Presidentes que tiveram embate com as FFAA foram depostos
Avaliação é da historiadora e cientista política Heloísa Starling, em entrevista à BBC News Brasil
Levando em consideração as recentes trocas e demissões no Governo Bolsonaro, a historiadora e cientista política Heloísa Starling revisitou o histórico de conflitos entre presidentes e militares no Brasil nos últimos anos, em entrevista recente à BBC News Brasil. Ela relembrou que, para dois dos antecessores de Jair Bolsonaro — Getúlio Vargas e João Goulart —, o embate acabou mal.
Na última semana, além da demissão do ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, deixaram também o governo, conjuntamente, os comandantes do Exército, Edson Pujol; o da Marinha, Ilques Barbosa; e o da Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez. A saída do trio foi vista como um protesto pela demissão de Azevedo, mas nos bastidores, também se especula uma insatisfação pessoal de Bolsonaro com Pujol, que se posicionou publicamente contra a participação dos militares na política.
Apesar da história, Starling destaca que atualmente os militares não vocalizam um golpe da forma que antes já aconteceu, inclusive, que há pouca movimentação interna favorável a uma troca de poder. "Em 64, não tinha o silêncio que vemos hoje na sociedade e nos quartéis. Não tem hoje um general da ativa falando que precisa de uma intervenção. Não existe uma mobilização social a favor disso. Tem apoio de uma fatia da sociedade, mas ela não é expressiva o suficiente para criar um ambiente favorável para um golpe”, explica a pesquisadora.
A cientista continua e diz, na entrevista, que a mesma situação se vê nos outros dois poderes, o Legislativo e o Judiciário. "Há um apoio de deputados de extrema-direita, mas não do Congresso como um todo e menos ainda no Supremo. Pelo contrário, há falas muito cautelosas, dizendo: 'Não é por aí'."
Retomando os exemplos de Vargas e João Goulart, a historiadora explica que Vargas buscava fazer a transição da ditadura do Estado Novo para a democracia quando foi obrigado a renunciar por um movimento liderado por generais que eram parte da sua ala do governo. Já Jango foi destituído pelo grande golpe de 1964, estopim da ditadura que durou 21 anos, acabando em 1985. A última vez em que houve um confronto semelhante entre as Forças Armadas e o Executivo foi em 1977.
Starling diz que, diante da história do país, pode ser inevitável pensar que o passado está se repetindo. Já houve ao menos 15 tentativas de intervenção militar, nas contas da entrevistada. Duas delas bem sucedidas: em 1937, com o golpe que deu início ao Estado Novo, e em 1964. "O que vemos agora também é uma crise militar e uma situação de crise política incontrolável", completa.