Uso excessivo de telas pode causar dependência
Com isolamento social, crianças e adolescentes passam mais tempo diante de TV, celular e monitores e correm o risco de desenvolver compulsividade por recursos tecnológicos
O excesso de exposição às telas por crianças e adolescentes tem se tornado objeto de estudo de diversos pesquisadores. Devido ao contexto pandêmico, o uso acentuou-se de maneira significativa e pode gerar sérios problemas.
Estudos ao redor do mundo, como o produzido pelo Instituto Nacional da França e conduzido pelo neurocientista Michel Desmurget, comprovam que esse uso exagerado de tecnologias e plataformas digitais gera como consequência a dependência tecnológica.
Em entrevista para o portal Correio Braziliense, o psiquiatra Fábio Aurélio afirma que esse excesso no uso dos recursos tecnológicos pode causar, sim, um vício comportamental, gerando uma compulsão pelo uso desses dispositivos e afetando a qualidade de vida do indivíduo.
Segundo a psicóloga Rafaella Rego, esse recurso não pode ser a única fonte de aprendizado, principalmente no contexto do ensino remoto, para que a exposição às telas não seja ainda mais acentuada.
A presença de atividades fora do ambiente digital é um fator essencial, que contribui para a melhoria das relações de crianças e adolescentes com a tecnologia, principalmente nesse processo de adaptação com maior tempo em casa. Para Rafaella, é interessante que esse indivíduo esteja em movimento, faça atividades que demandem dele a saída do quarto, onde geralmente se passa maior parte do tempo, no qual não há uma variabilidade comportamental. “É muito importante colocar esse jovem, essa criança em movimento”, afirma a psicóloga.
A iniciativa dos pais ou responsáveis em incentivar e proporcionar essas atividades é determinante, e foi o que aconteceu na rotina familiar de Cleudenice Torres, empresária e mãe de duas filhas, Jamille (16 anos) e Maria Clara (9 anos). Como passam o dia em casa, a mãe encontrou, como alternativa para não deixar as filhas por muito tempo expostas às telas, atividades que pudessem ser realizadas dentro do domicílio, tais como: tocar um instrumento musical, desenhar, ler, além de jogos de tabuleiro, que, segundo a empresária, já era uma atividade que faziam antes da pandemia.
Segundo a professora doutora Maíra Evangelista, que pesquisa há 10 anos sobre comunicação digital, os dispositivos móveis e as tecnologias estão presentes em basicamente todas as atividades cotidianas e a tendência é aumentar, mas é preciso controlar o tempo que a criança e o adolescente fazem uso desses dispositivos digitais, e deve haver a fiscalização por parte dos pais e responsáveis.
Na rotina familiar da casa de Carolina Santos, atendente e mãe de Carlos (8 anos) e Maria Isis (5 anos), eles buscam ter esse controle do tempo que os filhos passam em frente às telas. “Depois das 18 horas é o horário que eles ficam mais no celular, TV etc.”, afirma a mãe. Carolina destaca, também, que os pais procuram realizar outras atividades com os pequenos. “Buscamos brincar e interagir com eles, compramos um dominó, jogos educativos e eles brincam muito com pai”, finaliza.
Por Painah Silva e Dinei Souza.