Skank lança 'Velocia' em plena Copa do Mundo

ter, 17/06/2014 - 09:40

O Skank tem seu próprio tempo. Com 23 anos de carreira, a banda mineira já 'queimou' tanta estrada que, há tempos, se dá ao direito de lançar disco quando acha que chegou a hora. Seu último álbum de inéditas havia sido Estandarte, de 2008. De lá para cá, Samuel Rosa (guitarra e voz), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) aproveitaram para rodar o País com seus shows e, nos intervalos, se dedicar a projetos especiais: vide os CDs e DVDs Multishow ao Vivo Skank no Mineirão (2010) e Skank Ao Vivo No Rock in Rio (2011), além de disco Skank 91 (2012), que compilaram sucessos (ou antigas canções) da banda.

"A gente pode até ter um disco todo ano, mas a probabilidade de fazer trabalhos ruins é maior. Ninguém está tão inspirado assim toda hora. Mas o mundo hoje é muito ansioso, não tem o que fazer", observa Samuel Rosa. "Talvez nossa história nos dê um pouco de sabedoria para não cair em seduções imediatistas", emenda Henrique. Pegando carona nesse conceito de tempo - que pode ser relacionado tanto à ‘demora’ na realização de um novo álbum quanto à velocidade com a qual a informação circula no mundo -, o Skank lança seu décimo disco de estúdio, sob o sugestivo título de Velocia.

Com o novo trabalho, de certa maneira, a banda subverteu a ideia de urgência com a qual parece que tudo deve acontecer nos dias de hoje. "O Skank desafiou essa ordem, na medida em que a gente ficou seis anos sem um álbum de inéditas, levou dez meses para fazer um disco, tudo meio demorado. Aí, lança um disco no meio da Copa (risos)", diz Samuel.

Aliás, o fato de o álbum chegar ao mercado em plena Copa do Mundo não foi intencional só porque o grupo é vidrado em futebol - e pelo tema ser recorrente em sua obra. Segundo o quarteto, os processos que envolveram o disco, incluindo gravação no estúdio Máquina, em Belo Horizonte, registro de metais e cordas em Abbey Road, em Londres, e mixagem em Nova York, acabaram ‘empurrando’ o lançamento de Velocia para a época do Mundial. Mas a nova turnê vai ficar para pós-Copa, a partir de setembro.

Hitmaker

As 11 faixas de Velocia - cujas composições Samuel assina com novos parceiros, como Emicida, Lucas Silveira e Lia Paris, e velhos companheiros, como Nando Reis e Chico Amaral - soam como se traçassem um panorama sonoro das duas décadas de trajetória da banda. Mas essa revisita por várias fases musicais, passando pelo balanço do ska e pelas irresistíveis baladas, não foi premeditada, eles garantem.

Para Samuel, esse disco é o "menos pretensioso" dos títulos mais recentes do grupo. "Ao contrário, por exemplo, do Maquinarama (2000), em que pensamos: ‘Vamos romper, destruir a fórmula antiga do Skank, criar uma nova: onde não tinha guitarra, põe; onde tinha metais, tira; onde não tinha vocal, põe’. Houve uma série de mudanças que a gente julgava necessária", conta o vocalista. "Ao longo dos anos, talvez contaminado por uma certa autoconfiança, experiência, o Skank entrou em estúdio sem pensar nada, sem conceito. Vamos tocar e ver o que sai."

Da nova leva de parceiros, BNegão e Emicida sobressaem-se como dois nomes fortes do rap brasileiro. BNegão, amigo da banda, aparece na música incidental Somos Todos, do reggae-protesto Multidão (Samuel/Nando Reis). "Não adianta manipulação.

Entre erros e acertos, sabemos por que lutamos, sabemos de que lado estamos, irmão", manda o recado o rapper. Samuel conta que a música foi tomando um formato mais sombrio, tenso. "Pensei que podia ter alguém falando alguma coisa e fechando o assunto, do que está acontecendo no Brasil, a mobilização do ano passado. Veio, então, ideia do BNegão." No caso de Emicida, como seria ter o rapper fazendo canção com melodia? O desafio foi dado - e resultou na festiva Tudo Isso e na delicada Rio Beautiful, ambas de Samuel Rosa e Emicida.

Entre os antigos comparsas, o cantor e compositor Nando Reis ganhou ainda mais espaço neste disco da banda, assinando boa parte das composições com Samuel e fazendo participação especial nas faixas Alexia, Périplo e Galápagos. E por que quase essa onipresença? Segundo a banda, eles e Nando foram convidados para tocar, em um especial de TV, as músicas que haviam feito juntos e o ex-Titã ficou entusiasmado quando se deu conta do patrimônio que essa dobradinha tinha acumulado ao longo de anos. "Somos privilegiados em poder compor com o Nando. É um cara completo, tem boa melodia, boa letra", elogia Samuel.

A banda lida bem com sua vocação de ‘hitmaker’, que carrega desde os primeiros discos, como Calango (1994) e o ótimo O Samba Poconé (1996). Sobre o grupo colecionar tantos singles na discografia, Haroldo arrisca: "Existe uma aptidão da banda, escolha certa, sorte". Samuel palpita: "A gente sabe que muitas coisas são variáveis no quesito fórmula de sucesso. Mas um ingrediente tenho certeza que precisa: é o cara que fez a música querer (o sucesso); se ele não quiser, não adianta".

E depois de tanto tempo sem canções inéditas na praça, eles esperam que exemplares do novo repertório, a exemplo de outros discos, também ganhem vida própria em rádios, novelas e onde mais possam chegar. "Não há nenhum tipo de culpa do Skank. A gente quer mais que a música se espalhe, se torne popular", diz Samuel. "Esse é o mote do jogo, que é o que a banda escolheu." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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