Extremistas tomam cidade rica em gás em Moçambique
A localidade fica a 10 quilômetros de uma enorme refinaria de extração de gás do grupo francês Total
A cidade de Palma, situada a poucos quilômetros de um complexo de gás no nordeste de Moçambique, caiu nas mãos dos extremistas que a cercavam desde quarta-feira (24), anunciaram neste sábado fontes da segurança.
"As forças governamentais se retiraram de Palma, assim que a cidade foi tomada de fato pelos grupos armados extremistas", afirmou um fonte à AFP. Outra fonte confirmou que os insurgentes assumiram o controle da cidade, mas disse que os combates continuavam na região.
A localidade fica a 10 quilômetros de uma enorme refinaria de extração de gás do grupo francês Total. A província de Cabo Delgado, de população muçulmana, possui ricos campos de gás e sofre uma insurgência extremista há mais de três anos.
Palma tem 75.000 habitantes. Milhares de pessoas abandonaram a localidade para buscar refúgio em aldeias vizinhas. Os grupos extremistas foram mais discretos nos últimos meses, mas na quarta-feira executaram um ataque de grandes proporções, no mesmo dia em que a Total anunciou a retomada das obras no local, com previsão de inicio das operações em 2024.
A multinacional anunciou esta noite que voltou a suspender suas operações: A Total tomou a decisão de "reduzir ao mínimo possível os funcionários" no complexo, por razões de segurança, informou em comunicado. A empresa francesa é a principal investidora do projeto, com uma participação de 26,5%. Outros seis grupos internacionais estão envolvidos, entre eles a italiana Eni e a americana ExxonMobil.
O governo confirmou o ataque e garantiu que as forças de segurança iniciaram uma ofensiva para expulsar os extremistas da cidade, mas desde quinta-feira não há nenhum declaração oficial sobre o que está ocorrendo na cidade.
"Quase toda a cidade foi destruída. Muitas pessoas morreram", disse por telefone um trabalhador retirado de uma central de gás.
Funcionários da ONG Human Rights Watch, que citaram testemunhas, afirmaram que havia "cadáveres nas ruas".
Os conflitos forçaram a retirada de 200 pessoas, entre elas estrangeiros, de um hotel onde estavam refugiados desde quarta-feira.
Alguns dos trabalhadores estrangeiros morreram em uma emboscada durante a operação de resgate iniciada pelos militares, indicaram fontes das forças de segurança e alguns sobreviventes.
Os detalhes sobre a operação de retirada do hotel de Palma não estão claros e as comunicações telefônicas com a região, próxima a Tanzânia, são muito precárias.
Palma fica a mais de 1.800 km ao nordeste de Maputo.
Desde 2017, os extremistas, conhecidos pelo nome de Al Shabab ("Os homens", em árabe) que juraram fidelidade ao grupo Estado Islâmico em 2019, tem saqueado vilarejos e cidades nas províncias, provocando o êxodo de 700.000 pessoas, segundo a ONU.
Nos últimos meses, os ataques haviam perdido intensidade devido, segundo algumas fontes, à resposta militar.
A violência matou pelo menos 2.600 pessoas na província, metade civis, de acordo com a ONG norte-americana ACLED.