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O fim das livrarias

Cristiano Ramos, | seg, 23/01/2012 - 10:28
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As livrarias estão com os dias contados. Talvez meses. Ou uns poucos anos, quem sabe? E, confesso, não estou certo se terei saudades. Porque, em lugar das antigas, que há tempos passaram a vender livros como se fossem sabão, o mercado oferecerá muitas oportunidades para quem valorizar esse produto especialíssimo.

Morte sentida mesmo foi a do livreiro, aquele sujeito que não apenas vendia, mas também conhecia do assunto, orientava leitores, reunia escritores, fomentava a cultura. Em lugar, surgiram os grandes supermercados-fiteiros do mercado editorial, livrarias atulhadas de estantes, como se prateleiras de margarina, com vendedores desinformados, impessoalidade no trato e sujeição total às campanhas de marketing e distribuição.

Com a chegada dos livros digitais, das lojas virtuais, dos tablets e da pirataria, aqueles clientes que insistem em cultivar o suporte impresso exigem mais qualidade e serviços. Eles esperam, sobretudo, o devido respeito.

A livraria do século XXI – ou pelo menos das primeiras décadas – precisa de vendedores com razoável conhecimento sobre as obras, autores e temas disponibilizados; precisa encomendar e entregar rapidamente os títulos demandados e ainda não adquiridos; a realidade requer que ela tenha um bom site, inclusive com opção de venda on-line, além de oferecer os lançamentos também em formato digital.

Até aqui, são qualificativos já presentes no mercado, assim como os cafés e os auditórios, que visam relacionamento mais estreito, resgatando algo daquele sentimento de convivência que existia na época dos livreiros.

Esta livraria, no entanto, precisará ir além, preparar-se para apontar caminhos, tornar a jornada desses amantes da leitura ainda mais rica. Sem precisar que o cliente solicite, o vendedor deverá gastar mais tempo com as pessoas, conversar sobre os escritores, suscitar interesse por outras obras ao autor, por títulos de referência naquele gênero, por edições com melhores apresentações, prefácios e notas, com trabalho gráfico mais esmerado etc.

Livraria que não poderá viver à margem da vida cultural da cidade, sem apoiar os eventos literários e escritores, sem fazer parcerias com as mídias especializadas e os órgãos públicos.

Livraria que terá como outro diferencial saber potencializar o diálogo da literatura com outras formas de expressão, dispondo de músicas, filmes, peças de artistas plásticos e tantos mais que girem em redor do universo dos livros.

Se as obras estiverem fora de catálogo, que os clientes tenham ali área de usados, com acervo competitivo, que sobreviva minimamente às comparações com os emergentes sebos virtuais. Que as lojas tenham setor estratégico, para compra de coleções e bibliotecas particulares, enriquecendo sua área de livros raros.           

Capitalismo e lógica de consumo de massas não podem ser desculpas. Os diversos ramos empresariais têm buscado conciliar mercado e sofisticação, desenvolvendo estruturas, tecnologias e pessoas para que melhor atendam às expectativas dos clientes. Por quais latas de água barrenta, então, seríamos menos exigentes com esse objeto-fetiche-transcendente, que, como dizia o querido Luiz Carlos Monteiro, é capaz de “provocar insônias e revoluções”?

De minha modesta parte, quero é que aquele antiquado e tosco vendedor de sabão (que se imagina dono de livraria) procure outro meio de sobrevivência! Pois o livro merece viver sem ele, e por bastante tempo.   

 

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