Onda conservadora no exterior não deve pautar eleições

Apesar de na sua raiz o Brasil ser um país conservador, segundo o cientista político Elton Gomes, não existe ainda alguém que defenda as teses deste pensamento. Para o estudioso, Jair Bolsonaro (PSC), apontado como conservador, é na realidade "populista de direita" e "reacionário"

por Giselly Santos qui, 16/11/2017 - 15:32
Brenda Alcântara/LeiaJáImagens/Arquivo Apesar de ser apontado como conservador, Bolsonaro não defende literalmente as teses do pensamento Brenda Alcântara/LeiaJáImagens/Arquivo

O neoconservadorismo tem pautado as disputas pelo comando de países da Europa - entre eles França, Holanda e Alemanha - e ampliado a defesa de pautas como o nacionalismo ultra radical, o ataque às minorias e práticas xenófobas. Esta nova onda de um pensamento surgido no século 18, de acordo com o cientista político Elton Gomes é de “dupla natureza” e “não deve atingir o Brasil” durante as eleições de 2018, uma vez que entre os nomes já postos no cenário nenhum se apresenta na defesa de ideias característicos do conservadorismo.   

Fazendo um panorama da conjuntura internacional, o estudioso salientou que o “neoconservadorismo em alguns momentos advoga em favor da lógica tradicional, contra as utopias políticas, e em outros se apresenta como uma espécie de ultra nacionalismo radical, xenófobo, contrário a determinadas inovações importantes”. Segundo ele, isso ocorre principalmente na Europa Ocidental, sobretudo na França com Marine Le Pen e a questão dos imigrantes, mas também na Holanda e na Alemanha. 

Já quanto às posturas do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, cuja eleição trouxe à tona uma discussão mais intensa sobre o conservadorismo, o cientista político pontuou que não representam o pensamento em sua literalidade. “Ele é muito mais um populista de direita do que um conservador padrão, com a lógica tradicional”, classificou. 

Argumentando sobre a perspectiva conservadora internacional diante da conjuntura política brasileira e um processo eleitoral à vista, Elton Gomes observou que o país “não tem alguém que represente o verdadeiro conservadorismo”, o que faz com que ele descarte um possível peso do aspecto na corrida presidencial em 2018, mesmo com a recém ascensão de lideranças como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

“Temos algumas alternativas com a retórica de força que, sobretudo, defendem pontos sobre a segurança pública, uma intervenção do Estado para questões consideradas importantes para a manutenção de valores tradicionais, como a igualdade de gênero, mas não é conservadorismo político no espectro liberal conservador”, frisou. “Temos um populista de direita isso sim. Jair Bolsonaro vem crescendo a partir da crise de segurança pública e do colapso moral [dos casos de corrupção]. Como ele, apesar de ter essa retórica confrontacionista, não foi arrolado em escândalos acaba conquistando um capital político interessante”, complementou.

Com seus discursos, Bolsonaro vem aparecendo em segundo lugar nas pesquisas de intenções de votos, variando entre 19% e 30%. Para o estudioso, entretanto, o eventual presidenciável não tem “recursos políticos que lhe permita ser competitivo”.  “Ele não tem um governador, um prefeito que lhe apoie e um tempo de TV pequeno. O que ele pode é fazer capital político para uma eleição seguinte”, observou.

Candidato conservador beneficiaria o país

O Brasil em si é conservador e isso não é novidade, mas um candidato a presidente da República que defendesse tais teses seria benéfico para o país, sob a ótica do cientista político Elton Gomes. 

“Seria benéfico que tivéssemos uma força política de esquerda bem libertária e uma de direita bastante conservadora. Isso ajudaria a saber que tipo de ideia os políticos defendem. No Brasil, os atores políticos são muito acomodativos, os princípios que eles defendem são alacarte. Quando convém defende a intervenção do Estado na economia, quando não o livre mercado. Uma hora são favoráveis as família tradicionais, na outra são defensores das minorias. Essas questões são difíceis de ser percebidas pelo eleitor médio que colocam todos em um patamar único”, argumentou. 

Para justificar o pensamento, o estudioso destacou ainda a diferença entre conservadorismo e reacionarismo. “Conservador é alguém que acha que existe uma experiência societária comprovada e precisa ser preservado. Reacionário é contrário a toda forma de mudança, principalmente aquele que está numa posição de poder e quer manter seu privilégio. O Brasil tem muito disso e acaba sendo confundido como conservador”, afirmou. 

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