Hospitais das Forças Armadas deixam leitos ociosos
Vagas nas unidades são reservadas para militares. Na análise do TCU, os hospitais militares deveriam fazer convênios com o SUS para ampliar o atendimento à população
Pela primeira vez, após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), as Forças Armadas divulgaram os dados sobre a ocupação de leitos para pacientes com Covid-19 nos hospitais militares. Os documentos revelam que as Forças Armadas bloquearam leitos à espera de militares e que há unidades com até 85% de vagas. As informações foram publicadas na Folha de S.Paulo.
Ministério da Defesa, Exército, Aeronáutica e Marinha estão sendo investigados pelo TCU por não oferecerem leitos a civis com Covid-19 nas unidades de saúde das Forças Armadas. Esses hospitais consumiram pelo menos R$ 2 bilhões do Orçamento da União no último ano, conforme auditoria do TCU.
Para os auditores, os hospitais militares deveriam fazer convênios com o SUS para ampliar o atendimento à população. "Diante de uma carência generalizada de leitos para a internação de pacientes acometidos pela Covid-19, é de se esperar que todos os meios disponíveis estejam à disposição da população brasileira, não sendo possível pensar em reserva de vagas financiadas com recursos públicos para determinados setores da sociedade", disse o ministro Benjamin Zymler ao editar a medida cautelar com a determinação em 17 de março. Para Zymler, a postura das Forças Armadas poderia caracterizar uma contrariedade aos princípios da dignidade humana e da isonomia.
As planilhas, que começaram a ser publicadas nos sites das Forças Armadas, trazem que os leitos são reservados exclusivamente a militares e familiares.
O Exército divulgou a disponibilidade geral de leitos, sem fazer recorte para Covid-19. A instituição diz que as 23 unidades têm 366 leitos e em 14 delas a ocupação é de 50% ou menos. Quanto às UTIs, apenas três hospitais do Exército não estão com todas as vagas ocupadas.
A Aeronáutica tem 27 unidades, das quais 14 possuem leitos de Covid-19. Quase todas não têm vagas em UTIs, mas no Hospital de Aeronáutica do Recife a ocupação da UTI é de 71,43%. Com relação aos leitos de enfermaria, apenas três estão com 100% da ocupação, enquanto em seis o índice está abaixo da metade.
No Hospital das Forças Armadas (HFA), o índice de ocupação dos leitos de UTI é de 97,5%. Já a enfermaria está com 57,1% da ocupação.