Medalha não é tudo, aceitam chineses
Adotando uma postura inédita, a imprensa oficial optou por estimular seus atletas - em vez de sobrecarregá-los
Uma semana depois do início dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a China ainda não ocupa a liderança do quadro de medalhas, mas a imprensa e os torcedores permanecem do lado de seus atletas, admitindo que ganhar títulos olímpicos não é mais uma prioridade.
Pela primeira vez desde 2000, a China não conquistou uma única medalha no primeiro dia dos jogos. Em vez de aumentar a pressão, sobretudo oito anos após a excepcional colheita em Pequim 2008, torcedores e autoridades mantêm a expectativa sob controle.
O país comunista ocupa o segundo lugar no quadro, com apenas 30 medalhas, sendo 11 ouros, bem atrás dos Estados Unidos, que têm 38 medalhas e 16 ouros. Nessa mesma época, nos Jogos de Londres 2012, os chineses já haviam acumulado 18 medalhas de ouro e reinavam no primeiro lugar.
Adotando uma postura inédita, a imprensa oficial optou por estimular seus atletas - em vez de sobrecarregá-los.
"As medalhas não são o mais importante dos Jogos", estampou o jornal "China Daily" na capa, destacando que a "maioria" dos torcedores chineses está aprendendo a apreciar os esportes, mais do que simplesmente ligar para uma luta cega apenas para satisfazer o orgulho nacional.
"Claro que queremos ver nossos atletas ganharem o maior número possível de medalhas, sobretudo de ouro, mas devemos aplaudir e apreciar o desempenho de todos os nossos esportistas, homens e mulheres, visto que dão o melhor de si", completa o jornal.
Trata-se de uma mudança espetacular, em um país onde o Estado considerou o ouro, por muito tempo, como um ferramenta indispensável para a construção da glória nacional, oferecendo carros, apartamentos e polpudos prêmios aos campeões.
As equipes e os dirigentes esportivos eram avaliados em função do número de medalhas conquistadas nas Olimpíadas e nas competições no continente asiático. Já dos atletas que não conseguiam subir ao pódio esperava-se um , em geral feito aos prantos e com pesar.
Agora, mesmo o jornal estatal "Global Times", bastião do sentimento nacionalista, defende que a premiação não importa tanto.
"A confiança do povo chinês não tem mais necessidade de ser alimentada por mais medalhas", ostenta.
Essa mudança de percepção surge no momento em que a classe média, em crescimento constante no país, reluta a enviar seus jovens para as academias esportivas ultraexigentes na esperança de vê-los brilhar no pódio.
Os exemplos de ex-campeões que vivem com dificuldades financeiras, pedindo esmola no metrô em alguns casos, chocaram os chineses, que se questionam cada vez mais sobre o propósito de arriscar dessa maneira o futuro de seus filhos.
Muitos questionam, inclusive, os investimentos feitos pelo país. Segundo dados do governo, o orçamento para a área dos Esportes chegou a US$ 500 milhões em 2016.