Fernando Haddad: 'falta força ao PT, não vontade'
Participando de um debate sobre crise política e democracia, nesta sexta-feira (11), ele justificou o argumento ao ponderar que de uma eleição para a outra o campo de esquerda, incluindo o PT, perdeu 60% dos votos
Fazendo um panorama do cenário atual do Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, afirmou que o que falta hoje a sigla é "força" para encabeçar uma disputa pelo comando do país. O comentário foi feito durante um debate sobre crise política e democracia na Universidade Federal de Pernambuco, nesta sexta-feira (11). Haddad justificou o argumento ao ponderar que de uma eleição para a outra [2014 a 2016] o campo de esquerda, incluindo o PT, perdeu 60% dos votos.
"Falta força ao PT. O dia que eu achar que falta vontade vou procurar outro lugar, mas se tem vontade e falta força é a hora de vermos o que vamos fazer. Perdemos 60% dos votos entre uma eleição e outra no Brasil. Isso é muito difícil. É de que precisamos reconstruir um projeto do zero. A população está digerindo e vendo que caminho tomar e não vai passar a mão na cabeça de ninguém", declarou, frisando que atualmente "a percepção das pessoas não inocenta ninguém". "Já que tomamos este caminho vamos colocar as entranhas para fora", completou.
Indagado sobre as ideologias do PT, se continuam as mesmas, Haddad disse que algumas pessoas defenderam a saída dele da legenda para ganhar a eleição em 2016. "Mas eu ia para onde? Sair de um partido e ir para o outro, neste cenário, para onde que a gente vai? Adoraria que fosse fácil fazer um partido de esquerda competitivo, para gente disputar para valer mesmo. Não é fácil", salientou.
"Pertenço a um campo, não vai deixar este campo. Não vou deixar este campo que eu acredito. Entendo que ele é o ideal mais generoso para o Brasil e quero ver a reconstrução competitiva deste campo. Para disputar o comando do país e ter o desejo de um Brasil mais generoso na cabeça", complementou.
Destrinchando ainda sobre o período em que o PT esteve sob o comando do país, com os mandatos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ele listou reformas e ações que o governo deixou de fazer, mas disse que "na questão dos direitos evoluímos muito".
Palestra na UFPE
Durante a palestra para alunos e professores da UFPE, Haddad detalhou que a democracia vive um período de "estresse", anda "mal das pernas" e deve ser retomada pelo povo. Aferindo a conjuntura, incluindo a reforma eleitoral que está em análise no Congresso Nacional, Haddad pontuou que "estamos vivendo um momento de risco" onde a tese de "soberania popular" previsto na Constituição pode "desfalecer". Ele ainda condenou o debate sobre o parlamentarismo no país.
"Estão trazendo distritão e parlamentarismo para a discussão sem a menor cerimônia ou debate. Discutir é democracia. Estamos vivendo um momento de muito risco. O meu temor é que o conceito de soberania popular se esfacele e perca a aderência", observou. "Se eles forem dar a última palavra sobre o caminho do país e nosso voto valer menos - que isso até 2014 valeu e agora não vale mais, o que tá aí não nos representa - tenho temores sobre o futuro do Brasil. Se estiver na mão do povo eu confio, independente delas errarem ou acertarem", acrescentou.