Empresário diz que aliados do PT comandavam propinas
Um dos delatores da Operação Lava Jato, Augusto Mendonça Neto, deu detalhes de como ocorriam as negociações e afirmou que ofereceu propina ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto
Ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o presidente da Setal Engenharia, Augusto Mendonça Neto, reafirmou, nesta quinta-feira (23), que pagou propina aos ex-diretores da estatal Renato Duque e Paulo Roberto Costa. Além disso, o delator confirmou o desvio de verbas para bancar as campanhas do PT e detalhou os benefícios garantidos para um “clube” de empresas que participavam dos esquemas de corrupção.
Durante a reunião da CPI, Mendonça disse que procurou o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, a pedido de Duque para fazer doações oficiais ao PT como parte do pagamento de propina. Segundo ele, foram cerca de 10 reuniões com Vaccari. “Nós parcelávamos o pagamento e às vezes atrasávamos”, explicou. Mendonça esclareceu, porém, que Vaccari não ofereceu a ele vantagens na Petrobras. “Mas o Duque sim”, disse.
Segundo o delator foram pagos R$ 2,5 milhões ao PT por meio de depósitos feitos como pagamentos por supostos anúncios em uma revista editada pela Gráfica Atitude, em São Paulo. Ele relatou ainda que pagamento de propina a Duque, a Paulo Roberto Costa e ao ex-gerente Pedro Barusco era feito via o doleiro Alberto Youssef. "Era como se eu tivesse pagando o Paulo Roberto", disse. Também eram feitos pagamentos por depósito bancário. "Nunca entreguei dinheiro diretamente a eles".
Clube de empresas
O delator também afirmou à CPI da Petrobras que os ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa e Renato Duque favoreciam as empresas do “clube” que se reuniu em cartel para obter contratos com a estatal.
“Eles ajudavam sim, na medida em que era entregue uma lista de empresas que seriam convidadas (para participar das licitações)”, disse, ao responder pergunta do relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
Segundo a Polícia Federal, participavam como membros principais desse “clube” as empresas Galvão Engenharia, Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Techint, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Promon, MPE, Skanska, Queiroz Galvão, Iesa, Engevix, Setal, GDK e OAS.
Mendonça disse que o clube começou em 1997 com apenas nove empresas. Mas que o número foi ampliado em 2003 e 2004, quando a Petrobras retomou seus investimentos, principalmente no setor de refino. “O grupo ganhou efetividade com a relação dos dois diretores (Paulo Roberto Costa e Renato Duque)”, disse o executivo. “Era uma forma de as empresas se protegerem diante da força da Petrobras. Se proteger de modo a não competirem entre si”, acrescentou.