Magno Martins

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Política Diária

Perfil:Graduado em Jornalismo pela Unicap e com pós-graduação em Ciências Políticas, possui 30 anos de carreira e já atuou em veículos como O Globo, Correio Braziliense, Jornal de Brasília, Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Foi secretário de Imprensa de Pernambuco e presidiu o comitê de Imprensa da Câmara dos Deputados. É fundador e diretor-presidente do Blog do Magno e do Programa Frente a Frente.

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O Gandhi do Sertão

Magno Martins, | ter, 03/11/2015 - 13:06
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Como sertanejo apaixonado até pelas suas pedras, que são lindas e nos dão a impressão que falam, como disse certa vez num dos seus livros o meu pai Gastão Cerquinha, noticiei com a alma retorcida e uma profunda dor a morte do ex-deputado Osvaldo Coelho (DEM), de raízes, sentimentos e coração irrigados pelas águas do lendário Rio São Francisco.

Osvaldo, como meu pai, tinha cheiro de bode, aroma de marmeleiro e seu corpo se confundia com xique-xique, porque seus atos, ações e caminhadas eram devotados à terra sertaneja. Com mais de 50 anos dedicados à vida pública, recebendo do povo a honra de representá-lo em 13 mandatos eletivos, dos quais oito na Câmara dos Deputados, Osvaldo defendeu o Sertão até a morte, mesmo sem mandato, como estava.

Não conheci Nilo Coelho, seu irmão, o bravo senador que morreu de um infarto depois de desafiar o regime ditatorial em um histórico discurso da tribuna, quando afirmou que não era presidente do Congresso do PDS, mas presidente do Congresso Brasil, ao cobrar investigação sobre o atentado no Rio Centro. Por tudo que fez, sendo também governador de Pernambuco, Nilo virou mito.

Osvaldo também foi mito. Filho de Clementino de Souza Coelho, o “Coronel Quelé”, e dona Josefa, tinha a liturgia da irrigação, que tirou Petrolina da paisagem de vidas secas, fez riquezas e gerou empregos que não existiam numa terra abençoada pelo rio da unidade nacional, em que se plantando tudo dá, tudo se transforma e faz renascer a vida na sua plenitude.

Quando o conheci, na cobertura da morte do irmão Nilo, em Petrolina, no início dos anos 80, não tive nenhuma dúvida de que seria o grande sucessor e líder do clã. Osvaldo foi mais do que isso. Foi um dos grandes defensores da irrigação, da educação para o Vale do São Francisco. Marcou sua trajetória dedicada às políticas pelo Nordeste e, principalmente, para desenvolvimento do semiárido.

Em Petrolina, foi de Osvaldo Coelho a luta pela implantação do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho, que transformou o cenário local em uma das maiores potências na fruticultura irrigada do País. A produção em larga escala de frutas, como manga e uva, fez do Vale do São Francisco um local atrativo para grandes investidores.

A implantação da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), que tornou a região um polo na educação, também teve forte presença dele. Foi responsável, igualmente, pela criação da Escola Técnica e Agrotécnica em Petrolina. Conhecido como o “Deputado da Irrigação”, Osvaldo Coelho era visto como a “Força do Sertão”, justamente por priorizar o homem sertanejo nos projetos de desenvolvimento.

 

Em um dos artigos, que frequentemente publicava, Osvaldo Coelho finalizou com a frase: “Espero que as pessoas lembrem de mim como aquele que fez de tudo para fortalecer os mais fracos”. Esta ideia resume sua trajetória, com uma política que tinha como propósito dar dignidade àqueles que muitos precisavam: os sertanejos atingidos pelo fenômeno da seca, assim como ele mesmo ainda na década de 1930, em que presenciou um cenário cruel de retirantes.

Como Gandhi, que combatia a divisão da Índia entre hindus e muçulmanos, Osvaldo não concebia que o Nordeste fosse tratado de forma desigual, entre uma gente que prosperava nas regiões metropolitanas e outra, discriminada e sem oportunidades, que ia morrendo ao deus dará nas terras do semiárido.

Certa vez ouvi de Jarbas Vasconcelos, ainda na condição de governador de Pernambuco, que do clã Coelho, família política e poderosa que se espalhou às margens do rio São Francisco, Osvaldo era o que tinha, na verdade, mais espírito público. E que nunca o havia recebido em audiência para tratar de questões pessoais. “Ele sempre tratava das causas públicas”, repetia Jarbas.

Marqueteiro e publicitário de mão cheia, José Nivaldo Júnior, da Makplan, disse, ontem, chorando copiosamente com a notícia da morte de Osvaldo, que ele era o braço do Sertão. Na verdade, ele foi braço, tronco e membros. Foi a cabeça pensante, a voz dos oprimidos, dos que tinham esperança em crescer feito gente nas áreas irrigadas do São Francisco.

Foi o nosso Gandhi sertanejo! 

POLÍTICO EXEMPLAR– Jarbas Vasconcelos também deu um depoimento emocionado em relação a Osvaldo Coelho. "A morte de Osvaldo Coelho é uma perda para a política de Pernambuco e do Brasil. Um político e um chefe de família exemplar. Quando fui governador, Osvaldo só me procurou para tratar de temas e pautas relevantes para Petrolina e para a região do Vale do São Francisco. Ele fará falta, principalmente nos dias atuais, quando a política nacional precisa de pessoas com a postura séria que ele sempre teve"

Estilo ou marcha lenta? – O governador Paulo Câmara foi ao velório de Osvaldo Coelho em Petrolina, mas, estranhamente, alijou sua assessoria de Imprensa, criando dificuldades para os veículos de comunicação no Recife que não puderam enviar equipes. Até nisso, Câmara é diferente de Eduardo Campos. Vale o registro, aliás, que o Palácio não enviou uma só linha do governador comentando a morte tão logo foi tornada pública na modorrenta noite de domingo passado. Questão de estilo ou falta de eficiência? 

Raquel, a candidata– Ao ler ontem o comentário desta coluna, indicando que a solução para o comando do PPSB só seria dada em março, na véspera do encerramento do prazo de filiação partidária, um assessor do ex-governador João Lyra Neto revelou, pedindo reservas, que a deputada Raquel Lyra recebeu a garantia do governador Paulo Câmara de que não apenas será a presidente do diretório municipal socialistas, mas a candidata apoiada pelo Governo. Com a palavra o prefeito José Queiroz! 

Fora o racismo! – O deputado federal Raul Jungmann (PPS) manifestou solidariedade à atriz Taís Araújo, alvo de ataques racistas no último final de semana pelas redes sociais. Por meio do Twitter, o parlamentar lamentou o caso. "O Brasil não tem espaço para racistas. Toda solidariedade a atriz Taís Araújo", afirmou. A atriz foi alvo de comentários racistas no Facebook, que provocaram até reportagem no Fantástico. 

Chuva de honestidade– O cantor e compositor Flávio Leandro, que no próximo sábado grava seu primeiro DVD ao vivo na concha acústica, em Petrolina, retratou numa música o descaso do Governo com a irrigação. Com o título “Chuva de honestidade”, era a canção preferida do ex-deputado Osvaldo Coelho. Um dos seus trechos diz: “Israel é mais seco que o Nordeste/ No entanto se veste de fartura/ Dando força total à agricultura/ Faz brotar folha verde no deserto/ Dá pra ver que o desmando aqui é certo/ Sobra voto, mas falta competência pra tirar das cacimbas da ciência água doce que serve a plantação”. 

CURTAS  

GENEROSO– Do publicitário José Nivaldo Júnior, da Makplan: "Apesar de ideologicamente divergentes, construí com Osvaldo Coelho uma relação profissional pautada pelo respeito e admiração. Foi um político excepcional, que sempre colocou os interesses coletivos, principalmente da sua região, acima de tudo. Com ele, morre uma época e um jeito generoso de fazer política". 

ALÔ, ABREU E LIMA! – Retomo minha agenda de lançamentos dos livros Reféns da seca e Perto do coração, hoje, em Abreu e Lima, às 19 horas, na Câmara de Vereadores. Amanhã, estarei em Camaragibe, também na Câmara, no mesmo horário, na quinta em Caruaru, na ACIC (Associação Comercial e Industrial), às 19 horas, e na sexta-feira em Petrolina, no restaurante Da Vila, às 19 horas. 

Perguntar não ofende: O que será agora da irrigação do São Francisco sem a voz respeitável e persistente de Osvaldo Coelho?

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