Há força para o PT vencer em 2018?
A legenda luta contra o tempo para recuperar a força perdida nos últimos anos, após escândalos de corrupção
Entre todas as incertezas, uma certeza existe dentro do Partido dos Trabalhadores: a luta das lideranças e militantes petistas para deixar de lado o cenário da eleição de 2016. Após a disputa, uma posição indesejável: o PT foi a legenda que mais encolheu. Para se ter uma ideia, o PT perdeu mais da metade das prefeituras pelo Brasil tendo uma queda de 60% em comparação a 2012.
Apesar do contexto da disputa de 2018 ser diferente, já que será uma eleição majoritária, a pretensão é recuperar a força. A resolução do diretório estadual do PT, aprovado por unanimidade pelos 300 delegados presentes no 6º Congresso Estadual, é clara: fortalecer a atuação e intensificar a mobilização da sigla.
Outra prioridade é a apresentação de uma candidatura própria para governar Pernambuco em oposição ao governo do PSB. O presidente estadual do PT-PE, Bruno Ribeiro, em entrevista ao LeiaJá, mostrou um otimismo sem igual nessa perspectiva. “Eu acredito que o PT vai apresentar um candidato e que vai ser vitorioso”, garantiu.
A sua posição vai de encontro com a resolução que ressalta que a gestão do PSB no estado é “desastrosa”. “A gestão desastrosa do PSB em Pernambuco está impondo outros graves retrocessos ao povo pernambucano que tem como exemplo o caos atual na segurança pública”.
Ribeiro pontua “outras dificuldades”. “Na segurança, as pessoas saem de casa com medo, entram no ônibus com medo, vão a um caixa automático com medo e a saúde não está satisfatória. Na educação, nem a promessa de campanha de valorizar o salário dos professores foi posto em prática, nós estamos com severos problemas porque não há política para a segurança hídrica. Se falta água no Sertão, já são seis anos de estiagem, o governo não tem uma política para tratar a morte do rebanho. Se chove, também há flagelos, inundação e desabrigo. Então, é um governo que não está atendendo as expectativas que o povo de Pernambuco quer e que precisa”, criticou.
Portanto, o presidente falou que a posição do PT-PE continua firme sem possibilidade de aproximação com o PSB. “Se fez muita especulação, o presidente Lula fez uma visita a Renata, mas foi em caráter pessoal, e aí especulam em torno disso, mas nada disso tem raiz não. A posição nossa em Pernambuco está na nossa resolução. Nós continuamos com a mesma posição de oposição ao governo do PSB. Há muitas distâncias tanto nas posições gerais que o PSB assumiu nos últimos anos ao afastar de Dilma, ao votar em Aécio, ao voltar no impeachment e em questões locais, que a gente tem discordâncias. Há vários aspectos da gestão, segurança, educação, saúde, enfim, as distâncias são grandes”, garantiu.
Um pouco mais ponderado sobre uma aproximação com o PSB, o senador Humberto Costa (PT) declarou que também não vê nenhuma perspectiva em curto prazo de qualquer aliança com o PSB. “Nós estamos faz um bom tempo afastados politicamente desde as eleições de 2012 e isso se agravou em 2014 e em 2016. No ano passado, o PSB de Pernambuco também apoiou o impedimento da presidente Dilma. Tudo isso nos afastou. Hoje, há algumas identidades em torno dos temas das reformas, da oposição ao governo Temer, mas eu não vejo como se construir isso nesse espaço de tempo imediato”, contou ao LeiaJá.
No entanto, Humberto disse que o PT não fecha nenhuma porta. “Agora, obviamente que nós não fechamos nenhuma porta. Politicamente, sempre tivemos nos últimos anos muito mais aproximação com Armando Monteiro [senador], mas também no momento em que estamos vivendo hoje, essa aproximação deixou de existir nos termos que existia anteriormente. Então, tudo é incerteza. Mas, eu acho difícil. Se as eleições fossem hoje, o PT necessariamente teria um candidato”.
Para o senador, o importante é que a legenda continue mobilizando a sociedade “promovendo reuniões, encontros e audiências públicas nas principais cidades do estado”.
Quem será o candidato?
Nessa quarta-feira (5), um dos nomes que mais aparece nos bastidores para disputar a o comando do governo estadual pelo PT, a vereadora do Recife, Marília Arraes, disse que está “disposta” e preparada para assumir qualquer missão que lhe venha a ser atribuída. No entanto, Bruno Ribeiro, desconversou sobre o assunto, destacando que a parlamentar é um bom quadro, mas que o nome ainda está sendo discutido.
“Marília é um bom quadro, está andando em Pernambuco e isso é muito bom para o partido, mas nós ainda não estamos discutindo nomes de candidato não. O nome dela é uma hipótese, mas existem outras hipóteses também. Discutir nomes agora não é o momento adequado. A gente tem que discutir com a sociedade o conteúdo, projeto de governo e, logo logo, a gente discutirá o nome que vamos defender”, disse.
Ele ressaltou que a candidatura do PT será uma saída para os impasses que o estado está vivendo. “Com certeza o partido vai recuperar a sua força porque hoje o pernambucano quer retornar a confiança no futuro e ter esperança na sua própria vida. O povo quer um governo que atenda e priorize e é isso que a candidatura do PT vai oferecer aos pernambucanos”.
Eleição diferente
Marília Arraes acredita que a tendência é que a eleição de 2018 seja “totalmente diferente” da que aconteceu em 2014 e em 2016. Ela considerou que essas últimas foram “disputas atípicas”. “Principalmente para o PT com todo o linchamento midiático que estava acontecendo com a grande mídia tentando fazer com que as pessoas pensassem, praticamente, que o PT tinha inventado a corrupção e, hoje, as pessoas estão vendo que não é assim”, disse citando como exemplo o “sucesso absoluto” que foi a caravana do ex-presidente Lula.
Arraes também acredita que, no próximo ano, devido ao cenário político atual, as pessoas irão valorizar mais o seu voto. “As pessoas estão começando a notar que há uma diferença de projetos e diferença entre políticos. Eu acho que não é questão do PT recuperar cargos, enfim, nada disso. Eu acho que é que as pessoas tendem a valorizar mais o voto, especialmente o voto pela renovação. Vamos ver o que vai acontecer. Eu estou bastante confiante de que o povo vai estar mais consciente”, frisou.
A petista também descartou uma aproximação com o PSB. “A não ser que eles queiram apoiar o PT porque já foi decidido que teremos candidatura própria e que já passou por duas votações internas do partido: na Executiva e no diretório, então não vejo como até porque o projeto do PSB está sendo ruim para Pernambuco. Seria uma irresponsabilidade com o estado aprovar o pior governo que Pernambuco já teve”, disparou.
A incógnita sobre Lula
Outro fator que será fundamental falando nacionalmente da sigla é a maior incógnita que há quando se trata do ex-presidente Lula. Por ter sido condenado, em primeira instância, a cumprir pena de reclusão a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro, existe a possibilidade de que o líder petista seja impedido de disputar a presidência da República no próximo ano.
Caso isso venha a condenação de Lula seja efetivada, o PT poderá considerar o fato mais uma grande derrota que se somará à perda de força no pleito de 2016. Se depender do ex-presidente, sua candidatura é certa. “Se eu for candidato é para ganhar e ganhando eles [oposição] sabem que eu sei, não governar, mas cuidar do povo deste país. Quero que eles saibam que já fui presidente da República e quem vai decidir é o povo brasileiro”, chegou a dizer recentemente durante evento no Recife.
Lula também tem usado um discurso para o lado emocional. Entre as declarações, ele afirmou que quem não morreu de fome, não tem que se preocupar com nada. Repetidamente, tem contado as dificuldades vividas na infância e afirmou que Deus foi muito “generoso” com ele.