Política e futebol: Os candidatos com história no esporte

Com a chegada das eleições municipais, aficionados por futebol poderão conferir nomes conhecidos do esporte nas urnas

por Rodrigo Malveira sex, 16/09/2016 - 11:12
Arte ALN, Zé do Carmo e Mister N são algumas das personalidades do futebol pernambucano que disputam o cargo de vereador Arte

Futebol e Política. Já diriam os mais precavidos que ambos não se misturam. Porém a história tem se mostrado bem diferente. O esporte mais tradicional do Brasil já entrou de vez no meio eleitoral e atualmente ex-jogadores, dirigentes e até ilustres torcedores já tem ocupado diversos cargos na vida pública. Em 2016 essa ligação é evidente em vários estados do Brasil. Somente de ex-boleiros, nomes tradicionais como Marcelo Ramos, Marcelinho Carioca, Eduardo Ramos são candidatos. Em Pernambuco, o cenário não é diferente. Várias personalidades do futebol local concorrem nas urnas neste ano: Nildo, Zé do Carmo, Araújo, Cabuloso, Jesus Tricolor, Mister N, entre outros disputam por pleitos.

A ligação entre política e futebol dentro do Brasil tem origem durante o período da Ditadura Militar, quando o governo se apropriou da imagem da Seleção Brasileira durante a campanha da Copa do Mundo de 1970. O craque do time, Pelé, por muitas vezes serviu até como garoto propaganda de programas governamentais. O primeiro candidato a cargos políticos dentro do futebol só viria anos depois em 1990 quando o conhecido centroavante Reinaldo, ex-Atlético/MG, foi candidato a vereador de Belo Horizonte e teve expressivas marcas chegando a Câmara Municipal e, em seguida, a Assembléia Legislativa. Outros seguiram o mesmo caminho como Roberto Dinamite, Raul Plasmann e Mazzaropi no início dessa trajetória. Porém, a maior vitória, que estabeleceu de vez a chegada do futebol no meio político, foi a do ex-atacante Romário, ao chegar em 2014 ao senado federal.

Dois anos depois com o início das eleições municipais, ex-jogadores almejam o início na carreira política e os partidos buscam por personalidades do esporte para conseguir expressivas votações. Assim, nomes que antes só eram vistos no gramado ou nas arquibancadas, são acompanhados, a partir de agora, no guia eleitoral e no dia 2 de outubro na tela de uma urna.

Zé do Carmo, ex-volante conhecido pelas suas passagens no Santa Cruz e no Vasco é um dos exemplos ao ser convidado para ter sua primeira experiência eleitoral neste ano. Filiado ao PRB tem no seu histórico dentro do campo sua grande esperança de uma expressiva votação. “Acredito num bom desempenho pelo número de pessoas que conheço e por elas saberem da minha seriedade. Vou aproveitar esses 37 anos dentro do futebol, o nome que eu fiz, respeitado, para as pessoas conciliarem isso, saber que o Zé do Carmo traz respeito e seriedade”, destacou o ex-atleta.

No entanto, mesmo tendo neste ano sua primeira candidatura a um cargo público, se engana quem pensa que Zé não tem um histórico no meio político. Segundo ele, desde seus tempos de jogador já tinha interesse pela área e sempre recebeu propostas para se candidatar. Nunca teve tempo. Mas, neste ano, achou espaço para concorrer ao posto de vereador. “Sempre gostei de política, de ler jornais. A primeira coisa que fazia era ver a página de esportes e depois política. Então, para mim, nunca foi um absurdo falar de política, mas era só acompanhando por notícias, vendo a situação do país. De quatro em quatro anos, as pessoas sempre me chamavam, mas eu estava sempre trabalhando em clubes, com contrato no futebol. Como esse ano eu estava livre, resolvi aceitar”, conta o volante que atuou durante dez anos no Santa Cruz. “Um dia encontrei com o Silvio Costa que me perguntou se eu não tinha vontade de ser vereador. Respondi que tinha, e mediante a isso começamos a conversar. Depois disso comecei a me interessar ainda mais, ler tudo, acompanhar tudo, noticias de Brasília, do Senado, da Câmara e também fazendo projetos”, relata sobre esse seu início na área.

Seguindo o passos de diversos ex-profissionais do mundo da bola, ele não vê muita diferença entre os meios e relaciona com isso o grande aumento de jogadores com candidaturas pelo Brasil. “Em Belo Horizonte é muito forte isso, são vários ex-jogadores na política, tanto que hoje o João Leite (ex-goleiro do Atlético-MG) é candidato a prefeito. No Rio e em São Paulo também existem ex-jogadores que gostam e vão tendo contato com as pessoas, tendo ajuda de políticos experientes. Você acaba entrando e gostando tanto da política como do futebol. Você está lidando com gente, com o povão, não tem muito de diferente, não”, observou.

Quanto às propostas de projetos de lei que pensa em colocar em pauta na Câmara, ele garante que não pensa apenas no futebol, mas em outras áreas de interesse da população. Contudo, garante que não vai fugir das raízes. “Trabalho com o esporte e tenho alguns projetos. Tenho que dar mais ênfase a eles, o caminho para saúde é o esporte”, concluiu.

Política e Futebol nas raízes



Se assim como o número de atletas tem aumentado consideravelmente na política, dirigentes de futebol tem histórico grande no meio. Tenha como exemplo a candidatura de Alexandre Kalil, presidente Campeão da Libertadores pelo Atlético-MG, à prefeito de Belo Horizonte. São vários que já tiveram experiência em ambos os lados ou até conciliando atividades, como Antônio Luiz Neto, ex-presidente do Santa Cruz que desenvolveu paralelamente as atividades no clube e na câmara dos vereadores. Para isso, ele também, tem um exemplo dentro da sua família. Seu tio, Aristófanes de Andrade, também foi vereador do Recife e presidente do time Coral ao mesmo tempo. 

A partir desse exemplo que ALN, como é mais conhecido, buscou referências para fazer um bom trabalho em ambas as áreas. “Quando cheguei a presidência do Santa Cruz, já havia sido vereador por cinco mandatos. Para assumir a presidência, fui convidado por vários conselheiros e lideranças. Cresci dentro do Santa Cruz, sou sobrinho de Aristófanes de Andrade, que também era vereador e presidente do clube, e trouxe ele para o Arruda. Sendo um homem público, tive ele como espelho para fazer um bom trabalho. Meu tio nunca usou o clube para fazer política, pelo contrário, ele ajudou muito e foi o que eu tratei de fazer, usei da mesma receita formando um time com parte da base e outros com jogadores emergentes da região, querendo crescer, e alguns atletas experientes”, relembrou.

O vereador ainda destaca que mesmo já tendo experiência na parte administrativa, comandar um clube de futebol foi bem diferente do que já tinha vivenciado. “A administração de um clube de futebol é completamente diferente da administração de uma empresa privada comum. Tenho experiência administrativa, mas dirigir um clube e, principalmente na situação que o Santa Cruz estava, era um desafio muito grande. Não existiam recursos, a concorrência eram clubes muito mais preparados financeiramente, as dificuldades por conta da torcida que já vinha machucada durante anos, as dívidas, era uma série de problemas que foi necessário que o clube ficasse com pés no chão e praticasse sua receita popular, respeitar do mais frágil até os mais ricos”, comentou.

A experiência no futebol, inclusive fez com que politicamente ALN se tornasse mais ativo dentro do meio quanto a elaboração de leis. Para ele, o futebol brasileiro precisa de uma reestruturação e a política deve ter grande parte nisso ajudando-os a diminuir as dívidas. “O meio político pode e deve ajudar o esporte, fazendo leis de incentivo, permitindo a aproximação maior dos clubes para programas sociais que criem isenções porque futebol é uma coisa muito cara. A diferença entre o futebol brasileiro e europeu é um abismo. É necessário que os políticos brasileiros criem leis para proteger os clubes dos impostos. Do jeito que está hoje é muito encargo, é muito difícil, a empresa futebol não é igual a outra, ela não tem lucro”, reclama o ex-dirigente.

Por ter sido o presidente que tirou o Santa Cruz da Série D e levou até a Série B, claro que ele conta com grande apoio de torcedores corais, porém nem por isso ele vê uma má relação com torcedores de Sport e Náutico, e acredita que pode receber votos de ambas torcidas. “Uma das coisas que me deixa feliz é que hoje, depois da minha passagem pela presidência do Santa Cruz, sou alvo de torcedores de outros clubes no restaurante, na farmácia ou onde quer que eu esteja e que vem me dar as congratulações, dizer que queriam que eu fosse presidente do clube deles. Isso é sinal que não agredi ninguém enquanto presidente do Santa Cruz”, encerrou.

A voz da torcidas



Aproveitando o meio futebol, não apenas os ex jogadores e dirigentes procuram a vaga na política. Torcedores ilustres também têm objetivo de chegar a um cargo público. Em Pernambuco, grandes personalidades das arquibancadas saíram candidatos à vaga de vereador como Cabuloso, pelo Sport, Jesus Tricolor, pelo Santa Cruz, e Mister N, pelo Náutico. Se fazendo valer dos personagens famosos, nenhum deles se candidatou por seu nome de batismo e sim como são conhecidos pelas torcidas.

Se chamado por Cristiano Henrique, talvez poucos soubessem quem é ele. Mas se chamado de Mister N, todas as torcidas já sabem quem é o candidato do PHS. E foi por isso que ele optou pelo personagem na hora da candidatura. “Estou saindo por Mister N, porque sou conhecido tanto em Pernambuco como no Brasil assim, é um personagem famoso, tem uma marca muito forte”, pontuou o alvirrubro.

Sem uma candidatura com grandes verbas, ele se faz valer principalmente dos jogos do Náutico para divulgar sua campanha. “Aproveito todos os jogos do Náutico para fazer campanha, além disso, vou estar em todos os bairros que conheço gente e empresários. Desde o ano passado já estava me preparando e divulgando minha candidatura”, ressaltou.

Mister N também acredita que sua campanha terá boa recepção por outros times, não apenas a torcida do Náutico. “O grafiteiro que me pinta é rubro-negro e está me apoiando, puxando votos para mim e tenho outros conhecidos rubro-negros e tricolores que estão me apoiando. Tenho relação com várias outras pessoas que votam pela pessoa e não pelo time”, diz o torcedor.

Seu caminho na política é recente, mas o alvirrubro revela que sua relação com a área tem um vasto histórico e se espelha em dois ex-governadores de Pernambuco para iniciar sua trajetória política. “Meu caminho na política começou quando eu era moleque, o primeiro comitê de Miguel Arraes foi na Várzea, onde eu moro, então sempre estive próximo da política, sempre trabalhei como militante de políticos. Já tive parentes meus na política também como o Pedro Eurico, mas não me baseio em nada dele. Entrei no meio porque o pessoal pediu. Se fosse para ter alguém como exemplo seria o Miguel Arraes e o Eduardo Campos”, citou.

E, mesmo que não seja eleito, revela que já tem projetos relacionados ao futebol em andamento. “Se for eleito ou não for eleito, já estou com projetos para acertar com o pessoal da Federação Pernambucana para modificar a relação de Clássicos em termos de violência. Vou lutar pela torcida única, se for mando de campo do Sport, só torcedor do sport, do Náuticio, só torcedor do Náutico, porque hoje em dia não se tem mais torcedor tem muitos vândalos no meio”, finalizou.

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