O escândalo anunciado na Croisette com a exibição do filme mais recente de Gaspar Noé, "Love", criou polêmica nesta quinta-feira, com aplausos, críticas irônicas e até mesmo zombarias.
Com cenas de sexo explícito, "Love", filmado em 3D, deixa pouco à imaginação: ejaculações em close, orgia em um clube de sexo, travestis...
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Um filme anterior deste diretor, nascido na Argentina, "Irreversível", já havia chocado a Croisette em 2002.
Os cartazes foram um prenúncio do filme, um deles com um pênis em primeiro plano.
Gaspar Noé, de 51 anos, explicou ter optado por filmar em 3D porque a técnica dá ao espectador "um maior sentimento de identificação com o personagem principal e seu estado melancólico".
Há vários anos, os pornôs clássicos têm sido filmados em 3D.
Mais de 2.000 pessoas formaram uma fila muito antes do início da exibição, pouco depois da meia-noite de quinta-feira, mas dezenas de expectadores com ingresso não conseguiram entrar no Palais des Festivals e protestaram.
O filme narra as memórias de Murphy, um cineasta, que recorda sua história de amor, paixão, jogos e excessos.
O cineasta, que vive e trabalha na França, quis "mostrar o estado de amor mais carnal", de acordo com as notas da produção.
"Por anos, eu sonhava em fazer um filme que poderia reproduzir a paixão de um casal apaixonado em todos os seus excessos físicos e emocionais", acrescenta.
"Um melodrama contemporâneo, incluindo cenas de sexo e que transcende a regra ridícula que diz que um filme clássico não pode conter cenas explicitamente sexuais, porque todo mundo gosta de fazer amor."
"Eu quero filmar o que o cinema raramente permite filmar, ou por razões comerciais ou por razões legais", concluiu Noé.
O diretor responsável pela seleção de Cannes, Thierry Fremaux, apresentou o filme ao anunciar ao público que "conheceu muito, muito bem os personagens em duas horas".
Nesta quinta-feira, ele defendeu a abordagem do cineasta.
"Gaspar Noé fez um filme que a gente adora ou odeia. A literatura ou a pintura visitam a questão da representação do corpo, do sexo, do amor físico. Muitos poucos cineastas o fizeram em 120 anos de história do cinema: Bertolucci, Oshima, Bellocchio, Lars von Trier e Gaspar Noé".
Mesmo produtor de "Welcome to New York"
O filme é produzido por Vincent Maraval, também produtor de "Welcome to New York" sobre o caso DSK, lançado apenas em DVD.
Esta não é a primeira polêmica em que o cineasta se envolve. A exibição, em 2002 na Croisette, do filme estrelado por Monica Bellucci e Vincent Cassel "Irreversível" mostra em particular uma interminável cena de estupro que escandalizou o festival.
Vinte pessoas foram vítimas de desmaios ou crise de nervos durante a exibição, enquanto dezenas de espectadores preferiram deixar a sala.
Gaspar Noé teve direito desta vez a muitos aplausos. Mas o filme também foi goleado nas redes sociais por críticas que falavam de "sexo ruim que você não vê o fim".
As críticas da imprensa foram, em geral, muito negativas.
"Não é um filme pornô, os diálogos não chegam a este nível", ironizou o jornalista da BBC Jason Solomons.
Para François Aubel, editor de cultura do jornal Figaro, "Love" é um "filme de sábado à noite no Canal+, com um argumento amoroso sofrível". O britânico The Guardian considerou o filme "absurdo, mal interpretado".
"Noé quer mostrar bunda, mas não é excitante. Ele não pode deixar de perturbar a beleza de sua 'mise en scène' pontuando 'Love' com seu narcisismo e seu desejo de perturbar o mundo", comentou Clement Ghys do Libération.
"A última coisa a fazer em Cannes é ler as críticas", declarou por sua vez Thierry Frémaux. Uma coletiva de imprensa de Noé está prevista para o início da tarde.