Parceria resgata estação meteorológica da Amazônia
A revitalização do centro de pesquisa e monitoramento instalado em 1914 na cidade de Santarém vai fornecer dados para fins de produção agropecuária e pesquisas tecnocientíficas
Um projeto realizado entre a Universidade Federal do Oeste Paraense (Ufopa) e a Embrapa Amazônia Oriental restaurou e automatizou a estação meteorológica da Fazenda Taperinha, em Santarém, uma das pioneiras na região. O equipamento vai reativar as medições realizadas no início do século XX, pelo cientista naturalista Gottfried Ludwig Hagmann, que adquiriu o local dos descendentes do Barão de Santarém, em meados de 1911. Os resultados obtidos sobre as condições de tempo e clima do Oeste do Pará terão uso didático-pedagógico e integrarão também a rede de monitoramento da região para fins de produção agropecuária e pesquisas tecnocientíficas.
A atividade, coordenada pelo professor Rafael Tapajós, do grupo de pesquisa Brama-Ufopa, ocorreu nos dias 31 e 1º de novembro e reuniu os alunos do curso de Ciências Atmosférica da instituição de ensino, com apoio da pesquisadora da Embrapa Lucieta Martorano, por meio do projeto Agromet ABC.
De acordo com a graduanda do curso de ciências atmosférica Eliane Leite Reis de Sousa, que realiza pesquisa nos arquivos da família Hagmann, onde estão as fichas com as informações das chuvas na localidade e também da régua milimétrica do nível do Rio Aiaiá, afluente do Rio Tapajós, a retomada do monitoramento meteorológico é importante para novos estudos em climatologia, não só da região de Santarém, mas também para outras regiões do Brasil. “No acervo constavam informações meteorológicas do Estado do Rio de Janeiro, a primeira estação do país, localizada na residência do pioneiro da meteorologia, Sampaio Ferraz, da Região de Ondina, no Estado da Bahia, do Estado do Ceará, do Estado de São Paulo e também dados da estação da Praia de Salinas, a primeira estação do Pará, montada em 1910”, conta Eliane.
A pesquisadora Lucieta Martorano, da Embrapa, informa que a estação tem potencial para integrar a rede de monitoramento junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Martorano relatou que o local está totalmente automatizado e também foi instalada uma torre, sensores de perfil de vento e outros sensores robustos de alta resolução para o monitoramento agrometeorológico e meteorológico da região Oeste do Pará. “Nós revitalizamos a estação de Taperinha, com um perfil mais elevado em termos de altitude para monitorar vento e outras condições ambientais. Essa estação foi instalada em 1914 e funcionou com dados homogêneos até 1981. Foi resgatada em outubro de 2017 e agora estamos aumentando o número de sensores, pois nesta região já teve plantio de cana-de-açucar e hoje, depois de um século, percebemos uma vegetação secundária, que evidencia a capacidade de resiliência, ou seja, essa capacidade de se recompor ao longo do tempo.”
A pesquisadora reforça que essa ação foi possível graças à parceria do projeto Agromet, que atua na formação de base agrometeorológica para subsidiar a precisão na agricultura e suporte ao crédito agrícola, e é uma articulação de Embrapa, Banco da Amazônia, Ufopa, Inpe, Fapespa e UFPA.
A Fazenda Taperinha, em Santarém, região do Oeste Paraense tem tradição em produção de ciência. Relatos históricos apontam o local como sendo detentor da primeira estação meteorológica de toda Amazônia.
De acordo com informações da prefeitura de Santarém, a fazenda pertenceu ao Barão de Santarém, Antônio Pinto Guimarães, em até meados do século XIX, e ganhou destaque na região após a sociedade com o imigrante americano Romulus J. Rhome. Possuía engenhos de cana-de-açúcar, com moinhos movidos a vapor, um grande avanço tecnológico e novidade na época na região. Historicamente, atribui-se à Taperinha a construção do primeiro barco a vapor na Amazônia, que recebeu o mesmo nome da Fazenda.
Ainda de acordo com os relatos locais, após a morte do Barão de Santarém, ocorrida em 1882, a propriedade foi adquirida pelo cientista alemão Godofredo Hagmann. No ano de 1917, acompanhado de sua esposa, Júlia Hagmann, ele instalou a primeira estação meteorológica da Amazônia, cujo funcionamento se estendeu até a década de 70, já então administrada pela filha Erica.
O projeto Agromet resgata essa história a partir da revitalização e modernização do monitoramento metereológico. Nesta nova etapa, avaliam os coordenadores do Agromet, o local retoma sua vocação de auxílio às atividades agropecuárias e à produção acadêmica e científica, com função didático-pedagógica e apoio como base de dados capazes de subsidiar o planejamento e reduzir os impactos negativos de mudanças climáticas.
Da assessoria da Embrapa.