Em sete horas de depoimento, empresário confirma propinas

Embora admita a corrupção, Augusto Mendonça Neto, um dos delatores da Operação Lava Jato, fez questão de frisar em vários momentos do depoimento à CPI que a ação era localizada

por Dulce Mesquita qui, 23/04/2015 - 18:15
Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados Mendonça disse que as doações aos partidos foram feitas de maneira legal Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Em sete horas de depoimento à CPI da Petrobras, nesta quinta-feira (23), o empresário Augusto Mendonça Neto, presidente da Setal Engenharia e Executivo da Toyo Setal Empreendimentos, confirmou o esquema de corrupção  na Petrobras, mas isentou as empresas de culpa. “O empresário, nessa situação, é vítima”, frisou ele ao afirmar que os contratos só eram firmados com a garantia do pagamento de propina.

Ele também disse que os ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa e Renato Duque favoreciam as empresas, que se organizavam em clubes para evitar concorrência entre si. Mendonça evitou usar o termo cartel. O executivo confirmou também a participação de Pedro barusco na corrupção e disse que a empreiteira ganhou dois contratos com Petrobras no período em que o esquema vigorou. Ele foi procurado pelo ex-deputado José Janene (PP), entre 2007 e 2008, que negociou o pagamento de propina. “Janene me apresentou a Alberto Youssef e disse que Youssef é que iria receber os valores mensalmente”, explicou. Ele disse que o doleiro ofereceu notas fiscais frias em troca do dinheiro.

"São as pessoas que eu sei que estavam envolvidas e que faziam a relação com os empresários", informou. Ao comentar o depoimento de Barusco à CPI, Mendonça concordou que a corrupção era generalizada, mas só dentro da Diretoria de Serviços. "Ele tem razão em um sentido, de fato, dentro da Diretoria de Serviços era generalizada. Eles queriam aplicar em todos os contratos", enfatizou. Segundo ele, as "comissões" saíam da margem de lucro das empresas, mas ele não soube informar se a comissão de licitação tinha conhecimento antecipado de quem venceria o processo.

Embora admita a corrupção, o empresário fez questão de frisar em vários momentos do depoimento a CPI que a ação era localizada. “Estamos assistindo hoje a Petrobras ser massacrada pela mídia e pela opinião pública, como se fosse uma companhia de segunda categoria, repleta de corruptos. Mas é exatamente o inverso. O único contato que tive com corrupção foi com essas pessoas, nesse período. Antes disso nunca soube de nada”, destacou.

Partidos

O executivo disse que Renato Duque pediu que ele fizesse contribuições ao PT e o encaminhou ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. "Procurei Vaccari no escritório do PT dizendo que tinha interesse de fazer contribuição ao partido. Ele me indicou onde deveria contribuir. Duque me pediu outras vezes. Fizemos outras contribuições", contou ele, que negou que Vaccari tenha oferecido vantagens, sejam legais ou ilegais.

Mendonça também afirmou ter feito doações legais a outros partidos políticos, como o PSDB e PR, mas disse que não a pedido dos diretores da Petrobras. "Todas elas são oficiais e estão devidamente registradas nas declarações. Não são fruto de propina", declarou.

Com informações das agências Estadão Conteúdo e Câmara.

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