O ano era 1888, o Brasil ainda nem havia libertado seus escravos quando foi fundado, no Recife, o Clube das Pás de Carvão, rebatizado mais tarde como Clube das Pás. Criada por quatro trabalhadores, a agremiação surgiu com o objetivo de preencher os carnavais recifenses - incumbência que vem sendo cumprida, com êxito, há mais de um século - porém, os bailes de dança que passaram a ser realizados na sede do clube, na década de 1950, acabaram subvertendo o Carnaval e alçando as Pás ao posto de templo da gafieira.
##RECOMENDA##A Orquestra das Pás, grupo que embala os bailes do clube desde os anos 1960, é uma das grandes responsáveis pela consagração do clube enquanto reduto dos bailes. Um pouco antes, em meados de 1950, a sede da agremiação carnavalesca passou a abrir aos finais de semana, com diversas festas, para atrair o público. Inicialmente, subiam ao palco os próprios frequentadores do lugar, como conta o historiador e diretor das Pás, Álvaro Melo: "Eram pessoas que tocavam algum instrumento e iam para ajudar o clube. Mas a coisa pegou corpo e se fez necessário ter músicos profissionais, ter a orquestra da casa. E assim surgiu."
No fim da década seguinte, 1960, o Clube das Pás vivia seu auge quando foi criada sua orquestra própria, chamada de Orquestra Continental. "Ela logo ganhou notoriedade no campo da música e passou a ser contratada por outras agremiações e instituições para tocar, como acontece até hoje", conta Álvaro. Passados 50 anos, a orquestra adotou o nome de seu clube de origem e transformou-se em uma das grandes atrações da casa. Com 16 integrantes - cinco cantores, nove músicos e dois técnicos -, o grupo comanda os bailes das Pás tocando boleros, cumbia, merengue, brega, valsa, samba, músicas da Jovem Guarda e músicas mais atuais. É da Orquestra a tarefa de abrir as festas e manter o salão cheio entre uma atração e outra.
Quem comanda o time, há 18 anos, é José Ernani de Souza, o Maestro Ernani. Ele, que deixou o serviço militar para se dedicar à música, assegura que a orquestra é o seu "cotidiano": "Nosso prazer é fazer o povo dançar e ser feliz.". A felicidade que se espalha pelo salão à execução de cada música sobe ao palco e as apresentações transcorrem em uma verdadeira sintonia entre músicos e público: "A banda executa certas músicas e a gente vê o povo chorar. A gente se emociona também", confessa o Maestro.
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Magia das Pás
"Esse clube tem alguma coisa, tem um clima que eu me arrepio". Quem diz é Castanho, um dos cinco vocalistas da Orquestra das Pás. Cantando nos bailes da casa há 16 anos, ele afirma ser uma grande "responsabilidade" estar ali e revela ser a emoção sua ferramenta de trabalho. "Às vezes eu até arengo, mas é para a gente fazer o melhor para que o povo volte".
No auxílio ao som da Orquestra, trabalha Erico Alexandrino. Ele integra a equipe do Clube das Pás há 11 anos, e atua em diversas áreas da agremiação. "O clube não está só comemorando 130 anos, mas está comemorando toda uma história de glamour, romance, amizade. Além de ser o clube mais antigo do brasil, tem uma história que nenhum outro clube tem".
Nestes 130 anos de atividades, o Clube das Pás não fechou as portas nem uma vez, mesmo nos momentos de maior dificuldade financeira. As festas continuam atraindo pessoas de todas as idades, posições sociais e lugares, do país e do mundo, sempre recepcionadas com a casa pronta - após um banho de cheiro - e a orquestra "boda de ouro" preparada para uma noite inteira de boa música. Os cicerones prometem: a visita será sempre repleta de alegria, emoção e a certeza de volta. "Quem vem se apaixona" , garante Erico.
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Aniversário
Nesta segunda (19), o Clube das Pás celebra seus 130 anos com festa e homenagens. As comemorações começam às 17h, na sede, com uma celebração ecumência em Ação de Graças pela data. Em seguida, se apresentam a Orquestra das Pás e a Escola de Frevo do clube. Às 20h30, o presidente Rinaldo Lima conduz cerimônia de homenagem a 30 personalidades pernambucanas, entre autoridades e artistas, como o cantor Claudionor Germano. E, após o corte do bolo, os presentes contarão com um coquetel e show de Elymar Santos. A festa é restrita a convidados, associados e beneméritos do clube. Em maio, será lançado um livro, escrito pelo historiador Álvaro Melo, com a história do clube centenário.
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