Ucrânia teme a queda de Mariupol

Na região do Donbass, no leste, o governo ucraniano espera uma iminente ofensiva russa

seg, 11/04/2022 - 19:52
Genya SAVILOV Equipe da MSF atende pacientes em trem que retira vítimas da cidade ucraniana de Lviv, em 10 de abril de 2022 Genya SAVILOV

As forças ucranianas afirmaram, nesta segunda-feira (11), que temem a queda de Mariupol, cidade portuária estratégica no sudeste do país cercada há mais de 40 dias pelo exército russo, e cujo porto já estaria ocupado, de acordo com separatistas pró-russos.

Na região do Donbass, no leste, o governo ucraniano espera uma iminente ofensiva russa.

"De acordo com nossas informações, o inimigo está quase terminando sua preparação para um ataque no leste. O ataque começará muito em breve", disse o porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano, Oleksandr Motuzyanyk, nesta segunda-feira.

Em Washington, um funcionário do alto escalão do Pentágono confirmou que as tropas russas se reforçam no Donbass, principalmente próximo de uma cidade-chave Izium.

"Verificamos os esforços russos de reabastecimento e reforço em Donbass", declarou este funcionário, que citou uma coluna de tanques ao norte de Izium.

Na frente diplomática, o chefe de Governo da Áustria, Karl Nehammer, afirmou estar "pessimista" após uma reunião nesta segunda-feira com o presidente russo, Vladimir Putin, a primeira de um líder europeu em Moscou desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

"Não há necessidade para iludir-se. O presidente Putin entrou plenamente na lógica da guerra e agirá de acordo", explicou Nehammer. "Do lado russo, eles não estão muito interessados em um encontro direto" com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acrescentou o líder do governo austríaco.

Os russos cercam Mariupol há semanas e a captura da cidade permitiria consolidar suas conquistas territoriais na faixa costeira ao longo do Mar de Azov, conectando assim as áreas do Donbass com a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

"Hoje será provavelmente a última batalha, pois a munição está acabando", escreveu no Facebook a 36ª brigada da Marinha, que integra as Forças Armadas da Ucrânia.

"Durante mais de um mês estamos lutando sem munição, sem comida, sem água, fazendo o possível e o impossível", completou a unidade, antes de afirmar que quase metade dos integrantes da brigada estão feridos.

O líder dos separatistas pró-russos de Donetsk, Denis Pushlin, afirmou na segunda-feira que suas tropas conquistaram toda a área portuária de Mariupol.

"Quanto ao porto de Mariupol, já está sob nosso controle", disse ele ao vivo à emissora russa Pervy Kanal.

Oleksii Arestovich, conselheiro do presidente Zelensky, admitiu no domingo que "agora é impossível militarmente" libertar Mariupol.

"Inferno humanitário"

Zelensky afirmou, em uma mensagem de vídeo exibida na Assembleia Nacional da Coreia do Sul, que a Rússia "destruiu completamente" a cidade e que teme "dezenas de milhares de mortes" em Mariupol.

"Era uma cidade de meio milhão habitantes. Os ocupantes a cercaram e nem sequer permitiram o transporte de água e alimentos. Os russos destruíram totalmente Mariupol e a queimaram até reduzi-la a cinzas", afirmou.

Depois de revisar os planos e retirar as tropas da região de Kiev e do norte da Ucrânia, Moscou visa agora a conquista total do Donbass, uma região parcialmente controlada por forças separatistas pró-Rússia desde 2014.

Os analistas acreditam que Putin, que enfrenta uma intensa resistência ucraniana, deseja assegurar uma vitória nesta região antes do desfile militar de 9 de maio na Praça Vermelha, que marca a vitória soviética sobre os nazistas.

"A batalha por Donbass vai durar vários dias, e durante estes dias as cidades podem ficar totalmente destruídas", afirmou no Facebook Serguii Gaidai, governador de Lugansk, que voltou a pedir aos civis que abandonem a área.

"O cenário de Mariupol pode se repetir na região de Lugansk", alertou.

Na sexta-feira, um ataque com mísseis russos contra a estação de Kramatorsk, no leste, matou 57 pessoas, incluindo pelo menos cinco crianças.

Mais de 1.200 cadáveres

O chanceler austríaco Nehammer afirmou que a conversa com Putin de uma hora foi "direta, aberta e dura".

"Eu mencionei os sérios crimes de guerra em Bucha e em outras cidades e destaquei que seus responsáveis devem ser levados à justiça", indicou.

Quase 300 pessoas foram enterradas em valas comuns na cidade, segundo as autoridades ucranianas, que acusam os russos de massacres. Moscou nega e denuncia uma "manipulação".

Em várias localidades próximas de Kiev, ocupadas durante semanas pelo exército russo, a busca por corpos continua.

"Temos até agora 1.222 mortos apenas na região de Kiev", disse a procuradora-geral da Ucrânia, Irina Venediktova, em uma entrevista ao canal britânico Sky News. Ela não revelou se os corpos encontrados eram exclusivamente de civis.

Também citou 5.600 investigações abertas por supostos crimes de guerra desde o início da invasão russa, incluindo as mortes em Bucha.

- Rússia provoca "fome no mundo" -

Zelensky pediu aos ocidentais que "sigam o exemplo do Reino Unido", cujo primeiro-ministro, Boris Johnson, fez uma visita surpresa à Ucrânia no sábado, e pediu um "embargo total aos hidrocarbonetos russos".

Reunidos em Luxemburgo, os chefes de diplomacia da UE examinam o sexto pacote de sanções contra Moscou, que, no entanto, não afetará as compras de petróleo e gás.

"Continuamos as conversas sobre sanções. Mas nenhuma decisão foi adotada hoje", declarou o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, ao fim de uma reunião em Luxemburgo.

Borrell afirmou que a Rússia está "provocando a fome no mundo" ao bombardear reservas de trigo e impedir a saída dos carregamentos de grãos do país.

A guerra na Ucrânia pode reduzir pela metade o crescimento do comércio global, de acordo com uma análise publicada pela Secretaria da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A crise deve levar o crescimento do PIB global para entre 3,1% e 3,7% este ano, enquanto o crescimento do comércio mundial deve ficar entre 2,4% e 3%. Em outubro, a OMC havia previsto um crescimento de 4,7%.

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