Bolsonaristas atuam para tornar Olavo de Carvalho um santo
Assessor e fãs acreditam que trajetória do filósofo autoproclamado aproximou pessoas da fé e da esperança
Uma campanha iniciada pelo empresário bolsonarista Italo Marsili pede que fãs do ideólogo Olavo de Carvalho, falecido na segunda-feira (24), enviem relatos de conversões ao catolicismo ou “retorno à esperança” que tenham acontecido por influência do "filósofo". O intuito é reunir as histórias para montar um pedido de canonização de Carvalho pelo seu serviço em prol da fé. Marsili considera que o legado olavista terá mais impacto de forma póstuma, crença que Olavo também teve em vida.
“O Espírito Santo, sem dúvida, utilizou a vida do professor Olavo para tocar as nossas. Uma multidão de almas voltou para a Fé e para a Igreja através dele. Almas grandes e menores, famosos e anônimos, sacerdotes e leigos", escreveu o empresário.
Nas redes sociais, Silvio Grimaldo, suposto gerente administrativo do guru de Jair Bolsonaro (PL), deu suporte à campanha, pedindo que atendam ao pedido de Marsili. Nos comentários, é possível ver uma legião de bolsonaristas e apoiadores de Olavo de Carvalho, que foi um catalisador da campanha presidencial em 2018 e após a vitória, apoiando a causa e relatando o aprendizado com os cursos do escritor.
Obra póstuma
Nas redes sociais, Silvio Grimaldo divulgou o próximo livro de Olavo no Instagram poucas horas depois da confirmação de sua morte. “Hoje chegaram na Vide (a editora do guru), coincidentemente, as provas do próximo livro do Olavo. Ele deixou outros preparados. Olavo ainda tem muito a ensinar”, escreveu, publicando em sequência trechos do livro a ser lançado.
Ao mesmo tempo que lamentam nas redes sociais a morte do escritor Olavo de Carvalho, seus principais discípulos já se posicionam para disputar o espólio ideológico deixado pelo guru bolsonarista.
A filha primogênita de Olavo, Heloísa de Carvalho, e autora do livro “Meu pai, o guru do presidente: a face ainda oculta de Olavo de Carvalho”, acredita que o legado ideológico do pai será alvo de uma disputa intensa entre olavistas, que perderam um líder e precisaram de novas “rotas” de sobrevivência. Heloísa rompeu laços com o pai há anos e protagonizou episódios de embate direto com as opiniões e carreira de Olavo.
À Folha de São Paulo, a filha citou discípulos como Bernardo Küster, que tem um canal no Youtube, Paulo Briguet, que é editor do site Brasil sem Medo, o cineasta Mauro Ventura, assistente de direção do documentário "Jardim das Aflições", sobre Olavo, e o irmão, Luiz de Carvalho.
Para a advogada, Olavo construiu um movimento que orbitava em torno dele, controlava tudo de perto e não dava espaço a questionamentos, por isso os rachas internos não vinham à tona.
Heloísa afirma que, até hoje, o bolsonarismo se manteve indissociável dos ideais do olavismo. “Se ele não tivesse morrido agora, não pularia fora da canoa jamais. Olavo sabia que o bolsonarismo era o último marco da sua trajetória”, sacramenta.
Com a morte do guru, porém, já não se sabe se as correntes funcionarão de forma tão simbiótica. “Agora muitos podres (do olavismo) surgirão. É só aguardar. Daqui a pouco as baixarias se tornarão públicas”.