Cuidado: excesso de internet exige desintoxicação virtual

Isolamento aumenta a frequência nas redes sociais. Especialistas alertam para o perigo de crises de ansiedade e depressão, pelo abuso ou pela abstinência.

seg, 26/04/2021 - 17:56

Estudos da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) indicam o perigo da chamada nomofobia (medo de estar desconectado) em indivíduos que passam muito tempo na frente das telas. O excesso de internet impacta negativamente na vida dos indivíduos, gerando problemas como ansiedade e depressão, e exige a “desintoxicação virtual”, ou seja, um momento distante das tecnologias.

Os jovens são os mais afetados, pois é o grupo que mais está ativo na internet. A estudante Amanda Albuquerque, de 18 anos, é uma dessas jovens que passam bastante tempo nas redes sociais. Ela admite que isso afeta sua vida de forma negativa, deixando-a ansiosa. 

Como a maioria dos jovens de sua idade, a estudante está ativa nas principais redes sociais, como Instagram, Facebook e TikTok, as quais ocupam grande parte do dia dela. “Às vezes, eu checo as horas que eu passo (no celular), e geralmente são muitas horas. Boa parte nas redes sociais”, diz a estudante.

Para a publicitária Tamires Virgílio, especialista em Marketing Digital, a tecnologia oferece diversos benefícios para estudos e negócios, principalmente pelo grande leque de conteúdos e pela interatividade proporcionada, desde que esse uso não se torne prejudicial. “Se eu começo a ter prejuízos, seja ele qual for, seja prejuízo de sono, de descanso de convivência família, relacionamentos, é porque a rede social está ocupando aquele espaço maior do que ela deveria”, alertou.

Nas redes sociais, os usuários mostram o que é conveniente para si. É idealizada uma vida perfeita e, consequentemente,projetado o mesmo ideal aos espectadores. Assim, comportamentos fora desse padrão são julgados e considerados inválidos, caracterizando então o “cancelamento”.

De acordo com Tamires, esse não é um fenômeno novo. “O cancelamento é um reflexo modernizado dos hábitos da sociedade de querer expelir o que ela recrimina”, comenta. “Eu jogo pedra naquilo que também me afeta. Não há uma racionalização”, acrescentou.

Segundo a profissional de marketing, é necessário aprender a impor limites nos meios digitais. “Um dos pontos é sempre voltar para este pensamento: não esquecer que é uma vida virtual, a rede social é como uma vitrine. Uma das saídas é tentar equilibrar. Deixar de consumir um conteúdo que faz mal, substituir por conteúdos que façam bem. Equilibrar lendo um livro, vendo um filme ou não fazendo nada”, sugeriu Tamires.

“A gente ainda acha que tudo deve ser consumido, ainda estamos aprendendo a lidar com as novas mídias. Uma das formas é ficar em alerta no que está sendo consumido na internet e como eu me sinto em relação a isso”, enfatizou a publicitária.

A partir do uso exacerbado dos mecanismos tecnológicos, essa frequência pode comprometer o bem-estar, contribuindo para o surgimento de estresses diários. Para a psicóloga Christiane Macedo, especialista em Neuropsicologia e Avaliação Psicológica, o uso excessivo das mídias digitais pode desencadear estresse e ansiedade, mas não somente por esse aspecto. “É um conjunto de fatores que acarretam esse estresse ou essa ansiedade, quando você não tem o meio tecnológico para usar. Por exemplo, em alguns momentos o WhatsApp fica fora do ar, as pessoas ficam desesperadas e começam a baixar o Telegram, porque elas precisam estar em conectividade com alguém, sendo que às vezes essa necessidade não é tão grande”, afirmou.

Em relação à saúde mental, Christiane comenta que as relações sociais foram afetadas pelo confinamento, gerando indivíduos introspectivos. Com a utilização diária das plataformas digitais, o direcionamento é relacionado apenas aos próprios interesses do usuário, que já não conta como prioridade manter vínculos sociais, resultando em aspectos antissociais. “Isso, mentalmente falando, não é bom, porque nós somos seres que vivemos em sociedade. A gente precisa compartilhar emoções, a gente precisa compartilhar experiências, e, presencialmente, isso é muito bom. Só que a gente constatou agora, com o período da pandemia, que não pode aglomerar, não pode se reunir. Então, é muito complicado”, declarou.

Para evitar o uso exagerado dos meios digitais, a profissional recomenda que haja mudança de hábito, sendo fundamental uma autoavaliação para perceber o que de fato é necessário e que merece o esforço para estar usando o meio digital. “Diminuir o uso e desligar o celular para carregar, não deixar carregando ligado e desligar os dados móveis para que você não fique tentado a usar”, propôs a psicóloga.

Por Gabriel Pires, Vitória Reimão e Painah Silva.

 

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