promover a execução forçada da dívida, omissão bastante incomum para qualquer instituição financeira". "O empréstimo, ao final, restou quitado pelos mesmos doze milhões de reais, ou seja, sem qualquer juro, algo também bastante incomum para qualquer instituição financeira." A "quitação do empréstimo" ocorreu um dia antes da celebração do contrato de operação do navio-sonda Vitoria 10000, entre a Petrobras e a Schahin.

"Essas circunstâncias, concessão de empréstimos sem garantia, sem amortização parcial e total durante anos e igualmente sem cobrança ou execução, reforçam as características fraudulentas, já afirmadas pelo próprio dirigente do Grupo Schahin, de todas as operações", escreveu Moro.

Na decisão que mandou prender o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e suspeito de intermediar propinas envolvendo contrato de navio-sonda da Petrobras, o juiz Sérgio Moro ressaltou que não há nenhuma prova contra o ex-presidente petista no empréstimo de R$ 12 milhões do banco Schahin ao pecuarista que - segundo os investigadores e com base em delações dos próprios executivos do banco - teria sido para repassar dinheiro ao PT.

"Não há nenhuma prova de que o ex-Presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução", aponta o magistrado na decisão.

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Moro ainda faz referência às delações premiadas do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, na qual ele cita que o pecuarista teria utilizado várias vezes o nome do ex-presidente para intermediar em negócios. De acordo com o juiz, Bumlai "teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente da República para obter benefícios".

Além do magistrado, o procurador da República, Carlos Fernando dos Santos, disse, em entrevista na sede da PF, em Curitiba, que não é possível calcular o envolvimento de Lula nas operações financeiras. "Havia o uso do nome do ex-presidente, mas até o momento, em nossos levantamentos não houve alguma intercessão, apenas ouvimos nos depoimentos que as ordens vinham de cima", comentou.

'Episódios criminosos'

Ao mesmo tempo em que aponta a falta de provas do envolvimento do ex-presidente, o juiz da Lava Jato destaca o papel decisivo do pecuarista em "episódios criminosos" envolvendo o PT.

"João Carlos Bumlai se insere totalmente nesse quadro, pois as provas indicam que disponibilizou seu nome e suas empresas para viabilizar de maneira fraudulenta recursos a partido político, com todos os danos decorrentes à democracia, e, posteriormente, envolveu-se na utilização de contrato público de empresa estatal para obter vantagem indevida para si e para outrem", escreveu.

Prisão cautelar

Sérgio Moro considerou a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, alvo central da Operação Passe Livre, deflagrada nesta terça-feira, 24, necessária dentro de um contexto de corrupção sistêmica e profunda.

"Excepcional no presente caso não é a prisão cautelar, mas o grau de deterioração da coisa pública revelada pelos processos na Operação Lava Jato, com prejuízos já assumidos de cerca de seis bilhões de reais somente pela Petrobras e a possibilidade, segundo investigações em curso no Supremo Tribunal Federal, de que os desvios tenham sido utilizados para pagamento de propina a dezenas de parlamentares, comprometendo a própria qualidade de nossa democracia", escreveu Moro, em sua decisão de prisão de Bumlai.

"Embora as prisões cautelares decretadas no âmbito da Operação Lava Jato recebam pontualmente críticas, o fato é que, se a corrupção é sistêmica e profunda, impõe-se a prisão preventiva para debelá-la, sob pena de agravamento progressivo do quadro criminoso", diz Moro, em decisão do dia 19.

"Se os custos do enfrentamento hoje são grandes, certamente serão maiores no futuro. O país já paga, atualmente, um preço elevado, com várias autoridades públicas denunciadas ou investigadas em esquemas de corrupção, minando a confiança na regra da lei e na democracia."

Para o juiz da Lava Jato, a liberdade de Bumlai representaria um "risco à ordem pública". A força-tarefa da Lava Jato avança na comprovação de que partidos e políticos se valeram do esquema sistematizado de corrupção no governo.

Dois filhos do empresário José Carlos Bumlai também foram alvo da Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato deflagrada nesta terça-feira (24). Foram cumpridos mandados de condução coercitiva - quando o investigado é levado para depor. Os dois serão ouvidos pela Polícia Federal em Brasília. Bumlai foi preso em Brasília, onde prestaria depoimento à CPI do BNDES.

Como Bumali e os filhos estavam na capital federal, foi pedido de última hora o cumprimento de um mandado de busca e apreensão para apreender computadores e celulares no quarto de hotel em que eles estavam. Em Mato Grosso do Sul, também foi feita busca e apreensão na residência e nas empresas de Bumlai. No momento da prisão, o pecuarista se mostrou tranquilo e não apresentou resistência.

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Ainda nesta manhã, Bumlai embarca em avião da PF com destino a Curitiba, base da operação Lava Jato. o empresário fez exame de corpo de delito em brasília.

O amigo de Lula foi citado por dois delatores da Lava Jato. O lobista Fernando Baiano, um dos delatores do esquema de corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014, declarou que repassou a Bumlai quase R$ 2 milhões destinados à mulher de um dos filhos de Lula.

Segundo outro delator, Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, Bumlai intermediou o pagamento de uma conta do PT de R$ 60 milhões, originada na campanha à reeleição de Lula, em 2006. O nome da operação, Passe Livre, remete ao fato de que o pecuarista tinha livre acesso ao Palácio da Alvorada durante o governo do ex-presidente Lula.

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (24) a Operação Passe Livre, 21ª fase da Operação Lava Jato. As investigações desta etapa, segundo a PF, partem de apuração das circunstâncias de contratação de navio sonda pela Petrobras com 'concretos indícios de fraude no procedimento licitatório'. O empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, foi preso preventivamente em Brasília.

O pecuarista estava na capital federal, pois prestaria depoimento à CPI do BNDES nesta terça. Ele estava no hotel Golden Tulip, a poucos metros do Palácio da Alvorada. Bumlai será levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

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Segundo a PF, 140 policiais federais e 23 auditores fiscais cumprem 25 mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva e 6 mandados de condução coercitiva - quando o investigado é levado para depor - nas cidades de São Paulo, Lins (SP), Piracicaba (SP), Rio de Janeiro, Campo Grande (MS), Dourados (MS) e Brasília.

"Segundo apurações, complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos pagos a agentes públicos e diretores da estatal", informou a PF em nota.

A defesa do pecuarista disse que desconhece a prisão de Bumlai. O criminalista Arnaldo Malheiros Filho, advogado do amigo de Lula, disse que Bumlai está em Brasília para depor na CPI. Malheiros disse que não foi informado sobre os motivos da prisão.

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