'Pesquisa alemã', citada por Bolsonaro, foi enquete online
O link que levava ao questionário circulou por fóruns e páginas que reúnem críticos das medidas tomadas pelo governo alemão para conter a pandemia
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a deslegitimar o uso das máscaras no combate à proliferação da doença em uma live nesta quinta-feira (26). Sem citar fontes, Bolsonaro declarou que um estudo de "uma universidade alemã" apontava "efeitos colaterais" do uso do item de proteção recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
No entanto, a pesquisa a que Bolsonaro se refere não tem base científica. Os próprios realizadores da enquete apontam que seu levantamento "não é representativo". Nas conclusões do questionário usado para coletar os dados da pesquisa, eles apontam que o link que levava ao questionário circulou por fóruns e páginas que reúnem críticos das medidas tomadas pelo governo alemão para conter a pandemia.
Segundo informações do DW, a pesquisa citada por Bolsonaro foi realizada no segundo semestre de 2020. Até 26 de outubro, 20.353 pessoas haviam respondido o questionário, inserindo dados de supostas 25.930 crianças. A participação era voluntária e aberta para qualquer pessoa que clicasse no link do questionário, sem haver coleta de amostras da população para ter um quadro representativo da sociedade alemã.
Os resultados, segundo os dados coletados, foram os seguintes: "Perturbações causadas pelo uso da máscara foram relatadas por 68% dos pais. Incluíam irritabilidade (60%), dor de cabeça (53%), dificuldade de concentração (50%), diminuição de felicidade (49%), relutância em ir à escola/jardim de infância (44%), mal-estar (42%) prejuízos à aprendizagem (38%) e sonolência ou fadiga (37%)."
Porém os resultados coletados neste questionário são contrários a pesquisas realizadas por institutos de pesquisa tradicionais da Alemanha no mesmo período. Uma pesquisa encomendada pelo canal ZDF mostrou que apenas 10% dos alemães avaliavam que as medidas tomadas pelo governo eram exageradas. Outros 77% afirmaram que apoiavam mais restrições para conter a doença. No início de outubro, outra pesquisa apontou que o percentual de alemães que avaliavam as medidas como excessivas não passava de 11%.
A Sociedade Alemã de Medicina Infantil e Adolescente (DGKJ) também considera razoável e viável que crianças desde o ensino fundamental usem máscara em espaços públicos. Todos os estados alemães preveem exceções para crianças que não podem usar máscaras por razões médicas ou psicológicas.