Tabata diz que o PT 'ignora machismo' de Zé de Abreu
Segundo a deputada federal Tabata Amaral, 'o partido está mostrando que, na prática, não só não é comprometido contra o machismo, como despreza essa luta'
Para a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), o Partido dos Trabalhadores só repreende atitudes machistas quando é conveniente. A parlamentar se refere ao episódio de ofensas proferidas pelo ator José de Abreu (PT-SP), militante da esquerda e possível candidato à Câmara pela sigla em 2022. Em entrevista à BBC no início de outubro, mas com divulgação apenas nesta quarta-feira (27), Amaral lamentou o silêncio da legenda e alegou que os dirigentes não estão comprometidos com as pautas abordadas pelos petistas.
No final de setembro, após a deputada defender em uma entrevista a necessidade de "furar a bolha da esquerda e da direita" e "chegar ao povo", José de Abreu compartilhou um tuíte de outro perfil que dizia querer socar a parlamentar. O caso gerou grande solidariedade à Tabata nas redes sociais, mas também silêncio de parte das lideranças da esquerda, inclusive de deputadas feministas, assim como da cúpula do PT, partido ao qual o ator é filiado desde 2013.
"Toda vez que alguém se silencia diante de um caso como esse, a pessoa é conivente com o que está acontecendo. Então, na hora que as principais lideranças do PT silenciam sobre o que ele fez e o apresentam como candidato à Câmara dos Deputados, o partido está mostrando que, na prática, não só não é comprometido contra o machismo, como despreza essa luta dependendo de quem é o alvo e dependendo de quem é o agressor", criticou, em um segundo encontro com a BBC News Brasil em outubro, dessa vez virtual.
Não só a sigla não repudiou sua atitude publicamente, como Zé de Abreu anunciou pouco depois que pretende se candidatar pelo PT à Câmara dos Deputados em 2022. Para Tabata, a postura do partido no episódio demonstra conivência com o ataque que sofreu, o que a deputada classifica como crime de incitação à violência. À época que o tuíte foi compartilhado, Tabata confirmou que tomou medidas legais diante do caso.
"Da mesma forma que é lamentável que tenha uma pessoa como (o presidente Jair) Bolsonaro na política, que diz tantos absurdos contra mulheres como a (deputada do PT) Maria do Rosário, é lamentável que o Partido dos Trabalhadores tenha uma pessoa que incita a violência contra as mulheres por discordância (política). É um desserviço para as mulheres, é um desserviço para a política, para o nosso Brasil, mas acho que entra na lista de incoerência na luta dos partidos como um todo contra o machismo", diz ainda, recordando o episódio em que Bolsonaro, quando era deputado, disse à Rosário "não te estupro porque você não merece", continuou.
A deputada atribui os ataques ao fato de “não rezar fielmente a cartilha de nenhum dos lados, intensificada por sua condição de jovem mulher”, referindo-se à direita e à esquerda. Ela contou que é justamente nesses encontros com novas lideranças, especialmente femininas, que renova sua motivação na vida pública. Na sua visão, apenas com o aumento das mulheres na política, em uma transformação estrutural que deve levar anos ainda, esse ambiente se tornará menos hostil e violento para elas.
Após a ampla repercussão, José de Abreu publicou um artigo no jornal Folha de S.Paulo com o título "Peço desculpas, Tabata; errei redondamente", em que diz que agiu por "impulso", argumenta que retuitar mensagem "não é endosso" e faz críticas a sua atuação parlamentar. Para Tabata, "as desculpas ficam apenas no título".
"É um artigo em que ele se autopromove. Em que basicamente ele justifica a agressão pelos meus posicionamentos políticos. E aí eu sou muito firme em dizer que, da mesma forma que não tem minissaia, não tem comportamento que justifique o assédio, não tem posicionamento político que justifique alguém te intimidar", afirma.
"Incitação à violência é crime. Nunca fiquei sabendo de crime que foi resolvido porque alguém escreveu um pedido de desculpas. Então, para mim, não muda nada", acrescentou, decidida a não recuar de providências judiciais contra o ator.