Gustavo Krause

Gustavo Krause

Livre Pensar

Perfil: Professor Titular da Cadeira de Legislação Tributaria, é ex-ministro de Estado do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, no Governo Fernando Henrique, e da fazenda no Governo Itamar Franco, além de já ter ocupado diversos cargos públicos em Pernambuco, onde já foi prefeito da Capital e Governador do Estado.

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A Cabritologia

Gustavo Krause, | sex, 05/07/2013 - 20:32
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É um ramo novo da teoria do conhecimento. Mas não se ocupa dos cabritos, ou seja, do jovem ruminante herbívoro que pertence à família do bode.

Trata-se de recente ciência que se ocupa da movimentação tão intensa quanto inútil (cabritos saltitantes, hiperativos) bem como da linguagem (os balidos) dos executivos nas modernas corporações privadas ou públicas.

São os filhos da globalização, da velocidade e da especialização profissional.

Levam a vida no gerúndio, viajando e reunindo-se.

Quem procura, não acha. O máximo que se consegue é deixar um recado, em geral sem retorno, com a amável secretária de carne e osso que, mais cedo ou mais tarde, será substituída, pelo artefato tecnológico e impessoal, chamado secretária eletrônica.

As videoconferências, as “conference calls” e a crescente aerofobia não diminuíram o furor dos deslocamentos. Olhos colados no laptop e ouvidos grudados em vários celulares, os executivos modernos seguem a rotina da movimentação intensa, inútil como uma bolinha de ping-pong nas raquetes da velocidade. Pra que tanta pressa, doutô? A vida é breve, ensinam os cabritólogos.

Além da movimentação, há outro traço que distingue os membros das corporações: o dialeto que falam e que transformam na linguagem da comunicação institucional.

Falam como idiotas e, o que é pior, pensam que o distinto público é um bando de idiotas.

Nada de preconceito, nem birra pelo implemento de idade.

Vamos a alguns dos dialetos contra os quais existem livros e movimentos organizados.

O “juridiquês” cuja quintessência (para não falar em “desate curial”, “cônjuge supérstite, “ergástulo público”, “cártula chéquica”) é o trecho de um recurso dirigido ao Superior Tribunal Militar, uma pérola: “O Alcandor Conselho Especial de Justiça, na sua postura irrepreensível, foi correto e acendrado no seu decisório. É certo que o Ministério Público tem o seu lambel largo (...) Mas nenhum lambel o levaria a pouso cinéreo se houvesse acolitado o pronunciamento absolutório dos nobres alvazires de primeira instância”. Entendeu?

E o “economês”, decifrando o rolo causado pelo mercado imobiliário americano, diria o seguinte: “A crise dos derivativos subprime expõe a volatilidade dos mercados. As posições alavancadas dos players, sem o lastro dos swaps e dos hedges funds, podem vir a afetar a banda diagonal exógena do câmbio flutuante e, por conseqüência, o regime de inflation target dos países emergentes”. Tradução: a alta picaretagem internacional enganou o besta ganancioso e pode ferrar os babacas emergentes.

Quem quiser se divertir com a conversa fiada, a armadilha da obscuridade e a arte de embromação do mundo dos negócios, recomendo a leitura de “Por que as pessoas de negócios falam como idiotas”, de autoria de três americanos, um verdadeiro pelotão de fuzilamento do jargão e da besteira.

A esta altura o leitor vai perguntar: e o “politiquês” vai passar em branco? Vai livrar a cara dos seus pareceiros? Este é um dialeto de alta complexidade e periculosidade. Merece um artigo inteiramente dedicado a ele. Prometo.

Mas já que falamos em politiquês, vem de Churchill, profundo conhecedor de história, da língua inglesa e excepcional orador, um brilhante conselho contra o blá, blá, blá, o lero-lero, a lengalenga: “Das palavras, as mais simples; das mais simples, a menor”. 

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