Bolsonaro usa fala de ministro para justificar ausência
"Eu acho que se o presidente descobrir a cura do câncer, ele vai ser criticado porque descobriu a cura do câncer", afirmou Marinho sobre a ausência do presidente na Bahia
O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou uma fala irônica do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, para justificar sua ausência na Bahia, onde fortes chuvas já causaram 21 mortes e deixaram 77 mil pessoas desabrigadas.
"Eu acho que se o presidente descobrir a cura do câncer, ele vai ser criticado porque descobriu a cura do câncer", afirmou Marinho no Rio de Janeiro, onde participou de uma cerimônia, realizada no Palácio Guanabara, de liberação de recursos para obras. Ao publicar o vídeo do ministro em suas redes sociais nesta quarta-feira, 29, Bolsonaro escreveu: "Bahia, nosso trabalho é solidariedade."
Cinco minutos depois de ser postada no Twitter do presidente, a publicação foi compartilhada pelo filho "02" de Bolsonaro, o vereador Carlos (Republicanos-RJ), que usou o episódio para atacar a imprensa brasileira. Mais cedo, o presidente havia publicado em suas redes sociais um vídeo que mostrava a entrega de mantimentos pelo governo federal a cidades baianas. "Continuamos na Bahia", escreveu.
Marinho defendeu Bolsonaro também nas redes sociais. "É vergonhosa a politização às custas das vítimas das chuvas na Bahia. Desde novembro, o Governo Federal trabalha na região, tecnicamente, coordenando a assistência, apoiando os municípios na elaboração dos pedidos e liberando recursos. Virou vale tudo para atacar @jairbolsonaro", publicou no Twitter. Ontem, o ministro sobrevoou as áreas atingidas pela chuva, com os titulares da Cidadania, João Roma, e da Saúde, Marcelo Queiroga.
O presidente tem sido criticado por manter as férias no litoral de Santa Catarina enquanto cidades da Bahia sofrem as consequências das fortes chuvas. Hoje, Bolsonaro voltou a andar de motoaquática em uma praia catarinense.
Em vídeo publicado em seu perfil no Facebook, o chefe do Palácio do Planalto aparece andando de motoaquática ski na Praia da Enseada, na cidade de São Francisco do Sul (SC), com a primeira-dama Michelle e a filha Laura. Apoiadores do presidente acompanharam o passeio, aos gritos de "mito". Bolsonaro está na cidade desde segunda-feira, 27, para passar o réveillon.
No começo da semana, em conversa com apoiadores na Praia do Forte, onde também andou de motoaquática, Bolsonaro disse que espera não precisar voltar para Brasília antes de 3 de janeiro, data prevista para seu retorno oficial ao trabalho. Ontem, a hashtag "BolsonaroVagabundo" esteve entre os assuntos mais comentados do Twitter. As postagens faziam críticas à postura do presidente em relação à emergência causada pelas fortes chuvas na Bahia.
Bolsonaro chegou a ir ao Estado em 12 de dezembro e sobrevoou as regiões afetadas, mas não retornou ao local desde as chuvas mais recentes. Ontem, o governo editou uma medida provisória (MP) que abre crédito extraordinário de R$ 200 milhões em favor do Ministério da Infraestrutura. Esses recursos serão destinados para reconstrução de rodovias danificadas pelos temporais nos Estados do Amazonas, Bahia, Minas Gerais, Pará e São Paulo.
Em um vídeo publicado hoje no Twitter pelo tenente Mosart Aragão, assessor especial do presidente, Bolsonaro diz que participará no dia 5 de janeiro de um jogo de futebol solidário, em Buriti Alegre (GO), com o cantor Gusttavo Lima e a dupla sertaneja Bruno e Marrone.
Deputado com covid
Após se encontrar com Bolsonaro em Santa Catarina, o deputado Coronel Armando (PSL-SC) informou em suas redes sociais que testou positivo para covid-19. "Em razão disso, por prevenção e responsabilidade, mandei mensagem ao Presidente Jair Bolsonaro uma vez que o recebi ontem em São Francisco e tivemos um breve contato, falei com o chefe de Gabinete do presidente e alertei ao médico da equipe para que estivesse ciente", escreveu o parlamentar.
A reportagem perguntou à Secretaria Especial de Comunicação (Secom) se o presidente fará teste de coronavírus ou tomará alguma medida sanitária após manter contato com o deputado, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.