A ciência sociológica não despreza as mutações sociais. Sociedades mudam. Tal como os filósofos Platão, Comte, Lamarck e Darwin, há sociólogos atentos às mudanças. Enquanto Platão reagiu às mudanças, tentando sustá-las, os cientistas de hoje tentam prevê-las e, claro, colocá-las sob o controle racional. E isto configura uma tentativa de “domesticá-las”. É que elas ainda não isentam receios. Sobretudo, em suas relações com as instituições.
Hoje, são muito mais rápidas. Não é apenas a previsão delas que inquieta o estudioso, mas o desejo de tê-las antecipadamente, assentá-las em planejamentos. Tal aspiração se levanta sobre duas pernas: o interesse de Platão em sustá-las e a doutrina de Marx sobre a sua inevitabilidade. Em síntese, como consequência, lembro ao leitor o que Hegel nos deixou: na impossibilidade de a mudança ser barrada, que ela seja ao menos planejada e controlada pelas instituições – ampliando, sobretudo, o poder do Estado.
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro, Roberto DaMatta e Jessé de Souza são alguns dos hermeneutas da sociedade brasileira. Inúmeras instituições estiveram e estão atentas ao que é produzido por nossos estudiosos. A tese da miscigenação da sociedade brasileira foi de Gilberto Freyre. Sérgio Buarque e Faoro trouxeram a tese do patrimonialismo. DaMatta mostrou que a sociedade brasileira é hierárquica. E Jessé de Souza revelou o dia a dia dos batalhadores: os novos integrantes da classe média.
A releitura das obras destes autores e os recentes dados do IBGE revelam mutações na sociedade brasileira. De acordo com o IBGE, no ano de 2010, ainda existia uma diferença grande de rendimento salarial entre brancos e negros. Revela-se, portanto, que o mercado de trabalho, por variados motivos, não se democratizou no âmbito da raça. Ainda de acordo com essas pesquisas referentes a 2010, as mulheres já estão à frente de 39% das residências brasileiras. Estes dados revelam que mais mulheres estão no mercado de trabalho. Fenômeno positivo, pois sugere que a discriminação de gênero tem diminuído no mercado de trabalho. Segundo o Instituto, as residências abrigam, atualmente, apenas 3 pessoas em média. Neste caso, ocorre, em ritmo constante, a diminuição da taxa de natalidade.
E a escola brasileira? Apenas 3% das crianças estão fora da escola, segundo o IBGE (Ano de referência: 2010). Neste sentido, cria-se a hipótese de que o Brasil avança quantitativamente na educação. Mas que a inserção educacional não mais se limite à estada em sala de aula. O virtual não deve se visto como um terceiro espaço. Esse processo de virtualização fez surgir o ensino a distância. A práxis social se contextualiza no processo da virtualização da escola. A desterritorialização de espaços-tempo é o desafio da escola de hoje. Nós, empreendedores educacionais, temos esse compromisso vindo com as mudanças sociais. Mais parcerias com o Estado devem ser firmadas para essa necessidade social. É que a troca não está mais enraizada na interação face a face, apenas. Assim como também não está no verbal, somente. Não nos assustemos com as mudanças. Sejamos hegelianos. A interação amplia-se para a troca entre o usuário e a máquina. Amplia-se entre o usuário, a máquina e o texto. Enfim, a escola deve estar sem muros. A melhoria da qualidade educacional brasileira necessita de novas configurações.
As mudanças chegam. Mas é comum chegarem não em passos harmoniosos. Marx já nos deixou essa lição. A sociologia do conhecimento nos faz entender que as questões sociais e políticas não se desenvolvem em laboratório ou no vazio, mas em atmosferas socialmente condicionadas. O melhor ajuste às mudanças é, inicialmente, lembrando Kant, permanecer receptivo e, em seguida, investigar, comparar, unir, generalizar sem acreditar na uniformidade da humanidade, pois não há ( enganou-se Hegel ) como sistematizar um único planejamento para oportuna intervenção pública. Deixamos você com a reflexão de que a necessidade, amigo leitor, cara leitora, é a de fazer projetos onde as contradições não precisam ser radicalmente evitadas. Enquanto isso, estejamos sempre revisando e trazendo novas intervenções, pois a mudança nos impõe que tudo é inconclusivo. Pelo menos, em longo prazo.
A desigualdade entre o investimento público destinado ao sistema carcerário e a educação brasileira chega a ser paradoxal. Um país que tem o discurso de educar para garantir o futuro - como é caso do Brasil – investe anualmente apenas R$15 (quinze mil reais) por aluno no ensino superior e cerca de R$2.5 (dois mil e quinhentos reais) por aluno no ensino básico, enquanto que, paradoxalmente, gasta R$40(quarenta mil reais) para manter um preso no sistema carcerário federal. Ou seja, investe-se quase três vezes mais com um detento em um sistema penitenciário precário e superlotado que com um universitário, e seis vezes mais que com um aluno do ensino básico, cabeças encarregadas de garantir o futuro do Brasil. Por outro lado, a conta é ainda mais absurda nos municípios, onde são gastos anualmente R$2.3 (dois mil e trezentos reais) com alunos do ensino médio e R$21 (vinte e um mil reais), com os detentos dos presídios estaduais.
Nessa perspectiva, considerando apenas as matrículas atuais, o investimento público direto por aluno deveria, hoje, ser de 40% a 50% maior. A campanha nacional de Justiça desenvolveu o cálculo chamado aluno-qualidade. Os números apontam que para garantir a realização do Plano Nacional de Educação seriam necessários R$ 327 bilhões por ano. Mas não são apenas os contrates financeiros que ligam estes dois sistemas. As reflexões acerca destes assuntos devem ser feitas de forma sociológica, com um olhar voltado para as mazelas da sociedade que causam o abarrotamento nas prisões.
A violência e a pobreza são os principais fatores provenientes da desigualdade social, que por sua vez é alimentada de forma constante pela falta de oportunidades enfrentada hodiernamente pela população a qual não teve acesso a uma educação de qualidade. Esta engrenagem acaba movendo de forma negativa a sociedade, que termina por sucumbir a violência e a problemas sociais cada vez mais comuns no cenário brasileiro. A falta de assistência educacional a camada da população mais necessitada produz gastos cada vez mais ineficientes como os do sistema prisional.
Para sair deste estado de estagnação é preciso direcionar mais recursos para o conjunto dos chamados direitos sociais fundamentais, quais sejam: educação, saúde, habitação, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Ao deixar de garantir o direito à educação estamos cerceando aos cidadãos os demais direitos, haja vista a limitação das oportunidades deles e desta forma, criando ainda mais desamparados que por sua vez também não poderão ter seus direitos assegurados integralmente.
Nesse contexto, os investimentos para com o sistema carcerário, assim como para a educação, estão longe de serem ideais. Dispensar tanto dinheiro dos cofres públicos não significa dizer que há qualidade em sua utilização, uma vez que as condições de “moradia” dos detentos são extremamente insalubres por conta da superlotação, da falta de infraestrutura adequada de saneamento e até mesmo de saúde. É preciso otimizar os gastos de forma que essa engrenagem impulsione o sistema para o desenvolvimento social e não se transforme em um ciclo vicioso de desperdício do dinheiro do Contribuinte. Acima de tudo é preciso transformar este sistema que produz desamparados sociais em uma mais eficiente, justo e solidário.
Por fim, no caso da educação brasileira, além do aumento nos investimentos para este segmento, é preciso investir em melhorias na gestão de verbas direcionadas às instituições de ensino. A qualidade do serviço e a permanência dos alunos na escola está diretamente ligada à fatores como motivação e acesso. O grande cerne desta disparidade entre educação e sistema carcerário não é quem merece ou não mais investimentos, mais sim a melhoria em ambos os serviços. Ao equilibrar estes números é possível garantir um sistema carcerário eficiente e uma educação de qualidade. Evitando o desperdício de dinheiro público e garantindo uma sociedade mais digna, com os direitos básicos verdadeiramente assegurados.
Existe na atualidade o consenso em torno dos seguintes adágios populares: crises econômicas possibilitam a insatisfação dos eleitores e geram crises políticas. A situação econômica de um município, estado ou país norteia a opinião pública a escolher determinados candidatos. No jogo eleitoral, os temas econômicos predominam em todas as discussões, independentemente das classes sociais. Os fatos recentes mostram que estes adágios são extremamente verdadeiros.
A atual crise econômica que assola a Europa possibilitou mudanças de governos em países como a Grécia, Itália e Portugal. Neste último país, uma mudança radical ocorreu: após longos anos de governo socialista, um liberal assumiu o poder. Na Itália, esta semana, um liberal assumiu o lugar de outro liberal. Na Espanha, em breve ocorrerão eleições. O partido Popular, reconhecido como de direita, deverá sair vencedor. Ademais, do outro lado do velho continente, nos Estados Unidos da América, a reeleição de Obama está fortemente ameaçada, tudo em virtude de crise econômica.
As crises econômicas aceleram os ciclos políticos e decretam o fim das ideologias dominantes. Foi assim no Egito, na Líbia e será assim na Síria. No mundo contemporâneo, as mudanças dos atores políticos não ocorrem mais em função de debates ideológicos ou ideologias dominantes, mas, em função de crises econômicas. Lembrava-nos Isaiah Berlin, em suas aulas, em Oxford, que a maneira de governar era uma ciência como a engenharia ou a agricultura, com métodos próprios alicerçados em estudo racional da natureza humana, advindo da observação, da lógica e da cultura de seu povo.
Com as fronteiras ao chão, o desenvolvimento de uma ciência natural do comportamento humano de um povo não mais atende aos estadistas. À instabilidade econômica criada com a crise das hipotecas nos Estados Unidos somam-se instabilidades políticas em boa parte do planeta. A quebra do banco americano Lehman Brothers foi apenas a ponta do iceberg. Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, por exemplo, assume, hoje, com uma administração contando moedas, ou seja, com dinheiro em caixa para menos de um mês de gestão. Sua esperança é a liberação da sexta parcela do primeiro pacote internacional. A esperança de seu povo, por outro lado, corre das medidas de austeridade de seus credores. Eis o cenário comum, sem falar na xenofobia.
Talvez não tenhamos ainda aprendido a viver politicamente em mercado financeiro mais aberto. Programas, métodos, critérios, tratados, teses precisam surgir. Ainda não há método de aplicação conclusivo. Tudo ainda está na lembrança de escambos – obedecendo às proporcionalidades dos novos tempos, claro. Há assimetrias expressivas entre os que governam e os que elegem. Sabemos que o poder evidencia também a necessidade de unidade de comando, pois sem ela a desordem é inevitável. Portanto, a existência de bens que pertençam a todos e de lugares públicos, sem que caiam em formas extremas de coletivismo, de fato, devem ser defendidos, apesar de imposições de credores. Qualquer intervenção por parte de credores internacionais na propriedade cultural de um povo, seja na forma de confisco, seja com o aumento de impostos, é urna aberta, pois ultrapassa os limites do bom senso político.
Sustentabilidade. Tem se discutido largamente acerca deste assunto nas indústrias e grandes corporações. Atrelada a ele está, também, a cobrança por ações de responsabilidade social. Mas o que poucos percebem é que estes dois assuntos estão diretamente ligados ao crescimento populacional. Com efeito, é importante registrar que a mobilidade social e o aumento do poder aquisitivo alimentam a sociedade do consumo, que por sua vez mantém a rotatividade na compra e descarte de produtos. Com os valores e tendências cada vez mais efêmeros a sociedade atual compra e se livra de suas “tralhas”, cada vez mais rápido. No mundo onde hoje habitam 7 Bilhões de pessoas, o futuro pode estar fadado ao lixo e a poluição, se não forem tomadas medidas preventivas.
Registre-se, por oportuno que o ser humano consome por dois motivos: para suprir as necessidades básicas como alimentação, saúde, educação, moradia, etc., e para suprir necessidades supérfluas. O que acontece no mundo contemporâneo é que sempre parecemos “precisar” de algo novo. Um celular mais moderno, um computador mais veloz, um carro com melhor desempenho... tudo em função de uma necessidade ditada pelo modismo e pelo consumo. Esta urgência da sociedade respaldada no capitalismo e no aumento do poder aquisitivo de grande parte da população gera um ciclo interminável de descarte, onde tudo acaba se inutilizando em pouco tempo.
Nessa perspectiva, para suprir as preferências de consumo, o ser humano acaba por interferir com agressividade no meio ambiente, pois quase tudo o que utiliza é proveniente da natureza, ou necessita de algum recurso natural para ser viabilizado. Por outro lado, o modelo social no qual estamos inseridos é capitalista. Baseado em inovações tecnológicas, em busca do lucro e no aumento contínuo dos níveis de consumo, este sistema acaba não dando a devida atenção aos limites suportáveis pela natureza e pela própria vida.
Nesse contexto, é particularmente triste consignar que todo este consumo desenfreado da população contemporânea aliada à necessidade dos indivíduos em acompanhar as tendências, modismos e necessidades da vida moderna, acarreta um cruel recrudescimento de materiais descartados pela população, degradando, sobremaneira, o meio ambiente. A título ilustrativo, asseveramos que só no Brasil a produção de lixo cresce seis vezes mais do que a própria população. Ademais, de acordo com pesquisa produzida anualmente pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais -Abrelpe- o Panorama anual dos Resíduos Sólidos no Brasil chegou a 61 milhões de toneladas em 2010. Isso significa dizer, pasmem, que cada pessoa no país é responsável pela produção de 378Kg de lixo por ano.
Precisamos ficar alertas. O planeta mostra sinais de esgotamento. Os problemas ambientais se diferem em países ricos e pobres, porém quanto mais industrializado e rico o pais, pior é o problema com o manejo dos resíduos e gases liberados pelos parques industriais. Veja o exemplo dos EUA e da China, primeira e segunda potencias mundiais! É claro que precisamos avançar na economia e que é benéfico para o progresso da sociedade, a mobilidade social e o aumento do poder de compra. Mas o custo não pode ser tão alto ao ponto de desgastarmos velozmente os recursos naturais do planeta em que vivemos. Zelar pela utilização de energias renováveis e consumir de maneira consciente também é obrigação nossa e de toda a sociedade.
O problema do tráfico de drogas no Rio de Janeiro é histórico. Em fraldas de bebê, em imagens de Nossa Senhora Aparecida, em papai-noel ou até dentro do corpo humano a droga insiste vencer fronteiras. As obras antropológicas de Luís Eduardo Soares e Alba Zaluar revelam que o desenvolvimento do tráfico no estado está vinculado aos agentes estatais. A conclusão inexorável do estudo é que o tráfico só cresce em decorrência da contribuição dos agentes público - o que é paradoxal.
Ora com assistencialismos ( pagamento de enterros, compra de remédios, cestas básicas, tijolos para construção de casas populares ) aos da comunidade, ora com “arregos”, ou seja, extorsões para agentes públicos do baixo ou alto escalão, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico de drogas na Rocinha (RJ), preso no último dia 4 de dezembro, declara para a Polícia Federal que metade de seu faturamento, cerca de R$ 100 milhões por ano, era repassado para os “arregos”, sobretudo. Para Zaluar, essas ações espúrias permitem “o aumento da criminalidade violenta”.
Mais de 800 bilhões de dólares é o que o mercado no planeta tem movimentado. Seja no varejo, seja no atacado, não falta consumidor. Pelo menos 146 países integram o tráfico. Entre os países da América do Sul, o Brasil é expressivo com uma população já superior a 6,7 milhões de usuários de drogas. As regiões sudeste e sul do nosso país superam índices estatísticos. Dos 11 milhões de usuários de heroína no mundo, mais de 600 mil são brasileiros. Maceió é a capital mais violenta do Brasil - 107,1 mortes por 100 mil habitantes. Em seguida, surge Recife, com 85,2 . Apesar de o Rio de Janeiro estar em 20º lugar, temo-lo com 31 mortes por 100 mil habitantes, conforme dados do Estado de São Paulo. E, claro, o tráfico de drogas responde expressivamente por esses números. Grupos de extermínio costumam atuar.
Há, neste imenso país, uma cartografia urbana dividida em duas zonas: as selvagens e as civilizadas. Aquelas são as hobesianas; estas são as de contrato social, ou seja, vivem sob a comum ameaça dos selvagens. Por conseguinte, mostram-se estas últimas como castelos neofeudais, enclaves fortificados que tipificam as novas formas de segregação urbana. E o tráfico de drogas quebra essa blindagem. E desarmoniza a família. E desordena vidas. E causa mortes. Não faltar com os “arregos” é potencializar toda essa criminalidade.
E todo mundo ganha, sobretudo jovens desprovidos de oportunidades de emprego e renda. Equiparações econômicas e até mesmo superações a classes privilegiadas legalmente viabilizam em curto prazo o consumo de roupas de marcas, carros importados e inclusões em grupos sociais das capitais, permitindo integrar-se a modismos urbanos.
Mas no meio do caminho há Beltrames. Há Beltrames no meio do caminho. Apesar das ações meritórias do secretário de defesa, variadas áreas do Rio de Janeiro continuam dominadas pelo tráfico e também por milícias. As milícias representam mais um problema para o Rio de janeiro, já que elas são formadas por agentes do estado e, assim como o tráfico, exercem poder coercitivo e despótico junto aos moradores de áreas pobres.
E a imprensa, engatilhada com suas câmeras, documenta tudo – ou quase tudo. As evidências de imagens reais não negam os números acima. Jornalistas disparam diariamente fotos, vídeos que desagradam muitos soldados de líderes criminosos do tráfico. Mas, do outro lado, engatilhando fuzil, levaram ao chão, na zona Oeste do Rio, recentemente, o cinegrafista da TV Bandeirantes, Gelson Domingos da Silva. Às vésperas da Copa do Mundo, e próximo das olimpíadas, o Brasil precisa discutir profundamente estas questões de extrema importância para o Brasil no afã de pôr termo a estes problemas vergonhosos à luz da opinião pública mundial. Enquanto isso, câmeras se mantêm na linha de tiro, insistindo em dizer que há necessidades nas ruas, nas avenidas, nos morros, em eventos, em projetos, nas vidas urbanas que precisam ser atendidas, nem que para isso algemas recaiam sobre os que portam suas chaves. O que não falta, é, de fato, uma câmera atenta para fazer o registro disso. Não falta, mesmo. Tê-la-emos, insistentemente.
O cancelamento das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 639 alunos do Colégio Christus, de Fortaleza (CE) foi assunto esta semana no cenário educacional do país. A decisão foi do Ministério da Educação (MEC) e levantou novamente a polêmica sobre a credibilidade dos testes. No entanto, o que está em jogo não é apenas um exame aplicado nas escolas, mas um sistema que pode melhorar, e muito, a educação básica no Brasil, além de se tornar o caminho mais curto para a democratização do acesso ao ensino superior.
Assim como o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), realizado recentemente, em 1.356 municípios do País, que contou com mais de 376 mil inscritos, concluintes de 8,8 mil cursos de graduação oferecidos por instituições de educação superior públicas e privadas, o Enem, criado pelo incansável ministro Fernando Haddad, que na nossa ótica foi o ministro que mais fez pela educação brasileira nas últimas décadas, é de importância capital para o futuro da educação brasileira. Trata-se de um teste que obriga as escolas a melhorar a qualidade de ensino e se configura como uma opção para as instituições de ensino superior adotá-lo como forma de ingresso dos alunos, substituindo o retrógrado e ultrapassado sistema do vestibular.
Nos últimos anos, porém, foram registrados alguns problemas em sua aplicação, todos sanados tempestivamente pelo MEC. É que o Brasil é um pais de dimensão continental e a aplicação da prova envolve milhares de seres humanos suscetíveis de falhas, o que torna-se humanamente impossível evitar que pequenos problemas ocorram. Em 2009, alguns exemplares foram roubados e, com a fraude, a realização do exame foi adiada. Entretanto, todos os envolvidos no vazamento dos testes foram condenados pela Justiça Federal. No ano de 2010, houve questões embaralhadas na prova amarela, fazendo com que estudantes marcassem respostas no campo errado. Este problema também foi sanado pelo ministério. Neste ano, vários candidatos no Rio de Janeiro foram informados por telefone que o local da prova que estava indicado no cartão de inscrição estaria errado. Por terem sido avisados a tempo, tal fato não acarretou prejuízo para os referidos candidatos.
Falhas à parte, vale ressaltar que o Enem consiste num importante instrumento de melhoria da qualidade de ensino e numa oportunidade aos brasileiros que anseiam ingressar no ensino superior. A título de exemplo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) decidiu oferecer 100% das vagas do vestibular 2012 através das notas do Enem de 2011. Para concorrer às vagas, os estudantes terão de se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (SiSU). A decisão foi comemorada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que considera uma mudança de paradigma no pensar das nossas instituições.
De fato o é. O Enem, aliás, já é bastante utilizado por universidades públicas e por quase todas as instituições privadas para o acesso ao ensino superior. Mais que isso, o exame ainda pode ser usado para a obtenção da certificação do ensino médio. No entanto, as universidades têm autonomia para adotar a prova, seja como fase única, com o SiSU; como primeira etapa do vestibular; com a combinação com o vestibular da instituição ou ainda como fase única para as vagas remanescentes.
Para se ter uma ideia, em Minas Gerais pelo menos onze universidades federais já adotaram o Enem como parte de seus vestibulares. No ano passado, A UFMG passou a considerar a prova como primeira etapa do concurso, e, agora, continua com o mesmo processo, mas acrescenta algumas provas para a segunda etapa do vestibular. É um exemplo. Apesar de erros pontuais, o Enem e também o Enade precisam ser interpretados como essenciais para a educação brasileira. O ministro Fernando Haddad sabia da importância desses testes quando os criou. Agora é a sociedade que deve alcançar essa relevância. As falhas precisam ser corrigidas, mas a educação brasileira também.
Agora somos sete bilhões de habitantes em todo o planeta. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas, nasceu nesta semana a criança que levou o mundo a esta marca populacional. Mas o que significa exatamente termos tanta gente habitando o espaço terrestre? Significa que é preciso pensar nos desafios e na qualidade de vida da população, que até 2050 deve atingir a marca dos 9 bilhões, e no final deste século deverá ultrapassar os 10 Bi. Saneamento básico, moradia, emprego, previdência, e planejamento familiar e, principalmente, alimentos básicos são alguns aspectos que devem receber um olhar mais crítico das autoridades mundiais.
No Brasil, por exemplo, a taxa de fecundidade é de aproximadamente dois filhos por mulher em idade reprodutiva, e temos, no território, aproximadamente, 22 habitantes por quilômetro quadrado. Ademais, com a alta expectativa de vida do brasileiro em torno de 66 anos, é inevitável pensar na pressão econômica e social que surgirá por novos postos de trabalho no País. Esta pressão, fatalmente ocorrerá por conta desta nova população em idade produtiva. Por outro lado, a revisão do plano de aposentadoria será outro fator com o qual não poderemos deixar de nos preocupar, pois os jovens que hoje abarrotam o mercado de trabalho estarão grisalhos dentro de quarenta anos. Registre-se que somamos atualmente 893 milhões de habitantes com mais de 60 anos. Em 2050 este quantitativo pode chegar a 2,4 Bilhões de pessoas em todo o mundo.
É importante trazer à baila que esta superpopulação mundial acarreta radicais mudanças no cenário demográfico. A maioria da população se concentra em grandes centros urbanos, e, grande parte dela, vive em condições subumanas, haja vista que as grandes metrópoles - que deveriam proporcionar condições dignas de vida para a população - não conseguem acompanhar este recrudescimento populacional e proporcionar as condições mínimas necessitadas pelos seus habitantes. Nesse contexto, é particularmente triste consignarmos que em termos de sobrevivência as metrópoles estão longe de ser o lugar ideal para viver. O que se nota é a favelização em torno das grandes metrópoles com pessoas vivendo em condições precárias. Esse acúmulo que resulta no crescimento desordenado dos centros urbanos só tende a crescer com o aumento populacional. Não existe, nas principais grandes metrópoles, uma infraestrutura adequada que englobe saneamento básico, moradia, saúde e educação para acolher todas estas pessoas.
Com efeito, o fato de a população atingir a marca dos 7 Bilhões chega não como algo a se comemorar simplesmente, mas sim como um alerta de que precisamos refletir sobre a qualidade de vida dos habitantes deste planeta. É preciso garantir, acima de tudo, que países emergentes, como o Brasil, continuem crescendo. Mas, é preciso garantir também a qualidade de vida digna de seus habitantes. As políticas governamentais precisam estar diretamente ligadas ao crescimento populacional e às taxas de fecundidade e produtividade. Do contrário, estaremos apenas povoando o mundo sem sequer ter responsabilidade sobre o futuro.