Entrevista: Roger de Renor critica "toque de recolher"
Produtor do "Som na Rural" lamenta ação da Prefeitura do Recife e garante manifestação na próxima sexta-feira (14)
Tudo caminhava para ser mais uma sexta-feira de música gratuita, debate cultural e troca de experiências na Rua da Aurora, área central do Recife. Na programação, as bandas Malícia Champion e a alemã Jazzanova, que se apresentaria pela primeira vez na turnê pelo Brasil. No entanto, o "Som na Rural" desta sexta (7) não aconteceu. Por determinação do secretário de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga, o projeto de cultura itinerante idealizado por Roger de Renor só poderia ser realizado até 18h.
A licença para a atividade foi negada, o veículo do projeto multado e a indignação tornou-se sentimento compartilhado por quem estava no local ou soube por amigos. Em entrevista ao Portal LeiaJá, Roger falou sobre a repressão, a repercussão e a manifestação já marcada para a próxima sexta-feira (14).
LeiaJá – O impedimento da realização do Som na Rural ecoou muito nas redes sociais, na imprensa, e a maioria das pessoas se mostrou revoltada quanto à ação. Como você avalia essa repercussão e a demonstração de apoio de tanta gente?
Roger de Renor – A gente teve apoio de muita gente, artistas da Zona da Mata, do teatro, da dança. Isso ainda vai repercutir no show de quem já tem palco no Carvanal, ou seja, é um prejuízo político para a Prefeitura que poderia ter sido evitado, se o secretário João Braga agisse em harmonia com a Prefeitura e conhecesse os projetos da comunidade. Projeto, inclusive, que tem o apoio da Secretaria de Turismo.
LJ – Você falou que o secretário de Turismo, Felipe Carreiras, entrou em contato por telefone para dizer que houve uma falta de comunicação. Mas e o secretário João Braga, falou diretamente contigo?
RR – Entrou nada, só veio a ordem. Marcamos uma reunião com o secretário de Turismo na próxima segunda-feira (10), às 15h30. Estou muito curioso para saber o que vão dizer. Acredito que vão revogar a decisão, mas mesmo que não permitam, nós já convocamos todo mundo, artistas, para a próxima sexta-feira, na Rua da Aurora, uma manifestação pela liberdade da cidade. Entendemos que não se precisa de autorização para se reunir numa praça e vamos discutir justamente isso, debater este ato que apenas agrava esta época de “toque de recolher” no Carnaval de Recife.
LJ – Em nota, a Prefeitura disse que o pedido da licença foi fora do prazo e que o veículo foi notificado por estar em cima da calçada.
RR – Sobre o prazo, isso só afirma a incoerência deles. Como avaliar um projeto que já é executado há dois meses? Reforça o autoritarismo da Prefeitura. A multa está aqui comigo, 127 reais. O agente da CTTU me abordou e perguntou se eu não sabia que era proibido estacionar carro na calçada, que era infração gravíssima. Eu falei “eu não estou vendo carro nem calçada, eu vejo um palco e um cenário”.
LJ – A Jazznova, banda alemã de destaque mundial, iria se apresentar no Som na Rural desta sexta-feira. Como foi lidar com isso, com esse “cartão de visita” para artistas de fora?
RR – Pois é, cara, seria a primeira cidade que eles iam tocar na turnê pelo Brasil, estavam muito ansiosos para tocar, doidos para interagir com essa coisa do carnaval. Vários artistas estavam à espera da apresentação, como DJ Dolores. Foi feio, infeliz para a cidade, pela falta de conhecimento da Secretaria que cuida da parte mais visceral da cidade, a mobilidade.
LJ – Em crítica a estes impedimentos da Prefeitura, uma turma criou o Black Bloco de Carnaval e a prévia está marcada também para a sexta-feira (14), na Rua da Aurora. Faz parte da mobilização?
RR – Vai ser discutido lá também. O Black Bloco vai sair no carnaval mesmo e a ideia é criar um bloco para sair às duas horas da manhã, por conta da questão do horário. Quero ver se vão apreender o bloco. Vai ser mais um ranking para Recife, cidade onde o primeiro bloco de carnaval foi preso só por sair às ruas.