Febre maculosa matou cientista que tentou criar vacina
Lemos Monteiro, pesquisador do Instituto, tinha 42 anos e foi infectado tentando produzir vacina contra a doença
Em 6 de novembro de 1935, o cientista Lemos Monteiro, especialista do Instituto Butantan, em São Paulo, morreu de febre maculosa. O médico tinha 42 anos e perdeu a vida para a doença uma semana após apresentar os sintomas. À época, ele tentava produzir uma vacina contra a infecção, e tinha contato constante com carrapatos em laboratório. A notícia foi amplamente divulgada pela imprensa local e publicada, na íntegra, pelo Estadão.
A febre maculosa, também conhecida como doença do carrapato, é uma infecção febril rara e que pode chegar a ser grave. O problema, em humanos, é que a evolução da doença é rápida e a letalidade por chegar a 50%, caso não seja tratada. Essa infecção é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia e transmitida pela picada do carrapato.
As reportagens da época, e mesmo o Instituto Butantan, reconhecem que as circunstâncias da infecção e da transmissão da doença tanto em Lemos, como em seu assistente, Edson Dias, que também adoeceu, não são claras até hoje. Lemos Monteiro trabalhava com doenças infecciosas consideradas mais infecciosas e graves, como varíola, coqueluche e tuberculose.
Dois anos antes de morrer, o pesquisador entrou para uma comissão do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo que tinha como objetivo criar maneiras de prevenir a febre maculosa, tendo como um dos objetivos a produção da vacina.
Segundo Carlos Jared, que hoje é pesquisador no Butantan trabalhando no prédio batizado em homenagem a Lemos Monteiro, a ideia era usar os próprios carrapatos transmissores, triturados em laboratório, na produção do imunizante contra as bactérias do gênero Rickettsia. O documento do Butantan diz que dois pesquisadores foram infectados, mas não especifica como.
As hipóteses consideram que, ao manipular o material, os cientistas produziram aerossóis (partículas em suspensão no ar) que seriam capazes de carregar a bactéria; ou que o contato de fragmentos dos carrapatos com pequenas feridas nas mãos poderiam ter provocado a transmissão. Uma terceira hipótese é o contato das mãos com os olhos.