Enem: professor indica livros indispensáveis para a prova
Docente traz resumos de obras literárias que geralmente são cobradas no Exame
Leitura e interpretação aprofundada são procedimentos fundamentais para os estudantes que se deparam com os extensos textos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Antes da prova, sobretudo, é preciso reforçar exercícios textuais e dedicar uma atenção especial a obras que, costumeiramente, são cobradas no processo seletivo.
Professor de literatura e redação, Luiz Fernando alerta que os feras devem fortalecer o hábito da leitura. É um processo que, segundo o docente, reforça não apenas o estudante em termos de conteúdos pedagógicos, mas o ajuda a se formar enquanto cidadão crítico. “É fundamental que o candidato do Enem desenvolva o hábito da leitura, não só para a literatura. Quanto mais leitura, mais informações esse candidato vai ter. Ele terá mais facilidade de interpretar. Ele precisa não só ler a parte de Linguagens, mas também outras áreas do saber, porque o Enem trabalha a interdisciplinaridade e a relação entre textos. E a presença da geografia, filosofia, história e da sociologia para a literatura é de fundamental importância, porque são ciências que se dialogam entre sei”, exemplifica o professor.
No que diz respeito às características da prova, Luiz Fernando ressalta os textos literários cobrados nas questões e a forma como eles dialogam com outros elementos. “O Exame cobra muito texto literário, para a interpretação de fragmentos de poemas e de trechos de romances dos principais autores da literatura, como Machado de Assis, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade. E outra coisa muito clássica é relacionar a literatura com outras linguagens, como um poema com uma pintura ou um trecho de um romance com uma escultura. Então, a literatura, que é a arte que se manifesta por meio da palavra, dialoga com outros tipos de arte”, frise o educador.
A pedido do LeiaJa.com, o professor elencou algumas obras e autores que precisam da atenção dos candidatos. De acordo com Luiz Fernando, são livros abordados nas últimas edições do Enem. Confira, a seguir, as dicas do professor:
DOM CASMURRO – MACHADO DE ASSIS
Dom Casmurro é o nome de um romance escrito por Machado de Assis em 1899 e publicado no ano seguinte pela Livraria Garnier. Após Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, esta obra completa a chamada "trilogia realista" de Machado de Assis.
Dom Casmurro está dividido em 148 capítulos, na sua maioria curtos. O enredo não é dinâmico e a narrativa é interrompida a todo momento por pensamentos ou lembranças fragmentadas. A narração é feita em primeira pessoa por Bento Santiago, que relata a história de sua vida. Trata-se de uma pseudo-biografia de um homem envelhecido que parece preencher sua solidão com a recordação de um passado que marca seu sofrimento pessoal. É uma visão amarga e doída de quem foi machucado e traído pela vida, e por isso, vai-se isolando e ensimesmando. O título da obra reflete tal ideia: Casmurro é um termo referente ao homem calado e metido consigo. O “Dom” é uma ironia, pois atribui importância, destaque a este homem isolado.
A história se passa por volta de 1857, na cidade do Rio de Janeiro. O narrador realiza uma trajetória pelos bairros e ruas do Rio, desde o Engenho Novo, onde escreve sua obra, até a Rua de Matacavalos, onde passou sua infância e conheceu Capitu (Capitolina). Bentinho e Capitu casam-se em 1865 e separam-se 1872. Depois de alguns anos tentando ter um filho, Capitu dera à luz Ezequiel, cujo nome é uma homenagem ao melhor amigo de Bentinho, Ezequiel Escobar, a quem conheceu quando estudaram juntos no seminário. Bento enxerga no filho a figura do amigo recém-falecido, afogado na praia, e fica convencido de que fora traído pela mulher, o que faz Bento recorrer ao suicídio. Neste momento Ezequiel entra em seu escritório, e Bento decide matar a criança, desistindo no último momento. Ao invés disso, fala ao garoto que não é seu pai, e Capitu escuta tudo, lamentando-se pelo ciúme de Bentinho, que, segundo ela, fora despertado pela casualidade.
Após inúmeras discussões, o casal decide separar-se e o protagonista se torna, pouco a pouco, o amargo Dom Casmurro. Capitu morre no exterior e Ezequiel tenta reatar relações com ele, mas a semelhança extrema com Escobar faz com que Bento Santiago continue rejeitando-o. Ezequiel acaba por morrer de febre tifóide durante uma pesquisa arqueológica em Jerusalém. Ao final, o narrador parece menosprezar um pouco a própria obra e convence-se de que o melhor a fazer agora é escrever outro livro, agora sobre "a história dos subúrbios".
VIDAS SECAS- GRACILIANO RAMOS
Quando a narrativa começa, Fabiano e sua família, formada pela esposa Sinha Vitória, os filhos identificados apenas como Menino mais novo e Menino mais velho e a cachorrinha Baleia, caminham sob o escaldante sol do Nordeste. Encontram uma casa abandonada e ali se abrigam, na expectativa da passagem do período de seca.
A chuva chega, e com ela aparece o patrão, dono da terra, expulsando Fabiano do lugar. Para continuar na terra, o matuto se oferece para trabalhar como vaqueiro. Recebe roupas, animais de criação e alguns produtos para iniciar o serviço, instalando-se em definitivo na fazenda.
Os produtos consumidos pela família eram oferecidos no armazém do patrão, mas a preços abusivos. Por isso, Fabiano resolve ir comprar algumas coisas na cidade mais próxima. Um militar, o Soldado Amarelo, o convida para jogar baralho. Os dois se dão mal no jogo e o policial desconta em Fabiano, prendendo-o. Ao voltar para casa, encara o mau humor de Sinha Vitória, inconformada com sua atitude.
A família conhece alguns momentos de alegria e de felicidade limitada. Isso se dá, por exemplo, quando o inverno chega trazendo a chuva. No entanto, a ameaça da cheia causa apreensão em Sinha Vitória. Também se dirigem à cidade para uma ocasião festiva, mas não se sentem à vontade ali. A revolta que Fabiano sente no lugar se repete em outros momentos, mas ele sempre se vê diante da necessidade de conter sua fúria.
Quando desconfia de erros no seu pagamento, por exemplo, reclama com o patrão em termos que provocam sua demissão. Arrepende-se das coisas ditas, pede desculpas e recupera sua colocação. Em outro momento, reencontra o Soldado Amarelo, que se perdera no campo, e vê a oportunidade de vingar-se da prisão injusta. No entanto, acaba por reconhecer no policial uma autoridade que deve ser respeitada e mais uma vez contém sua revolta.
As aves de arribação que cortam os céus em certa ocasião funcionam como prenúncios da seca, que está de volta. A família se prepara para nova fuga. Fazem-no de madrugada, tanto para aproveitar a temperatura mais amena, quanto para escapar de uma eventual perseguição do patrão. Assim, terminam sua história exatamente como a haviam começado: fugindo da seca.
A HORA DA ESTRELA – CLARICE LISPECTOR
Narrada por Rodrigo S.M. (narrador-personagem), um escritor à espera da morte, o livro retrata a vida dramática, desde sonhos e conflitos de Macabéa, a protagonista da história. Nordestina órfã de pai e mãe, e criada por uma tia que a maltratava muito, Macabéa é uma alagoana pobre de 19 anos que possui um corpo franzino e só come cachorro quente. Além disso, ela é feia, virgem, tímida, solitária, ignorante, alienada e de poucas palavras.
Quando foi morar no Rio de Janeiro, conseguiu um emprego de datilógrafa na cidade. No entanto, chegou a ser despedida pelo patrão, seu Raimundo, que por fim, teve compaixão de Macabéa, deixando-a permanecer com o trabalho. No Rio de Janeiro, Macabéa morava numa pensão e dividia o quarto com três moças. Todas eram balconistas das Lojas Americanas, e no livro são mencionadas como “as três Marias”: Maria da Penha, Maria da Graça e Maria José. Um de seus maiores prazeres nas horas vagas é ouvir seu rádio relógio, emprestado de uma das Marias.
Mesmo destituída de beleza Macabéa (ou Maca, seu apelido) consegue encontrar um namorado, o nordestino ambicioso metalúrgico Olímpico de Jesus Moreira Chaves. O namoro termina quando Glória, o contrário de Macabéa, bonita e esperta, rouba seu namorado.
Quando foi à Cartomante, a impostora chamada Madame Carlota, Macabéa descobrirá por meia das cartas sua “sorte”. No entanto, ao sair de lá, atravessa a rua muito contente pelas palavras que acabara de ouvir, sendo atropelada por uma Mercedes Benz amarelo. Foi ali que ocorreu sua "hora da estrela", o momento em que todos a enxergam, e ela se sente uma estrela de cinema. A obra possui uma grande ironia em seu término, posto que só no momento da morte é que Macabéa obtém a grandeza do ser.
CAPITÃES DE AREIA- JORGE AMADO
No início da obra há uma série de reportagens fictícias que explicam a existência de um grupo de menores abandonados e marginalizados que aterrorizam a cidade de Salvador e é conhecido por Capitães da Areia. Após esta introdução, inicia-se a narrativa que gira em torno das peripécias desse grupo que sobrevive basicamente de furtos. Porém, apesar de certa linearidade, a história é contada em função dos destinos de cada integrante do grupo de forma a montar um quebra-cabeça maior.
O chefe do grupo Capitães da Areia é um jovem chamado Pedro Bala, um menino loiro e filho de um grevista morto no cais. Tinha ido parar na rua por volta dos cinco anos de idade e desde jovem já se mostrava corajoso e o mais capacitado a se tornar o líder das crianças. O grupo ocupava um trapiche abandonado na praia e era formado por mais de cinquenta crianças, sendo que algumas vão sendo apresentadas aos poucos durante a narrativa.
Uma delas era o Professor, que sabia ler e passava as noites lendo livros à luz de vela. Algumas vezes ele lia as histórias para os outros do grupo ou então criava as suas próprias narrativas a partir do que lera. Outra personagem que compõe o grupo é Gato, conhecido assim por ser tido como um dos mais bonitos ali. Quando entrou no grupo um dos meninos tentou se relacionar com ele, mas Gato não quis. Sendo muito vaidoso, tentava andar arrumado na medida do possível e de acordo com sua realidade de menino de rua. Gato se apaixona por uma prostituta chamada Dalva, que irá ter um romance com o jovem após ser abandonada por seu amante.
Outra personagem que merece destaque é Sem Pernas, um menino que uma vez fora pego pela polícia e por isso passou a ser um jovem amargo e que odiava a tudo. Por ser manco, às vezes era usado nos assaltos a casas: ele batia nas portas das casas dizendo que era um órfão aleijado e pedia ajuda. Ganhando confiança dos moradores, ele descobria o que tinha de valor na casa e depois relatava aos Capitães da Areia.
Por fim, outras personagens são: Volta Seca, que se dizia afilhado de Lampião e sonhava integrar o bando desse; Pirulito, um menino de forte convicção religiosa e que irá abandonar o roubo; Boa Vida, jovem esperto e que se contenta com pouco; e o negro João Grande, que tinha o respeito dos demais do grupo por sua coragem e tamanho. Ao lado dessas personagens centrais que formam o grupo, encontra-se ainda o Padre José Pedro, que era amigo dos meninos e procurava cuidar deles da forma que considerava mais correta, e a mãe-de-santo D. Aninha.
Em certo momento da narrativa, a varíola passa a assustar os moradores da cidade. Um dos meninos do grupo contrai a doença e é internado. Nessa altura, surge Dora e Zé Fuinha, cuja mãe também morreu por causa da varíola, e eles passam a integrar o bando. No início alguns jovens tentaram se relacionar com Dora, mas são impedidos por Pedro Bala, Professor e João Grande. Porém, Dora e Pedro Bala passam a ter certo envolvimento amoroso.
Certo dia alguns dos meninos foram pegos em um assalto, mas foram protegidos por Pedro Bala e somente ele e Dora foram levados presos. Ela foi levada para um orfanato, enquanto Pedro Bala foi torturado pela polícia e mantido preso em uma solitária por oito dias. Algum tempo depois, os meninos conseguem ajudar Pedro a se livrar do reformatório e partem para libertar Dora também. Porém, encontram-na muito doente e ela passa apenas mais alguns dias com os meninos antes de morrer.
Após a morte de Dora o grupo vai sofrendo algumas alterações. Pirulito parte com o Padre José Pedro para trabalhar com ele na igreja, Sem Pernas acaba morrendo em uma fuga da polícia e Gato vai para Ilhéus com Dalva, de quem é cafetão. Já Professor conseguiu entrar em contato com um homem que lhe oferecera ajuda e tornou-se pintor no Rio de Janeiro retratando as crianças baianas. Por fim, Volta Seca conseguiu se tornar um cangaceiro de seu “padrinho” Lampião. Após cometer muitas mortes e crimes, a polícia prende Volta Seca e ele é condenado.
Cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista que morrera em uma greve, Pedro Bala passa a se envolver em greves e lutas a favor do povo. Assim, movido por ideais comunistas e revolucionários, Pedro Bala passa o comando do bando para outro menino e parte para se tornar um militante proletário.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS- GUIMARÃES ROSA
Durante a primeira parte da obra, o narrador em primeira pessoa, Riobaldo, faz um relato de fatos diversos e aparentemente desconexos entre si, que versam sobre suas inquietações sobre a vida. Os temas giram em torno das clássicas questões filosóficas ocidentais, tais como a origem do homem, reflexões sobre a vida, o bem e o mal, deus e o diabo. Porém, Riobaldo não consegue organizar suas ideias e expressa-las de modo satisfatório, o que gera um relato bastante caótico. Até que em certo ponto aparece Quelemén de Góis, que o ajuda em parte, e Riobaldo dá início à narrativa propriamente dita.
Riobaldo começa a rememorar seu passado e conta sobre sua mãe e como conhecera o menino Reinaldo, que se declarava ser “diferente”. Riobaldo admira a coragem do amigo. Quando sua mãe vem a falecer, ele é levado para viver com seu padrinho na fazenda São Gregório, onde conhece Joca Ramiro, grande chefe dos jagunços. Selorico Mendes, o padrinho, coloca-o para estudar e após um tempo Riobaldo começa a lecionar para Zé Bebelo, um fazendeiro da região. Pouco tempo depois, Zé Bebelo, que queria pôr fim na atuação dos jagunços pela região, convida Riobaldo para fazer parte de seu bando, o que esse aceita. Assim começa a história da primeira guerra narrada em “Grande Sertão: Veredas”.
O bando dos jagunços liderado por Hermógenes entra em guerra zontra Zé Bebelo e os soldados do governo, mas logo Hermógenes foge da batalha. Riobaldo resolve desertar do bando de Zé Bebelo e encontra Reinaldo, que faz parte do bando de Joca Ramiro. Ele decide então juntar-se ao grupo também.
A amizade entre Riobaldo e Reinaldo se fortalece com o passar do tempo e Reinaldo o confidencia em segredo seu nome verdadeiro: Diadorim. Em certo momento dá-se a batalha entre o bando de Zé Bebelo e de Joca Ramiro, onde Zé Bebelo é capturado. Então, ele é julgado pelo tribunal composto dos líderes dos jagunços, dos quais Joca Ramiro é o chefe supremo. Hermógenes e Ricardão são favoráveis à pena capital. No fim do julgamento, porém, Joca Ramiro sentencia a soltura de Zé Bebelo, sob a condição de que ele vá para Goiás e não volte até segunda ordem. Após o julgamento, Riobaldo e Reinaldo juntam-se ao bando de Titão Passos, que também lutou ao lado de Hermógenes.
Após longo período de paz e bonança no sertão, um jagunço chamado Gavião-Cujo vai até o grupo de Titão informar que Joca Ramiro foi traído e morto por Hermógenes e Ricardão, que ficam conhecidos como “os judas”. Nesse ponto da narrativa, Riobaldo tem um caso amoroso com a prostituta Nhorinhá e, posteriormente, com Otacília, por quem se apaixona. Diadorim dica com raiva e durante uma discussão com Riobaldo ameaça-o com um punhal.
Os jagunços se reúnem para combater “os judas” e assim começa a segunda guerra, organizada sob novas lideranças: de um lado Hermógenes e Ricardão, assassinos de Joca Ramiro e traidores do bando; de outro, os jagunços liderados por Zé Bebelo, que retorna para vingar a morte de seu salvador. Em certo momento da narrativa os dois bandos se unem para tentar fugir do cerco armado pelos soldados do governo, mas o bando de Zé Bebelo foge na surdina do local e deixam Hermógenes e seu bando lutando sozinhos contra os soldados. Riobaldo entrega a pedra de topázio a Diadorim, o que simboliza a união entre os dois, mas esse recusa dizendo que devem esperar o fim da batalha.
Quando o grupo de Zé Bebelo chega às Veredas-Mortas, em dado momento Riobaldo faz um pacto com o diabo para que possam vencer o bando de Hermógenes. Sob o nome Urutu-Branco, ele assume a chefia do bando e Zé Bebelo deserta do grupo. Riobaldo pede para um jagunço entregar a pedra de topázio à Otacília, o que firma o compromisso de casamento entre os dois.
O bando liderado por Riobaldo (ou Urutu-Branco) segue em caça por Hermógenes, chegando até sua fazenda já em terras baianas. Lá eles aprisionam a mulher de Hermógenes e, não o encontrando, voltam para Minas Gerais. Em um primeiro momento, acham o bando de Ricardão e Urutu-Branco o mata. Por fim, encontram o grupo de Hermógenes no Paredão e há uma grande e sangrenta batalha. Diadorim enfrenta Hermógenes em confronto direto e ambos morrem. Riobaldo descobre, então, que Diadorim é na realidade a filha de Joca Ramiro, e se chama Maria Deodorina da Fé Bittancourt Marins.