CPI: Terra contraria isolamento e cita imunidade coletiva

Especialista em saúde perinatal, o ex-ministro não tem experiência com a virologia ou infectologia, mas voltou a defender medidas negacionistas durante comissão

por Vitória Silva ter, 22/06/2021 - 13:11
Valter Campanato/Agência Brasil O deputado federal Osmar Terra, membro do suposto 'gabinete paralelo' da Covid. Valter Campanato/Agência Brasil

A CPI da Covid ouve nesta terça-feira, na condição de convidado, (22) o deputado Osmar Terra (MDB-RS), médico e ex-ministro da Cidadania, apontado como integrante do suposto “gabinete paralelo” que teria orientado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. O tal gabinete, cuja existência é negada por Terra, supostamente compartilhou medidas anticientíficas e que tiveram impacto negativo no controle do vírus no Brasil.

Durante seu depoimento, o ex-ministro voltou a defender a imunidade de rebanho, mesmo após negar tê-la defendido, e também criticou o isolamento social. Osmar é médico especialista em medicina perinatal, não em virologia, infectologia ou áreas correlatas.

Na comissão, foram exibidas cerca de três compilações diferentes, contendo diversos vídeos, datados entre 2020 e 2021, nos quais Terra aparece defendendo, ferrenhamente, a imunidade de rebanho. O conceito controverso e majoritariamente descartado pelos profissionais de saúde se tratando da Covid-19, insinua que a alta contaminação da população pode gerar anticorpos naturais, assim, a doença teria capacidade de se controlar sozinha.

O relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou ao deputado federal se o número alto de mortos na busca pela imunidade de rebanho seria defensável. O parlamentar reafirmou que nunca defendeu imunidade de rebanho como estratégia para o enfrentamento à pandemia. Osmar Terra também disse não acreditar que sua visão sobre imunidade de rebanho tenha influenciado diretamente a gestão federal. Segundo ele, Bolsonaro ouve diversos especialistas, e que os dois coincidem apenas sobre “condenar” o lockdown. A medida restritiva é rejeitada pelos políticos.

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Para dar força ao argumento, o ex-chefe da Cidadania mencionou a Suécia como um exemplo de sucesso no controle da pandemia, ressaltando que o país não optou pelo lockdown e manteve medidas de proteção básicas, sem fechar escolas e ambientes de trabalho. A informação não é verdadeira. Sem isolamento, Suécia sofria já no final de 2020 com Covid-19 fora de controle, UTIs lotadas e escassez de profissionais de saúde.

“Se o isolamento funcionasse, não morria ninguém em asilo. Os asilos foram o lugar com maior número de mortos em 2020; 46% das mortes nos Estados Unidos foram em asilos em 2020, 80% das mortes no Canadá. 70% das mortes da Suécia que não fechou nada, só orientou lavar as mãos e manter distância. O que a Suécia, Japão e Coreia fizeram foi o que sempre se fez em pandemias, as pessoas guardam distância, tem protocolos de segurança no trabalho e nas escolas”, testemunhou Terra.

O deputado também citou que a imunidade de rebanho poderia ser alcançada no Brasil quando 60% a 70% da população contrair a doença. Esse porcentual significaria a infecção de mais de 120 milhões de pessoas no país. Atualmente, cerca de 19 milhões de casos foram confirmados oficialmente, com 502.817 mortes.

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