Como estimular crianças para que aprendam mais?
Para a fonoaudióloga e psicopedagoga Telma Pantano, os pais precisam ficar atentos ao estímulo de smartphones, computadores e videogames
Estimular a aprendizagem das crianças é um desafio para as famílias e os educadores, sobretudo diante da hiperconexão desde o berço. Para a fonoaudióloga e psicopedagoga Telma Pantano, os pais precisam ficar atentos ao estímulo de smartphones, computadores e videogames.
Telma integra o corpo clínico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
A seguir, veja entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Como estimular a aprendizagem das crianças?
Precisamos pensar em como queremos que elas aprendam. Se quisermos que seja naquele contexto escolar mais tradicional, vai ser necessário estimular nas crianças processos cognitivos que envolvam treinos de atenção, memória, autonomia e flexibilidade mental, consideradas funções cognitivas maiores. Por exemplo: uma criança que consiga controlar a atenção por mais tempo vai conseguir prestar atenção por mais tempo. E uma criança com uma boa memória operacional vai conseguir dar significado para os aprendizados por mais tempo. E como a gente pode preparar as crianças para aprender melhor? Dando estímulos que sejam cada vez mais complicados, mais complexos, e que exijam mais função cognitiva. É sempre importante definir qual é o foco do aprendizado.
O que a criança deve aprender?
Essas habilidades cognitivas e socioemocionais são aquelas que são colocadas diariamente para as crianças e é importante que seja assim. Não adianta o cérebro desenvolver só as habilidades cognitivas ou só as socioemocionais ou vice-versa. Mas para dizer como conseguir estimular tudo isso será necessário analisar as particularidades do ambiente da criança, as características da família e o ambiente escolar.
Quais são os tipos de aprendizagem e conexões neuronais?
Para o cérebro, é tudo memória. Toda vez que eu tenho uma conexão neuronal, tenho uma memória. A diferença entre aprendizado e memória é qualitativa. O aprendizado tem a ver com a construção de redes neuronais. Quando pensamos em cérebro, pensamos em conexão. E quando a gente fala em aprendizagem não estamos falando obrigatoriamente dos aprendizados na escola. Porque para a neurociência não existe Português, Matemática, História ou Geografia. É tudo conexão. Quando ela se repete, o cérebro entende que é importante, e a gente forma aprendizagem.
O que é plasticidade neuronal?
É a capacidade de adaptabilidade do nosso cérebro. Por isso que conseguimos transitar em ambientes com demandas sociais diferentes. As pessoas tendem a pensar nisso quando há uma lesão, considerando a capacidade do nosso cérebro de se regenerar. Mas não é só isso. Essa capacidade é posta à prova diariamente. O cérebro leva mais ou menos seis meses para automatizar um comportamento e executá-lo com o menor gasto de energia possível.
Seria correto comparar com exercícios: a gente se acostuma?
Exatamente isso. O cérebro é regido pelas mesmas leis de um corpo biológico. Quanto mais eu faço uma coisa, mais tranquilo fica realizá-la. Quem continuou exercitando a atenção, por exemplo, vai estar melhor depois da pandemia.
Quais os impactos da pandemia?
Não são os impactos no Português ou na Matemática, isso a gente recupera. O problema é que o cérebro está "destreinado". A gente está vendo casos de crianças estressadas. As memórias não foram "treinadas". O cérebro está despreparado no contexto escolar e social.
Como dar significado aos aprendizados?
A melhor forma é fazer a associação com aquilo que já se sabe. Quando pego coisas que já sei, ativo redes neuronais com conexões que já tenho.
Por isso é mais fácil aprender o que a gente gosta?
Exato. O gostar significa que você já tem redes neuronais preparadas para isso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.