Clube de Ciências incentiva alunos durante a pandemia
Escola Estadual Rio Caeté, em Bragança, nordeste do Pará, usa iniciação científica para estimular estudantes a superar os desafios impostos pelo isolamento social
A interrupção das atividades escolares de caráter presencial impôs a 4,2 milhões de estudantes brasileiros do Ensino Médio uma série de desafios para dar prosseguimento aos seus estudos. Entre jovens negros, indígenas, mulheres, moradores do campo e trabalhadores, os desafios da última etapa da Educação Básica frente à pandemia são ainda atravessados pelas especificidades de cada contexto e condição vivida.
Tanto a gestão escolar quanto os educadores estão vivenciando desafios contínuos para fortalecer os laços dos estudantes com a escola ainda que a distância, procurando manter o vínculo escolar a fim de reduzir os riscos de evasão e abandono. Nesse contexto, a Escola Estadual Rio Caeté resgatou o projeto do Clube de Ciências R3C, criado em 2017, com o intuito de aproximar os alunos que gostam de química e incentivá-los à profissão de ciência.
Coordenado pelo professor de Química Eduardo Vieira, o clube tem como objetivo incentivar o ensino da ciência, aproximando o aluno da experimentação científica e do método científico. Como orientador do projeto, Vieira observa que os alunos são uma janela aberta para o conhecimento.
Segundo o coordenador, a mudança de postura é aparente. Talvez por representarem um grupo seleto, observa, os alunos se sentem mais valorizados. “As médias nas outras disciplinas não mudaram, porém em química, física e biologia houve uma melhora, o interesse nas inscrições para o vestibular também. O resultado acredito que seja uma notória mudança, não de nota, mas de perspectiva por parte dos alunos”, destacou.
No início do ano passado, 32 alunos do Ensino Médio estavam inscritos no projeto. Porém, pela falta de recursos para acomodá los, este ano o professor precisou ser mais seletivo, e no momento 13 alunos estão ativos no clube, os demais aguardam processo seletivo para entrar. Em decorrência da pandemia de covid-19, as novas inscrições tiveram que ser adiadas.
Atualmente, o canal no Youtube, a página do Facebook e o grupo de Whatsapp se mantêm ativos para não quebrar o vínculo. O espaço do laboratório se tornou virtual e as manifestações e atividades são divulgadas no canal R3C Clube de Ciências. “O canal se tornou tão divulgado que agora estamos investindo em uma rádio web que funcionará em horários definidos, pois será tudo ao vivo. A rádio web está criando um grande entusiasmo nos alunos”, afirmou.
A diretora da escola estadual, Madalena Monteiro, afirma também que depois do clube, e com o auxílio do professor, os alunos têm outra visão da disciplina que antes era tão temida e hoje são apaixonados e dedicados. “Eu fico muito feliz em ver nossos alunos participando de olimpíadas, ações educativas, mas principalmente aprendendo ciências na prática, de forma prazerosa e ainda incentivando os colegas.”
Desafios do ensino remoto
Um levantamento feito pelo site UOL, entre agosto e setembro de 2020, com 5.580 estudantes, professores, pais e/ou responsáveis e dirigentes de instituições de ensino públicas e privadas do país, mostra que 60,5% dos estudantes participam de quase todas as atividades oferecidas pela escola na pandemia, mas 72,6% consideram que o estudo remoto é pior em comparação com as aulas presenciais. A opinião é compartilhada por parte dos pais e responsáveis, com 51,5%.
Os estudantes também relatam outros problemas no formato, como sobrecarga e saudade da rotina escolar. Para 82,6% dos alunos, a falta do contato presencial com amigos afeta os estudos e a aprendizagem. Para 58,3% deles, a escola manda muitos materiais e eles relatam que não estão dando conta de estudar.
Aluna do ensino médio de rede pública estadual, Izabelly Correia de Oliveira, de 16 anos, participou da pesquisa. Ela disse que teve crises de ansiedade no início de março com o fechamento das escolas. "Recorri aos cursos on-line e pré-vestibular para manter os estudos, tive apoio da minha família e de professores para não desistir", conta
Para ela, a maior dificuldade em relação às aulas remotas está em manter a concentração. "O mais difícil é entender quando é momento de assistir à aula e não fazer outra coisa. Tentar organizar minha rotina de estudos e também não dispersar durante as atividades. Além disso, lamento que muitos colegas não tenham computador. Alguns conseguiram receber fascículos impressos com conteúdos das aulas para fazer as atividades. Foi uma adaptação para todos nós", descreveu a estudante.
Ainda no que se refere às atividades remotas, 29,2% dos estudantes entrevistados disseram ter dificuldade em conexão com a internet, por causa do sinal das operadoras. Para 10,8% deles, não ter dispositivo próprio ou precisar compartilhá-lo com outros integrantes da casa afeta o estudo e a aprendizagem durante o período da pandemia. Já em relação ao acesso à internet, 63,5% responderam ter banda larga ilimitada e 25,8% utilizam de terceiros.
Por Larissa Silva.