Livro de crônicas paraenses revela novos autores
Professora Jeniffer Yara, organizadora da publicação, defende maior incentivo à literatura e a valorização dos autores regionais
A professora, pesquisadora e escritora Jeniffer Yara divulgou, na última sexta-feira (25), o lançamento do livro “Crônicas paraenses: novos olhares sobre cenas locais”, fruto de um projeto idealizado por ela e que foi contemplado pela Lei Aldir Blanc, pelo edital Juventude Ativa, do Movimento Emaús. A ideia inicial era trabalhar com crônicas paraenses, fazer a leitura e discutir sobre elas e as temáticas nelas abordadas.
Segundo a professora, o projeto teve uma oficina on-line, em que os participantes inscritos puderam fazer exercícios a partir de leituras e discussões. O trabalho final era escrever uma crônica para ser publicada no livro.
Jeniffer diz que a proposta do livro é proporcionar o protagonismo da autoria paraense, especificamente da juventude, e trazer à tona novos olhares e novos autores. Segundo ela, o livro apresenta diferentes estilos de escrita e perspectivas sobre a região do Pará. Além de Belém e Ananindeua, também foram abordados temas relacionados a cidades interioranas.
“Além disso, incentivar e valorizar a produção textual por meio dessa publicação. Geralmente, os alunos são pessoas muito jovens, que estão no ensino médio, que terminaram e passaram no vestibular agora, ou pessoas formadas, mas que não acreditam tanto na sua escrita ou acham que não podem ser publicadas, que seria impossível de acontecer. Esse projeto veio para tentar desmistificar isso”, aponta.
A crônica foi o gênero escolhido porque ela se relaciona muito ao contemporâneo e ao que está acontecendo ao nosso redor, observa Jeniffer. Ela destaca o dinamismo e a acessibilidade do gênero em relação à linguagem.
Segundo a pesquisadora, o edital não proporcionava tanto tempo para serem trabalhados outros gêneros. “Não que escrever crônica seja fácil, mas é um gênero mais acessível pela leitura, pelas discussões que teríamos sobre ela, e pela escrita também, pelo tempo de escrita e publicação. Além disso, ela dá essa liberdade do participante, do autor falar sobre si, falar sobre o que está ao seu redor, sobre o seu cotidiano, sua cultura, seus atos. A partir disso, o que eu pretendia era evidenciar tudo isso no contexto regional, no contexto paraense”, complementa.
A professora relata que a experiência de unir diversas produções em um só livro, com temáticas diferentes, foi interessante e surpreendente. “A única questão que amarra muito as temáticas é a identidade. O que você pensa, o que você lê, o que você gosta, o que você ama, que é característico daqui ou que pertence a você enquanto autor, escritor paraense, que quer escrever, quer ser lido e se expressar por meio da escrita”, afirma.
A também escritora aborda a importância do incentivo à leitura de autores paraenses e destaca que a população tem o costume de ler o que vem de fora, livros estrangeiros e autores de outras regiões. “A gente conhece muito a literatura de fora, nem que seja por ouvir falar, mas falta essa leitura de autores paraenses”, observa.
As pesquisas da professora são dirigidas para autores regionais. Ao iniciar esse projeto literário, Jeniffer destaca que deparou com a diversidade da autoria paraense, das histórias, das narrativas e das publicações.
"Temos uma rica produção literária que é desconhecida por muitos, principalmente pelos jovens", assinala. Além disso, ela ressalta a ausência da literatura paraense como disciplina nas escolas. “Às vezes é preciso realmente fazer um trabalho de investigação para conhecer alguns autores, porque eles existem. Eles estão por aí, em várias cidades do Estado, e que precisam ser lidos”, reitera.
Jeniffer dá destaque para os autores que estão publicando obras nas plataformas digitais, mas que também não são lidas. “A gente precisa falar sobre eles porque é uma literatura rica, diversa e muito bem feita, muito bem escrita, que fala sobre nós, sobre a nossa história, sobre as nossas memórias e que também se relaciona aos temas universais. Então por que não levar a nossa literatura pra fora daqui também?”, questiona.
A professora acredita que esses novos autores vão continuar escrevendo com o desejo de serem publicados. “Outros autores podem se inspirar neles também e outros projetos podem surgir a partir desse projeto, do conhecimento dele, do que ele foi. Uma nova cadeia, uma nova circulação de ideias e textos podem ser feitas a partir disso. Acredito que é nisso que ele se relaciona, que contribui para essa importância, para esse incentivo à leitura de autores paraenses”, acrescenta.
Para apoiar esses novos escritores, Jeniffer afirma que é possível fazer isso por meio da leitura. Ela ressalta que existem diversos suportes em que os textos podem circular de maneira gratuita, para o autor e para o leitor.
Além da leitura, ela destaca outras formas de apoio para os que estão iniciando a jornada de escritores, como divulgá-los, valorizar e consumir o que é produzido por essas pessoas. “Quando eu falo em consumo, é no geral. Consumir lendo, consumir falando, consumir divulgando, compartilhando, e comprando também as obras porque os autores precisam sobreviver”, afirma.
Jeniffer ressalta ainda o suporte das editoras, dos professores e o papel deles nesse processo, por meio da publicação e do incentivo da escrita desses autores. “Eu acho que a sociedade pode fazer muito para apoiar esses autores iniciantes e também os autores que já estão no mercado, mas que perduram e que continuam tentando alcançar cada vez mais leitores”, conclui.
Serviço
Livro disponível no site: https://www.jenifferyara.com/projetos
Booktrailer – “Crônicas paraenses: novos olhares sobre cenas locais:
https://www.youtube.com/watch?v=K9bJX4-wYyE&t=52s
Por Isabella Cordeiro.