Em carta aberta,Kleber Mendonça questiona cobrança do Minc
Cineasta está sendo cobrado a pagar o valor de R$ 2,2 milhões por suposta ilegalidade ao ter vencido um edital federal
O cineasta Kleber Mendonça Filho publicou uma carta aberta, nesta terça (29), em sua página do Facebook, falando sobre a cobrança do Ministério da Cultura (Minc) relacionada ao filme O som ao redor. A empresa de Kleber está sendo cobrada no valor de R$ 2,2 milhões sob a alegação de ter vencido um edital federal de forma irregular.
Iniciando a carta, o cineasta fala sobre o susto que tomou ao receber a notificação do Minc no dia 29 de março: "Estávamos no Sertão do Seridó, no Rio Grande do Norte, quando a comunicação do MinC nos informou que todo o dinheiro do Edital de Baixo Orçamento utilizado na realização de O Som ao Redor, meu primeiro longa metragem, realizado em 2010, teria de ser devolvido". Kleber também alegar ter tentado entrar em contato, desde então, com o ministro da cultura, Sérgio Sá Leitão e sua equipe, mas não obteve sucesso.
O cineasta pernambucano também apontou seu espanto por ter sido notificado após o referido filme ter sido indicado para representar o Brasil no Oscar, em 2013 e mencionou a atual situação do país: " No Brasil dos últimos tempos, a nossa capacidade de expressar indignação como cidadãos vem sendo diminuída, creio que por dormência".
Em seguida, Kleber falou sobre os números envolvidos na produção do longa O som ao redor: "O Som ao Redor custou R$ 1,700,000,00 - Um milhão e setecentos mil reais - no seu processo de produção, nos anos de 2010 e 2011. Em câmbio corrigido do dia de hoje, O Som ao Redor custou 465 mil (quatrocentos e sessenta e cinco mil) dólares. O MinC deveria premiar produtores que fazem tanto e que vão tão longe com orçamento de cinema tão reconhecidamente enxuto".
O diretor também destacou pontos do edital do Concurso de Apoio à Produção de Longas Metragens de Baixo Orçamento do ano de 2009, que contemplou o filme e questionou: "Como fica impactada a produção cultural brasileira atual, com sentimento de vulnerabilidade incompatível com um pensamento democrático, a partir de um incidente como este? Não trata-se de uma questão privada, mas de liberdade de expressão". Finalizando, Kleber declarou que seguirá fazendo cinema: " seguiremos dignos. Foi por isso que filmei O Som ao Redor, Aquarius e agora Bacurau, com personagens que interagem com o Brasil, mas o fazem entendendo o quanto são dignos".