Talibã confirma que permitirá que mulheres estudem

O Ocidente acusa o regime talibã de querer negligenciar a educação

dom, 12/09/2021 - 12:05
Aamir QURESHI Abdul Baqui Haqqani, Ministro da Educação Superior do regime talibã afegão, fala em uma entrevista coletiva em Cabul, em 12 de setembro de 2021 Aamir QURESHI

Os talibãs permitirão que as mulheres estudem na universidade, desde que o façam separadamente dos homens, confirmou neste domingo (12) o ministro do Ensino Superior do novo regime afegão.

"Nossos combatentes assumiram suas responsabilidades" ao reconquistar o poder, disse Abdul Baqui Haqqani em um coletiva de imprensa em Cabul, na qual destacou a importância do sistema universitário.

O Ocidente acusa o regime talibã de querer negligenciar a educação.

"A partir de agora, a responsabilidade pela reconstrução do país cabe às universidades. E estamos esperançosos, porque o número de universidades aumentou consideravelmente" em comparação com a época do primeiro regime talibã (1996-2001), insistiu.

"Isso nos deixa otimistas para o futuro, para construir um Afeganistão próspero e autônomo (...) Devemos fazer bom uso dessas universidades", acrescentou.

Ele também confirmou que o governo vai proibir as aulas mistas nas universidades, permitidas pelo governo deposto em meados de agosto.

"Isso não representa nenhum problema para nós. São muçulmanos e vão aceitar isso. Decidimos separar (homens e mulheres) porque as classes mistas são contrárias aos princípios do Islã e às nossas tradições", disse.

Segundo ele, a educação mista foi imposta pelo governo pró-Ocidente dos últimos 20 anos, apesar do fato das universidades solicitarem aulas separadas para mulheres e homens.

O novo governo talibã anunciou na semana passada que permitiria que as mulheres estudassem na universidade, sob condições estritas: usar véu completo e em aulas separadas dos homens ou divididas por uma cortina se houver poucas meninas.

O anúncio preocupa algumas universidades, que afirmam não ter meios materiais e financeiros para se adequar à separação por sexo e que isso pode estimular os alunos (frequentadores de turmas mistas) a deixar o país para estudar no exterior.

Também preocupa a Unesco, que estimou na sexta-feira que o "imenso" progresso feito desde 2001 na educação no Afeganistão está em "perigo" com os talibãs e alertou para os riscos de uma "catástrofe geracional" que poderia afetar o desenvolvimento do país "por anos".

No sábado, porém, centenas de afegãs vestidas com o véu integral manifestaram em uma universidade de Cabul apoio ao Talibã.

Durante os anos em que esteve no poder (1996-2001), o Talibã suprimiu os direitos das mulheres afegãs e restringiu suas liberdades mais simples, como estudar, trabalhar ou sair sozinhas.

Os afegãos e a comunidade internacional esperam para ver como o novo governo definirá os padrões que afetarão as mulheres e sua vida em sociedade.

A sharia, lei islâmica, foi aplicada com muito rigor entre 1996 e 2001.

Segundo os fundamentalistas islâmicos, agora as mulheres também poderão trabalhar, mas respeitando os "princípios do Islã", algo que pode ser interpretado de várias maneiras.

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