'Cidade Invisível' materializa riqueza cultural do Brasil
Série tem ajudado a mídia internacional a valorizar a cultura brasileira, diz antropóloga
Desde fevereiro, a série "Cidade Invisível" (Netflix), que mescla investigação policial e elementos do folclore brasileiro, tem depertado o interesse do público. A produção alcançou o top 10 das produções mais assistidas na plataforma em mais de 40 países. Após o feedback positivo do espectador e da crítica, demorou menos de um mês para a atração ter uma segunda temporada confirmada.
Muitos tiveram uma experiência única ao assististir a série e puderam, de alguma maneira, reconhecer parte da identidade nacional. Foi o caso da universitária Thayse Gandra, 21 anos. "Foi diferente porque ela [a série] trata o folclore como ponto principal e não como pano de fundo. É muito legal saber que o estrangeiro aceitou bem a série, porque nossa cultura é muito rica. Isso mostra um lado artístico, um lado humano. Nossa história agora está sendo contada", comenta.
A estudante se sentiu nostálgica em alguns momentos da série. "Os episódios me lembraram as produções brasileiras que eu assistia quando criança, como 'Sítio do Picapau Amarelo' [Globo, 2001-2007]. Também me lembrei das histórias que meus avós me contavam. Eu gostava e achava que alguns seres, como a Mula sem Cabeça, viriam atrás de mim se eu ficasse esperando de noite no portão. Essas e outras lembranças foram revividas por causa da série", conta.
Para a professora de antropologia cultural Rachel Panke, "Cidade Invisícel" é uma grande oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo suas belezas naturais e a riqueza cultural. "Muitos twitte’s revelam que várias pessoas ficaram com vontade de aprender a língua portuguesa por causa da série. A repercussão é interessante porque mostra globalmente a diversidade cultural brasileira, para além de vários estereótipos", comenta. A antropóloga afirma que a série pode contribuir no sentido de publicizar as riquezas culturais brasileiras para além da visão parcializada e fragmentada do Brasil sobre Carnaval e futebol.
Segundo a especialista, além de revisitar o folclore, "Cidade Invisível" propõe um novo caminho para as produções nacionais no mercado audiovisual. "Percebeu-se que os reflexos na mídia internacional, utilizando nossas riquezas, aquilo que é genuinamente brasileiro, tem um apelo lá fora. Talvez até as pessoas do exterior valorizem mais do que nós mesmo. Nossa riqueza, nosso quintal", explica.
De olho nas lendas
De acordo com Rachel, todos as lendas e mitos apresentados em "Cidade Invisível" ajudaram a construir o imaginário popular, passado pelas gerações por meio de histórias. Todos eles, auxiliaram de alguma forma a mostrar uma relação com a natureza. "O Brasil é reconhecido por ter essa riqueza. Mas que riqueza é essa? Sabe-se que é rico. Desta forma, através da série, é possível materializar essa riqueza", afirma.
Os personagens apresentados na atração, como Saci, Cuca e Boto-Cor-De-Rosa são, segundo a antropóloga, pautados na cultura indígena e trazem um debate sobre os espaços culturais e a preservação. "Isso mostra uma fluidez dos conteúdos que foram relacionados. Quanto mais conhecedores da nossa rica cultura tivermos, mais pessoas passarão a valorizar e por consequência, uma pretensão maior para proteger", aponta.
A forma como a produção abordou as lendas e mitos folclóricos, como pessoas disfarçadas no ambiente urbano carioca, traz uma visão mais modernizada desses personagens. "A série é uma luz no fim do túnel, para a ressignificação do nosso folclore. Para o público internacional, é um novo olhar sobre as riquezas naturais de nosso país. Promovendo então, essa valorização e a divulgação de tanta diversidade, fruto da nossa miscigenação", finaliza Rachel.