Renovação na Câmara do Recife chega a 44%

Na Casa de José Mariano, foram 22 reeleitos e 17 nomes para o primeiro mandato. Dani Portela (PSOL) foi a vereadora eleita mais votada, com 14.114 votos

por Vitória Silva ter, 17/11/2020 - 08:06

Dos 39 vereadores eleitos representantes da Câmara Municipal do Recife pelos próximos quatro anos, 17 ou 44% são novos nomes, que cumprirão os seus primeiros mandatos na Casa José Mariano a partir de 2021. O índice de renovação não é muito diferente do encontrado nos anos anteriores, e foi de 41,2% nas eleições de 2016, que teve 16 novatos. Mais uma vez, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) ocupa a maior parte dos assentos, com 12 representantes.

A mais votada foi Dani Portela (PSOL), que teve, ao todo, 14.114 votos. Em 2016, o posto era ocupado pela vereadora Michele Collins que, na época, conseguiu 15.357 votos. A missionária foi reeleita este ano, com 6.823 votos, sofrendo uma queda de 56% no seu eleitorado.

Para a cientista política Priscila Lapa, a inversão dos discursos na substituição de Collins por Portela deve ser observado. “É um aspecto importante. Em quatro anos, o perfil da candidata mais votada sai de uma evangélica conservadora para uma ativista progressista. Então é aquele sentimento difuso de mudança. A impressão que tenho é que o eleitor recifense quis dar uma resposta à onda conservadora que varreu o país em 2018”, pontuou.

Lapa avalia a eleição da psolista como “emblemática” e explica: “Mulher negra, com perfil progressista, bem diferente do que víamos em 2016. E fazendo uma inflexão na tendência de crescimento da pauta conservadora e perfil religioso, evidenciados em 2018”.

Apesar da vitória, a representação feminina na política ainda carece de expansão. As mulheres eleitas são somente sete ou 18% dos 39 representantes para os anos de 2021 a 2024. Considerando o número total de candidaturas, 877, a porcentagem cai mais ainda. As eleitas são apenas 0,8% de todo o pleito, entre os eleitos e os não eleitos.

As outras mulheres eleitas são: Cida Pedrosa (PCdoB), Liana Cirne (PT), Andreza Romero (PP), Professora Ana Lúcia (Republicanos), Michele Collins (PP) e Natália de Menudo (PSB).

Sobre a representatividade feminina na Câmara, a especialista menciona o impasse já conhecido. As mulheres ganharam muito mais em visibilidade do que em números. A agenda feminina ganhou força, mas não necessariamente expressão numérica. Falta espaço de liderança nos partidos, faltam investimentos nas candidaturas femininas”, avalia.

Observando a rotatividade e índice de renovação na Casa José Mariano, a cientista segue a mesma lógica da eleição de Dani Portela e volta a mencionar um sentimento “difuso” de mudança. Diferente do que se vê com os eleitores de outros estados, que estão mexendo com certa força na configuração da velha política, no Recife, a última eleição teria deixado um impacto mais marcante nesse aspecto.

“Acredito que o sentimento de mudança do eleitor em 2020 foi bem menos marcante do que em 2016. Agora, quando olhamos a composição das bancadas, podemos perceber o efeito dado pelo fim das coligações proporcionais. Nomes solitários, bancadas menores, 16 partidos presentes. Teve perdas para quase todos os partidos. O eleitor quer mudanças, está insatisfeito, mas não enxerga claramente os postulantes como portadores das características que ele busca. Não é um sentimento de mudança com a mesma força de 2018, quando o próprio sistema político estava em xeque”, observa.

Distribuição por partido

No quesito ocupação, o PSB ainda concentra a maior parte dos assentos, apesar de ter perdido seis lugares na Câmara. Em 2016, o partido possuía 18 vereadores em exercício na Casa. O PP também chama a atenção ao se falar de diminuição no número de representantes que, em 2020, são quatro, mas eram nove em 2016. O partido perdeu nomes importantes para a sua representatividade, como Amaro Cipriano e Aline Mariano.

Para os parceiros PT e PSOL, não há tanta diferença nos números. O PT possuía dois assentos em 2016, e nessas eleições ganhou mais um, tendo agora três no número bruto, mas houve rotatividade. Jairo Brito se reelegeu, João da Costa saiu e Liana Cirne e Osmar Ricardo entraram.

Antes representando sozinho o PSOL, Ivan Moraes agora conta com Dani Portela. O PSOL totaliza dois assentos, que juntos, arrastaram 20.433 votos.

Para Lapa, a legenda sai ganhando pela forma que se posiciona, pois representa a possibilidade de novos caminhos e uma política, já tão centrada, mais diversa. E acrescenta: “O PSOL é uma das mudanças mais expressivas em termos qualitativos. Aumenta a bancada, tem a candidata mais votada e ganha em expressão e visibilidade”.

O MDB manteve o seu único assento, do reeleito Samuel Salazar. O PCdoB ganhou mais um, agora contando com o reeleito Almir Fernando e a novata, Cida Pedrosa. Já os partidos Avante, Solidariedade, Podemos, Democratas, Republicanos, PRTB, Pros e PSL ganharam os seus primeiros assentos na Câmara.

Considerando o segundo turno que decidirá o próximo prefeito do Recife, em 29 de novembro, a ocupação da Casa pode influenciar na gestão de cada um dos candidatos. Além de contar com 12 representantes do próprio partido, o PSB de João Campos totaliza 25 assentos na Câmara dos Vereadores, quando os eleitos puro-sangue são somados à coligação Frente Popular (PSB, PDT, PV, Rede, Republicanos, PSD, MDB, Avante, Solidariedade, PCdoB, PP e Pros).

Já a petista Marília Arraes, com a coligação Recife Cidade da Gente (PT, PSOL, PTC e PMB), conseguiu eleger cinco vereadores no total.

O quadro parece configurar uma desvantagem óbvia para Arraes, mas Priscila Lapa explica que, em nome da fluidez política e da descentralização de ações, o diálogo pode fazer parte e é incomum que a Casa insista em uma oposição inflexível. “Ser oposição não é vantajoso e existe uma tendência natural de configuração desses partidos”, pondera.

“É muito mais óbvio que João Campos tenha essa facilidade de formação da maioria, porque ele já a tem, então, teoricamente, esse esforço político ele teria poupado. Porém, isso não significa que Marília também não consiga realizar a sua gestão porque, historicamente, câmaras municipais aderem ao governo. Em casos muito raros se tem uma Câmara que passa o mandato inteiro como força de oposição. É muito difícil isso acontecer porque pela própria dinâmica do município, acaba que existe uma tendência natural de uma composição maior de situação, senão o vereador fica em uma posição de pouco poder e acesso de verbas direcionadas às suas bases”, argumentou, em finalização.

 

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