Depois da votação do impeachment de Collor (1992), um assessor me perguntou como me sentia participando daquele momento histórico. A pergunta tinha cabimento e a resposta esperada era de um eleitor que, no primeiro turno, votara em Aureliano Chaves e, no segundo, dissidente do partido, declarara, por escrito, da tribuna da Câmara Municipal, em 1989, as razões do voto em branco. Lido o voto, deparei-me com um repórter da televisão com procedente e desconcertante pergunta: - Quer dizer que o senhor vai ficar em cima do muro? Aíum anjo bom botou na minha boca providencial resposta - Não, vou ficar soterrado embaixo do muro qualquer que seja o eleito.
Durante o processo, fiz parte de um grupo de parlamentares que trabalhou ativamente pelo impeachment. Mais uma razão para a pergunta do assessor, qual não foi a surpresa dele (não sabia que faria parte do governo Itamar, muito menos como Ministro da Fazenda) quando disse que sentia uma profunda tristeza cívica; que não havia motivos para comemoração; que, naquele grave momento, acabara de iniciar o impedimento do primeiro presidente eleito da nascente democracia; que o mais difícil seria colocar nos trilhos um país que perdera o rumo.
Em 2016, assisto, silenciosamente, a um espetáculo televisivo grotesco, queiram ou não queiram os puristas, da representação política do eleitorado brasileiro. Um espetáculo em que acusadores e acusados se merecem e outros tantos para os quais “pedaladas fiscais” não configuram crime de responsabilidade política, certamente, porque sofrem de amnésia histórica: em 1215, a Magna Carta consagrou o princípio da legalidade tributária de modo a proteger os cidadãos da rapinagem e dos gastos desmedidos do monarca. O equilíbrio orçamentário éum dever inafastável do governante e uma proteção legal ao cidadão.
Hoje, o meu sentimento, também, éde tristeza cívica. E não seria, caso não visse o Brasil e suas instituições, irresponsavelmente, expostas ao mundo e se um raio de esperança me levasse a crer em homens públicos para os quais as futuras gerações valem mais do que uma eleição.
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